De janeiro a agosto de 1997, o casal de cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi realizou uma viagem exibindo curta-metragens brasileiros em praças públicas pelo interior do Brasil. Foram quase 15.000 quilômetros, numa viagem que começou em São Paulo, passou pelo sul da Bahia, Chapada Diamantina, rio São Francisco, sertão de Alagoas, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Tocantins e terminou na Amazônia, com uma sessão no assentamento do MST da Fazenda Macaxeira, onde houve o massacre da curva do S.
A viagem foi feita numa Saveiro que levava um projetor 16mm, uma tela de 1,80m X 2,20m, equipamento de som e um gerador. O Cine Mambembe passou por muitas comunidades que não tinham luz elétrica, inclusive algumas aldeias indígenas, como a dos pataxós na a Bahia e dos kraó, em Tocantins.
A maioria das pessoas assistiu ao cinema pela primeira vez. Muitas delas reviram o cinema após quase 30 anos, porque em diversas cidades o cinema fechou no começo da década de 70.
Com uma câmera de vídeo digital, eles documentaram a viagem. Fizeram entrevistas com as pessoas que viam cinema pela primeira vez e ao mesmo tempo mantinham um primeiro contato com o cinema brasileiro.
Além disso, a viagem tornou-se o encontro com um Brasil visceral, pouco conhecido, sem espaço na mídia e que quando é retratado, aparece sob o viés pré-concebido da miséria e da falta de articulação, como se fosse um país que não sabe falar e não tem vontades, existe apenas para figurar a piedade.
O documentário "Cine Mambembe, o cinema descobre o Brasil" revela um país surpreendente, articulado, capaz de refletir sobre o mundo, absorver o conteúdo dos filmes e referenciá-lo imediatamente na sua realidade.