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311Número de Fãs

Nascimento: 26 de Setembro de 1945 (77 years)

Falecimento: 9 de Novembro de 2022

Salvador, Bahia - Brasil

Gal Costa, foi uma cantora brasileira. Foi eleita como a sétima maior voz da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, em 2012. E ficou entre as 100 maiores cantoras (o) do mundo pela revista Rolling Stone Americana.

Maria da Graça Costa Penna Burgos (Gal Costa), filha de Dona Mariah Costa, sua grande incentivadora que, em entrevistas, conta que passou toda a gestação de Gracinha - nome como era conhecida antes da fama - ouvindo rádio. Cresceu no Bairro da Graça, em Salvador. Na adolescência, trabalhou na loja de discos do jornalista Roni. Através desse emprego, sabia de todas as novidades musicais da época e tornou-se fã da bossa nova. Desde criança, tinha o sonho de ser cantora. No início dos anos 60, conheceu o ídolo João Gilberto que, segundo depoimento registrado no encarte da coleção "História da Música Popular Brasileira", disse-lhe, após a primeira vez em que a viu cantar: "Você é a maior cantora do Brasil". Nessa mesma época, também conheceu Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Zé, Gilberto Gil, entre outros...

Estreou como cantora em junho de 1964, no show "Nós por Exemplo", que marcou a inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador, atuando ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Maria Bethânia, Djalma Correa, Alcivando Luz, Pitti, Fernando Lona e Gilberto Gil. Nesse ano, o grupo ainda apresentou, no mesmo teatro, o show "Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova".

Deixou Salvador para viver na casa da prima Nívea, no Rio de Janeiro, seguindo os passos de Maria Bethânia, que havia estourado como cantora no espetáculo Opinião. A primeira gravação em disco se deu no disco de estreia de Maria Bethânia (1965): o duo Sol Negro (Caetano Veloso), seguido do primeiro compacto, com as canções Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil; e Sim, foi você, de Caetano Veloso - ambos lançados pela RCA, que posteriormente transformou-se em BMG (atualmente Sony BMG) - gravadora à qual Gal retornaria em 1984, com o álbum Profana.

Em 1967, gravou seu primeiro LP, "Domingo", lançado no mesmo ano, pela Philips, que dividiu com o também estreante Caetano Veloso.

A partir de 1968, o produtor Guilherme Araújo, começou a empresariar a cantora, além de Caetano, Gil e Tom Zé, sugerindo a mudança de seu nome artístico de Maria das Graças para Gal Costa, um apelido que Gal tinha quando era pequena, mas era Gal com u. Seguindo uma tendência do movimento tropicalista liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, deixou o cabelo crescer e adotou um estilo mais agressivo no seu modo de cantar, contrário ao estilo bossa-novista que adotava, anteriormente. Foi assim que, nesse mesmo ano, defendeu a composição de Gilberto Gil e Caetano Veloso, "Divino Maravilhoso", no IV Festival de Música Popular Brasileira, recebendo a terceira colocação. Foi considerada, pela crítica da época, a musa do Tropicalismo, alcançando grande popularidade. No emblemático LP "Tropicália", também lançado em 1968, participou das faixas "Parque Industrial", "Hino do Senhor do Bonfim", "Mamãe Coragem" e "Baby". Essa última faixa havia sido composta por Caetano Veloso para Maria Bethânia gravar - inclusive foi ela que pediu ao irmão que fizesse uma música com esse nome, mas, como preferiu não participar do movimento tropicalista, deixou a gravação por conta da amiga. "Baby", que teve arranjo de Rogério Duprat, foi um marco em sua carreira. Dai em diante se tornou umas das maiores cantoras do Brasil.

Em 1968, apresenta o Programa ''Divino Maravilhoso”, ao lado de Gil e Caetano, que tem problemas com a censura, e dos filmes ''Bahia, Por Exemplo'' (1969), e ''Carnaval na Lama'' (1970).

Em 1969, saem dois discos importantíssimos na carreira da cantora ''Gal Costa'', que foi um enorme sucesso, com Gal ganhando capas de revista importantes na época e sucessos nas rádios e prêmios, dentre os sucessos as músicas Não Identificado, Saudosismo, ambas de Caetano Veloso; ''Namorinho de Portão'', de Tom Zé; ''Que Pena'' de Jorge Ben; ''Sebastiana'', de Rosil Cavalcanti, em que resgata o então esquecido e genial Jackson do Pandeiro; afinal esse era um dos mandamentos do tropicalismo, misturar o novo e resgatar que estava de escanteio pela mídia. O segundo disco foi ''Gal'', conhecido por muito como Gal Psicodélico, que traz os hits "Meu Nome é Gal" (Roberto e Erasmo Carlos) e "Cinema Olympia" (Caetano Veloso), e deste disco foi gerado o espetáculo ''Gal!''. Este disco figura até hoje como o registro mais radical já feito na história da música brasileira. O disco é considerado por muitos como o mais psicodélico, experimental e radical de toda a sua carreira, graças as influências gritantes que a cantora buscou de Janis Joplin e Jimi Hendrix em meio às guitarras raivosas e cortantes de Lanny Gordin e às mixagens sujas propositalmente. Neste álbum surgiu a primeira gravação da música: "Meu Nome é Gal", que os cantores e compositores Roberto Carlos e Erasmo Carlos fizeram especialmente para ela. Gal, de 1969 é o mais ousado disco da carreira de Gal Costa. Em nenhum outro momento a cantora repetiu o que ouvimos neste álbum. Gal, mais conhecido como o álbum psicodélico, a começar pela capa, com um desenho típico dos vôos sem céu do fim dos anos 1960. Na contra capa aparece uma imagem desfocada da cantora, com o seu cabelo “juba de leão”, já anunciando a sua fúria. O momento é de raiva. Seus amigos e companheiros da Tropicália, Gilberto Gil e Caetano Veloso, após a prisão em dezembro de 1968, seriam libertados na quarta-feira de cinzas de 1969, sendo escoltados até Salvador, de onde partiriam em Julho para o exílio em Londres. Gal Costa ficava sozinha com a sua raiva. Da menina bossa nova de “Domingo” (álbum de lançamento da sua carreira, em 1967) não resta nada. Suas interpretações e posturas, até então intimistas e contidas, tornam-se mais agressivas. A cantora junta-se a Jards Macalé e à guitarra de Lanny Gordin, o resultado é este álbum único, com apenas nove faixas, mas que não houve outro registro igual na música brasileira. Gal é literalmente gritante nas faixas “The Empty Boat”, de Caetano Veloso e “Pulsars e Quasars” de Capinam e Jards Macalé, esta última encerra o álbum e mostra a insatisfação da cantora com os acontecimentos políticos, que a transformam na última representante da Tropicália, a sua fúria é refletida nas distorções da guitarra ácida de Lanny Gordin, nos versos que chamam e clamam pelos amigos exilados:
“O inverso, um ser mutante universal
Meu ingresso para as touradas do mal
Dos sóis, Cá e Gil me mandem notícias logo
A sós, pulsos abertos, eu volto
Sem voz, ye ye, sem voz”

“Gal”, o psicodélico, é tropicalista? É. É rock?

Em 1970, depois de participar do curta metragem ''Meu Nome é Gal'', ela viaja para Londres para visitar Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados pela ditadura militar, e dessa viagem traz algumas músicas incluídas em seu disco seguinte, "Legal", cuja capa foi produzida por Hélio Oiticica. Do repertório desse trabalho fizeram grande sucesso as músicas "London London", de Caetano Veloso e "Falsa Baiana", de Geraldo Pereira. Em 1971 grava um compacto duplo importantíssimo em sua carreira, onde estão os grandes sucessos "Sua Estupidez", de Roberto e Erasmo Carlos e "Você Não Entende Nada", de Caetano Veloso. Nesse mesmo ano realiza um dos shows mais importantes da música brasileira, "Fa-Tal", dirigido por Waly Salomão e que gravado ao vivo gerou o disco que até hoje é considerado por muitos críticos como o mais importante de sua carreira, o "Fa-Tal / Gal a Todo Vapor", que traz grandes sucessos como "Vapor Barato" de Jards Macalé e Waly Salomão, "Como 2 e 2", de Caetano Veloso e "Pérola Negra", de Luiz Melodia. No Brasil da fase pós-AI-5, promulgado em 13 de dezembro de 1968, o endurecimento da ditadura deixou uma geração calada e sem rumo. Uma geração que passou pelos suspiros das contestações de 1968, pelo psicodelismo embriagante do roque do fim dessa década, pelas drogas, a Tropicália, o movimento Flower Power e pelo histórico espetáculo de Woodstock; essa mesma geração chega ao início da década de setenta mergulhada em um vazio e em uma lacuna deixada pelo silêncio de quem pensava e via as palavras caladas pela força bruta.

Essa geração sem heróis ou ídolos para exaltar e refletir o espelho de Narciso, encontra-se em 1971 com Gal Costa, que com a sua voz de sereia, estreava o show que seria o símbolo dessa geração: “Gal a Todo Vapor”. Nessa simbiose entre artista e público, a geração que ficaria para sempre conhecida como a do desbunde, faz do show um momento de fuga e sonho, de poder dizer não às convenções de uma sociedade de um país calado pela repressão, mas mutante em seus costumes. Do show surge o álbum duplo histórico “Fa-tal: Gal a Todo Vapor”. O disco, assim como "Werther" de Goethe, é arrebatado da cantora para se tornar o hino cultural da geração do desbunde. O disco tem e show tem várias faixas soberbas, mas é “Vapor Barato” de Jards Macalé e Waly Salomão, a canção que se irá tornar o hino oficial da Geração do Desbunde. A canção tinha sido lançada em compacto no início de 1971, em uma versão rock, totalmente diferente da versão ao vivo. A canção reflete essa juventude intelectualmente consciente do momento vivido, mas presa às limitações do regime e da droga. É na contestação da sexualidade imposta e do amor livre proposto que extravasam essas limitações. Os amores são fugazes, por isso vividos intensamente. Seguir à deriva dos sentimentos, partir sem olhar para trás em um navio ou outro veículo qualquer, sem as imposições do dinheiro, aqui novamente desprezado em relação aos sentimentos, visceralmente vividos. O disco é um dos mais emblemáticos e belos álbuns da MPB. O álbum é poesia underground, é marginal, de um existencialismo convulsivo. Fez parte de um movimento cultural que tomou o canto de Gal Costa como hino. Ver o show Gal a Todo Vapor na época e ouvir o disco era sinônimo de não ser careta, de pertencer a esse movimento.

Em 1973 grava o disco "Índia", dirigido por Gil, que traz os sucessos "Índia", de J. A. Flores e M. O. Guerreiro, com versão de José Fortuna, e "Volta", de Lupicínio Rodrigues, e desse disco faz outro show muito bem sucedido, também dirigido por Waly Salomão, "Índia". E para os cabeludos undergrounds que encheram a platéia do show, Gal Costa voltava mais uma vez renovada, em outra atmosfera além das limitações do desbunde e da contracultura. Com o fim do milagre brasileiro e a crise econômica mundial gerada pelo petróleo, os tempos já não eram de abundância, e a repressão cultural e ideológica era acirrada. Sem a fartura do milagre, desbundar já não era tão agradável para mascarar a falta de liberdade da ditadura. A morte do estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), reacende o movimento estudantil, é nesse clima que numa atmosfera folk-glitter o álbum “Índia” é lançado no segundo semestre. Gal Costa que naquele ano traz a sensualidade à flor da pele, faz um ensaio seminua na praia com Marisa Alvarez Lima, para a revista Pop. Sensual também é a capa do álbum “Índia”, com fotografias de Antonio Guerreiro, traz um close frontal de Gal Costa vestida com um pequeno biquíni vermelho, na contra capa a cantora aparece de seios nus, vestida como uma índia. A censura vetou a exposição da capa, o escândalo foi imenso e o disco foi vendido nas lojas dentro de um plástico opaco, azul, a esconder a beleza sensual das fotos, o produtor Menescal teve que ir aos sensores da época se explicar, a faixa “Presente Cotidiano” de Luiz Melodia, a música é proibida de ser executada em público (nas rádios), segunda censura sobre o álbum. Numa época de muita tortura, achar o corpo natural da cama era ofensivo para quem pensava em sangue, não em sexo. Talvez pela proibição, a canção não teve o impacto de “Pérola Negra”, mas traz uma Gal Costa visceral, provocadora.

Nesse mesmo ano de 73, participa do festival Phono 73, que gerou três discos, onde Gal gravou com sucesso as músicas "Trem das Onze" de Adoniran Barbosa e "Oração de Mãe Menininha" de Dorival Caymmi, em dueto com Maria Bethânia.

A Tropicália estava no seu auge, quando foi interrompida, em dezembro de 1968, pela prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso, depois exilados em Londres. Na época o movimento caminhava para uma fase psicodélica, cada vez mais voltada para o rock, como refletiu o álbum “Gal”, de Gal Costa, de1969 e em ''Fa-Tal'' de 1971. O exílio duraria de 1969 a 1972, quando primeiro retornou Caetano Veloso, depois Gilberto Gil. Havia uma imensa expectativa do público, dos críticos e dos curiosos, para uma possível retomada da Tropicália. Mas os tempos eram outros, e as carreiras do trio tropicalista tinham passado por várias fases.

A grande expectativa era ver novamente Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil juntos em um mesmo palco, que à exceção de uma apresentação de improviso, fora da programação, no festival da ilha de Wight, na Inglaterra, em 1970, e do grande evento do “Phono 73”, não acontecia desde os tumultuados idos de 1968. Quando voltaram do exílio, Gilberto Gil fez shows com Gal Costa e com Caetano Veloso, que por sua vez fez shows com Chico Buarque, além de um encontro histórico com João Gilberto e Gal Costa, em um programa de televisão que se deu pouco antes da volta de Londres, em 1971. Esta expectativa de ver os três juntos foi vislumbrada quando, em janeiro e fevereiro de 1974, foi gravada uma seqüência de shows individuais dos três cantores, em datas diferentes, feitas em um mesmo palco, no auge do verão, no Teatro Vila Velha, em Salvador, que se transformaria no álbum "Temporada de Verão – Ao Vivo na Bahia". A faixa “Acontece” de Cartola, tem uma interpretação cool de Gal Costa acentuando a melancolia de se esquecer da paixão pela estrada, e a dor de quem é esquecido. Com a gravação bem sucedida desta música por Gal Costa, o Brasil ganhou dois presentes: a belíssima interpretação da cantora e o primeiro disco gravado por Cartola, aos 65 anos de idade. O álbum “Cartola”, de 1974, produzido por Marcus Pereira, foi possível a partir desta redescoberta do mestre naquele verão da Bahia.

Em 1974, Gal grava um dos seus discos preferidos o disco "Cantar", dirigido por Caetano Veloso, que traz os sucessos "Barato total" de Gilberto Gil, "Flor de Maracujá" e "Até quem Sabe", ambas de João Donato e Lysia Enio e "A Rã" de João Donato e Caetano Veloso. Este álbum confirmava o que apenas tinha sido sugerido no Temporada de Verão, ou seja, uma Gal Costa contida, usando a emoção do canto, com lirismo e o cristal a voz, de forma que dava uma nova cor à Bossa Nova. Desse disco gerou o show "Cantar", que não foi bem recebido pelo público de Gal, por se tratar de um disco muito suave, contrastando com a imagem forte que a cantora criara a partir do movimento tropicalista. Cantar apresentou uma Gal Costa mais amadurecida e sofisticada nas interpretações, distanciada dos arroubos juvenis e dos cabeludos de então. E para quem ainda duvidava até onde ela poderia chegar, o coro da canção “O Céu e o Som” professava claramente:

“Quem foi que disse que essa mulher não voa?”

Em 2007, a revista Rolling Stone Brasil, colocou ''Cantar'', junto com ''Fa-Tal - Gal A Todo Vapor'' (1971); ''Tropicalia ou Panis et Circencis'' (1968); ''Gal Costa'' (1969); e ''Doces Bárbaros'', (1976), como um dos 100 melhores discos de todos os tempos.

Aliás 1974, foi um ano de intensa produção discográfica da cantora. Começou com o compacto lançado para o carnaval, que trazia as músicas “Sem Grilos” (Caetano Veloso – Moacyr Albuquerque) e “Acorda Pra Cuspir” (Haroldinho Sá), ainda sob a vertente do desbunde. Depois veio o lançamento do álbum Temporada de Verão – Ao Vivo na Bahia, com Caetano Veloso e Gilberto Gil, além do compacto com as canções “Saia do Caminho” (Custódio Mesquita – Ewaldo Ruy) e “De Amor Eu Morrerei” (Dominguinhos – Anastácia), sendo esta última gravada para fazer parte da trilha sonora da novela Os Inocentes, da TV Tupi. Ao contrário do primeiro compacto, estes dois trabalhos mostram Gal Costa totalmente distanciada do desbunde, trazendo um canto cool, que atingiria o seu apogeu com o álbum Cantar.

Em 1975, Gal faz imenso sucesso ao gravar para a abertura da telenovela da Rede Globo "Gabriela" a canção "Modinha para Gabriela" de Dorival Caymmi, aliás os realizadores da novela convidaram Gal para ser a famosa Gabriela, mas a cantora recusou, mesmo diante da insistência de Daniel Filho, declinou do convite, por não se achar uma atriz. Após intensa seleção, Sonia Braga, então atriz de papéis secundários na emissora, foi a escolhida para protagonista de “Gabriela”. Desse ano também é o sucesso "Teco teco" de Pereira da Costa - Milton Vilela, lançada em compacto. O grande sucesso da canção de Caymmi motivou a gravação do disco "Gal Canta Caymmi", lançado em 1976, que traz os hits "Só louco", "Vatapá", "São Salvador" e "Dois de fevereiro", todas de Dorival Caymmi. Com o grande sucesso da novela “Gabriela”, a Bahia ficou em grande evidência, tornando-se moda no país inteiro. Jorge Amado, Gal Costa e Dorival Caymmi tornaram-se os grandes protagonistas desse modismo. O resultado deste momento, foi um show histórico de Gal Costa e Dorival Caymmi, que percorreria apenas quatro cidades do país. O suficiente para que a química musical entre ambos contagiasse o Brasil. Estava lançada a semente para um encontro entre Gal Costa e Dorival Caymmi em um disco. Ainda no calor do sucesso de “Modinha Para Gabriela”, e do show que teve gosto de pouco, em dezembro de 1975, Gal Costa entrou em estúdio para gravar um disco só com canções de Dorival Caymmi. Em março de 1976 era lançado o mítico “Gal Canta Caymmi”, um dos mais belos registros musicais da essência baiana no cenário da MPB. O disco trouxe músicos como João Donato, Roberto Menescal e Dominguinhos, com quem a cantora já trabalhara anteriormente. “Gal Canta Caymmi” nasce do grito da Bahia milenar, folclórica, com sua eterna pulsação geradora de arte e de artistas. Começa com uma vinheta trazendo o toque dos tambores (infelizmente cortados da versão do LP para o CD). Em “Pescaria (Canoeiro)”, Gal, mostra o mar da Bahia, os pescadores de “Mar Morto” de Jorge Amado, a gente simples que vive do peixe pescado no recôncavo baiano. Gal Costa usa de seus agudos como nunca. O final é belíssimo, como o chamado de uma sereia. Os agudos da cantora contrastam com as ondas do mar baiano. Nesta canção Gal Costa mostra porque é uma das maiores vozes do Brasil. Técnica e emoção fundem-se, perdendo-se em agudos embriagantes. Outro clímax do álbum é atingido em “Só Louco”. Gal Costa faz uma interpretação intimista, solitária, lírica e definitiva, repleta de armadilhas sedutoras que prendem os ouvintes. A música foi escolhida pela Rede Globo para ser tema da abertura da novela “O Casarão”, de Lauro César Muniz. Devido ao sucesso da telenovela, torna-se a canção mais tocada nas rádios de todo o álbum, e também a mais conhecida, ganhando um clipe histórico no programa “Fantástico”.

“Gal Canta Caymmi” anulava a proposta cool de interpretação do álbum anterior, “Cantar”, para mostrar uma cantora que sabia mesclar emoção e técnica, dosar os agudos, ampliando as extensões de voz. Neste álbum, a interpretação intimista de “Domingo”, indomável na época da Tropicália e do desbunde, cool e elegante em “Cantar”, dá passagem para o domínio perfeito e maduro no canto de Gal Costa, pronta, finalmente, para interpretar qualquer fase ou estilo da MPB.

Nesse mesmo ano de 76, ao lado dos colegas Gilberto Gil, Caetano e Maria Bethânia, participa do show "Doces Bárbaros", nome do grupo batizado e idealizado por Bethânia, espetáculo que rodou o Brasil e gerou o disco e o filme Doces Bárbaros. O disco é considerado uma obra-prima; apesar disto, curiosamente na época do lançamento (1976) foi duramente criticado. Doces Bárbaros foi um dos mais importantes grupos da contracultura dos anos 70 e, ao longo dos anos, foi tema de filme, DVD, enredo da escola de samba GRES Estação Primeira de Mangueira em 1994

Em 1977, Gal lança o disco "Caras & Bocas", que traz os sucessos "Tigresa" e "Negro Amor", além da música homônima ao disco que Bethânia e Caetano escreveram para Gal. Desse disco gerou-se o show "Com a Boca no Mundo". O disco que tem músicas com conteúdo forte como ''Meu Doce Amor'', onde lança a então desconhecida Marina Lima e Tindoró Dindinha de Jorge Ben, que são lançadas a primeira no programa da Rede Globo Fantástico de maneira pungente e de maneira agressiva como a música pedia e a segunda em um compacto mais rítmica, mas no lançamento disco a gravadora, lançou com um ritmo mais dançante, o que incomodou a cantora.

Em 1978 Gal lança aquele que seria o primeiro disco de ouro de sua carreira, "Água Viva", que trouxe os sucessos "Folhetim" de Chico Buarque, "Olhos Verdes" de Vicente Paiva e "Paula e Bebeto" de Milton Nascimento e Caetano Veloso. Gal Costa dá, definitivamente, adeus ao título de cantora de vanguarda e musa do desbunde, ao lançar “Água Viva” (1978), confirmando as rupturas anunciadas em “Cantar” (1974) e adiadas em “Caras e Bocas” (1977), transformando-se em uma intérprete genuína de todas as fases da MPB, desvinculando-se do estigma de musa do Tropicalismo, sem perder as suas raízes. As mudanças acontecem na primeira faixa do álbum, “Olhos Verdes”, de Vicente Paiva, um antigo samba-exaltação sucesso de Dalva de Oliveira, que lhe renderia um clipe no programa “Fantástico”, da TV Globo. A música cai com perfeição à voz de Gal Costa e volta às paradas de sucesso. Nos florões da canção, a baiana faz uma homenagem à Dalva de Oliveira, ressuscitando a essência da cantora, lembrando-nos dos seus agudos inesquecíveis e fulminantes. Gal Costa excursiona pela primeira vez no universo de alguns grandes compositores, entre eles Chico Buarque, de quem ela era amiga e admiradora, e já tinha cantado ele apenas em shows. Sua estréia em disco no peculiar mundo feminino buarqueano é feita magistralmente com “Folhetim”, música tema de uma prostituta da peça “A Ópera do Malandro”. Gal Costa, então com 33 anos, estava no auge da sua sensualidade, rompendo de vez com a imagem agressiva do tropicalismo, trazendo um canto límpido. “Folhetim” encontra na interpretação da cantora toda a voluptuosidade necessária àquela que se entrega apenas por um bombom Sonho de Valsa. A canção jamais se desvinculou de Gal Costa, apesar de ter sido interpretada por vários ícones femininos da MPB, mas segundo o compositor a música foi para ela. Foi a partir de “Água Viva” que Gal Costa começou a escalada para o posto de cantora de grande público, passando a ser respeitada por todos como grande intérprete da MPB, mas jamais deixou de ser inquieta. E sem ares de grande dama. Nesse ano Gal faz uma participação no histórico disco da amiga Maria Bethânia “Álibi”, no samba “Sonho Meu” de Dona Yvone Lara e Délcio Carvalho, dueto histórico, que foi tocado em todas as rádios, o disco passaria de um milhão de cópias vendidas, sendo o primeiro disco de uma mulher a atingir esta marca no Brasil, um feito até então, exclusivo de Roberto Carlos. “Álibi” não foi revolucionário por sua estrutura musical, mas por derrubar de vez o estigma do elitismo da MPB, provando que qualidade e grande público poderiam caminhar lado a lado, e uma grande cantora poderia ir além de um público exclusivo. “Álibi” atingiu as grandes massas, fazendo com que o Brasil ouvisse MPB. A partir do sucesso deste álbum, outros cantores passaram a ser ouvidos e a ter os seus álbuns adquiridos por um grande número de pessoas.

Desse disco ''Água Viva'', surgiu o espetáculo "Gal Tropical", onde Gal Costa deu uma virada em sua carreira, mudando drasticamente de imagem, passando de musa hippie para uma cantora mais mainstream. O show "Gal Tropical" foi um imenso sucesso de público e crítica, e gerou o disco "Gal Tropical", em que Gal cantou alguns dos maiores sucessos de sua carreira, como "Balancê" de João de Barro e Alberto Ribeiro, "Força Estranha" de Caetano Veloso, ''Olha" de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, "Noites Cariocas" de Jacob do Bandolim que ganhou uma letra inédita de Hermínio Bello de Carvalho, além das regravações dos grandes sucessos "Índia" e "Meu nome é Gal". Esse disco representa a coroação de um grande sucesso, o show "Gal Tropical", que estreou no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, em 11 de janeiro de 1979. O próprio show já era a comemoração do sucesso do disco anterior, "Água Viva", e trazia grande parte do seu repertório. Porém o show superou as expectativas do público, não só pela mudança no repertório da cantora, mas também na mudança da imagem de Gal Costa. Até então vista apenas como roqueira pelo grande público, às vezes tachada de hippie cabeluda, Gal Costa entrava no palco do teatro bem vestida, de salto alto, tropical e sensual, chique como nunca fora anteriormente. Cantando como nunca um repertório essencialmente brasileiro. E o público finalmente se rendeu ao talento de Gal Costa. O show foi considerado o melhor do ano, e chegou a levar Gal Costa para a capa da revista "Veja". O sucesso foi imenso, e motivou a gravação do disco, que também foi um grande sucesso.

Outra façanha conseguida por Gal foi o maior sucesso do disco, a marchinha "Balancê". Lançada por Carmen Miranda em 1937 para o carnaval, a marchinha não teve repercussão e acabou ficando esquecida. Pesquisando o repertório da Pequena Notável, para incluir algumas de suas canções no show, Gal e Guilherme Araújo escolheram "Samba Rasgado" e "Balancê". No carnaval de 1980, "Balancê" estourou, e a gravação de Gal Costa superou a original (o que em se tratando da extraordinária Carmen Miranda, realmente é uma façanha). João de Barro, o autor da música, ao ouvir a gravação de Gal no rádio levou inclusive um grande susto, pois não sabia da regravação e reconheceu a sua composição da qual nem ele mesmo mais se lembrava, e fez o autor chorar de alegria. "Balancê" na sua segunda gravação, 42 anos depois, foi salva do esquecimento por Gal Costa e se tornou um dos clássicos da história do carnaval brasileiro. Embora Gal já tivesse gravado alguns frevos anteriormente, com "Deixa sangrar"(1970), "Estamos aí" (1972) e "Acorda pra cuspir"(1973), entre outras, apenas com "Balancê" Gal estourou no setor carnavalesco, tornando-se porta voz dos maiores sucessos de carnaval nos anos seguintes, a última grande intérprete da música do carnaval carioca após a Era de Ouro do rádio que se encerrou em 1970 com o sucesso de "Bandeira Branca", na voz de Dalva de Oliveira, muito antes do estouro comercial de Daniela Mercury, Margareth Menezes e Ivete Sangalo, nesse ano de 1979, Gal, faz uma participação na novela de enorme sucesso da Rede Globo ''Dancin' Days'', ao lado da amiga Sônia Braga, além de ser uma das estrelas do programa histórico ''Mulher 80'', também da Rede Globo, um desses momentos marcantes da televisão. O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas, com Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Angela Ro Ro...

Em 1980, Gal gravou o disco "Aquarela do Brasil", focado na obra do compositor Ary Barroso, e que trouxe hits como "É Luxo Só" de Ary Barroso e Luiz Peixoto, "Aquarela do Brasil", "Na Baixa do Sapateiro", "Camisa Amarela" e "No Tabuleiro da Baiana" (todas de Ary Barroso), pois naquela época as gravadoras obrigavam o artista a gravar um disco por ano, como o show Gal Tropical alcançou até o estrangeiro, não tinha como Gal procurar músicas inéditas, para um próximo repertório, mas Gal acertou em cheio o disco "Aquarela do Brasil" foi um sucesso.

Em 1981, Gal estreou o show "Fantasia", um grande fracasso de crítica, mas que gerou um dos mais bem sucedidos discos de sua carreira, tanto de público quanto de crítica, o premiado "Fantasia", que trouxe vários sucessos, como "Meu bem meu mal", "Massa Real" (ambas de Caetano Veloso), "Açaí", "Faltando um pedaço" (ambas de Djavan), "O Amor" (Caetano Veloso - Ney Costa Santos - Vladmir Maiakovski), "Canta Brasil" (David Nasser - Alcir Pires Vermelho) e "Festa do interior" (Moraes Moreira - Abel Silva). Com o grande sucesso do disco, Gal convidou Waly Salomão para dirigir o show "Festa do Interior" que a redimiu do grande fracasso do show "Fantasia". Waly, com seu toque de Midas na carreira de Gal, modificou a estrutura do show, mas manteve boa parte do repertório, embora tenha feito modificações também no roteiro do show. O show deu certo, e após a estréia do Maracanãzinho, Rio, em 30 de janeiro de 1982, Gal pode excursionar por todo o Brasil divulgando seu disco novo, e com imenso sucesso. O show foi oficialmente encerrado com uma apresentação em Brasília, na ocasião do XX aniversário da capital federal, cantando para um público estimado em 300 mil pessoas. O LP, ganhou Disco de Ouro, só com os pedidos antecipados dos lojistas e nos primeiros meses o Disco de Platina. um mês depois de LP nas lojas. A ser mantido o mesmo pique de venda, Fantasia fechará o mês seguinte de janeiro com 400 mil cópias. O repertório de Fantasia deixou tonto os programadores de rádio.

Em 1981 em seu especial produzido e exibido na Rede Globo no programa ''Grandes Nomes'', o show foi marcado por interpretações poderosas de Gal, nas músicas "Olhos Verdes", "Meu Nome É Gal" e "Força Estranha", porém os críticos disseram que o que ficou na história do especial foi então duelo de titãs de Gal e Elis Regina, e foi então também, o encontros de duas divas populares além de uma aula de musicalidade das duas, com certeza um encontro notório e notável. Nessa participação; Gal começa cantando "Amor Até o Fim", música que fazia parte da discografia das duas, e ao meado da canção chega a Elis Regina, fazendo um dueto com a Gal, logo após Elis canta uma música recém lançada sua ''Aprendendo a Jogar'', e após mais dois duetos "Ilusão À Toa", e "Estrada do Sol". Além disso também teve um outro encontro histórico de revisitar o repertório de Grande Otelo, na música "No Tabuleiro da Baiana", música gravada originalmente por Carmen Miranda e depois regravada por ele e Eliana Macedo em 1952 dessa vez foi interpretada por ele e a Gal numa interpretação bem humorada dele e dela, em que emocionou a cantora.

Originalmente idealizado para a montagem do ballet teatro do Balé Teatro Guaíra (Curitiba, 1982), o espetáculo O Grande Circo Místico foi lançado em 1983. Gal Costa integrou o grupo seleto de artistas da MPB que viajaram pelo país apresentando o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais, para uma plateia de mais de duzentas mil pessoas, em quase duzentas apresentações. Gal Costa interpretou a canção A História de Lili Braun, musicado pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo. O espetáculo conta a história de amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século, Gal, também fez parte do disco histórico ''O Grande Circo Místico''. Nesse ando lançou o disco ''Baby Gal'', que também resultou num show de grande sucesso, e num especial da Rede Globo. A crítica elogiou bastante o show que Gal saiu excursionando pelo Brasil todo, e apontou a interpretação de "Lili" como o grande momento do espetáculo.

Em 1984, lança "Profana", este foi o primeiro disco de Gal Costa a ser lançado pela gravadora RCA, depois incorporada pela BMG. Logo de cara, a música "Vaca Profana" foi censurada, talvez por trazer na letra a palavra "tetas"... Novamente um rosário de sucessos onipresentes nas rádios, puxados pela balada "Chuva de Prata", uma inusitada parceria entre o poeta Ronaldo Bastos e Ed Wilson, um dos compositores atuantes na Jovem Guarda. Mas também foram grandes hits a versão para o sucesso de Stevie Wonder, "Lately", transformada também por Ronaldo Bastos em "Nada Mais", uma das mais brilhantes interpretações da carreira de Gal Costa. Somente essa gravação é suficiente para jogar por terra a fama de cantora puramente técnica e fria, que alguns mais afeitos ao canto derramado de cantoras como Maria Bethânia, Nana Caymmi ou mesmo Elis Regina acabaram criando. Gal Costa mostrou nessa música o que é cantar com emoção e com técnica, num equilíbrio perfeito entre as duas coisas. Também grandes sucessos foram a própria "Vaca Profana", que meses depois foi liberada, e mais uma vez seus sucessos para Carnaval (uma marchinha lançada por Aurora Miranda, irmã de Carmen, "Onde Está o Dinheiro") e São João (um pot-pourri de músicas de Jackson do Pandeiro) com participação especialíssima de Luiz Gonzaga.

Depois do disco e show "Fa-Tal / Gal a Todo Vapor" (1971), o poeta baiano Waly Salomão dirigiu Gal Costa nos shows "Índia"(1973) e "Festa do interior" (1982), mas só voltou a trabalhar numa gravação da cantora em 1985 com o disco "Bem Bom". Prometendo um trabalho moderno, antenado com os novos tempos, "uma injeção de Tina Turner", como ele mesmo definiu, Waly criou junto com Gal um dos discos mais bem sucedidos de sua carreira em termos comerciais. E, realmente, "Bem Bom" foi um disco muito moderno na época, reunindo compositores habituais de Gal, como Chico Buarque, Gonzaguinha, Djavan e Milton Nascimento com outros de linguagem contemporânea, como Marina Lima, Cazuza, Celso Fonseca, o próprio Waly e acima de todos o paulista Arrigo Barnabé, líder da Vanguarda Paulistana, movimento surgido no início da década de 80. Para esse disco, Roberto e Erasmo Carlos escreveram uma espécie de continuação de "Meu Nome é Gal", o rock "Musa de Qualquer Estação", outra homenagem explícita à personalidade de Gal. Outra pérola do disco, composta especialmente para Gal é "Último Blues", do filme "A Ópera do Malandro". Uma curiosidade é que esse é o primeiro disco da cantora sem nenhuma música composta por Caetano Veloso, com exceção de "Gal Canta Caymmi" e "Aquarela do Brasil", que eram songbooks de Dorival Caymmi e Ary Barroso. Porém, Caetano comparece cantando com Gal a música "Sorte", um dos hits do discos. Porém, apesar da qualidade do repertório, o disco ficou marcado historicamente exatamente pelo que poderia ser considerado o ponto desfavorável, uma canção composta pela popularíssima dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas, "Um Dia de Domingo", cantada em dupla com Tim Maia, que se tornou o maior sucesso do disco. Hoje, toda vez que algum crítico quer apontar defeitos na obra da cantora aponta exatamente essa canção, e por tabela todo o disco, que justiça seja feita, é excelente em repertório, arranjos e interpretação, fazendo jus a todos os trabalhos feito em conjunto por Gal Costa e Waly Salomão.

A década de 80 transformou Gal Costa na primeira dama da música popular brasileira. Tornou-se recordista de vendas e de público. A cantora mergulhou numa roda viva que culminou com o estrondoso sucesso do álbum “Bem Bom” (1985), no Brasil e no exterior. Após este sucesso contínuo, indo na contra-mão da roda viva e da imagem de pop star, Gal Costa tirou o ano de 1986 para dar uma lufada naquela década que lhe sorria e tragava no ápice do sucesso. Na sua inquietante carreira, 1987 foi marcado pelos encontros musicais com Tom Jobim, ano do antológico encontro da dupla em show no mítico Wiltem Theatre, em Los Angeles, que ficaria registrado no álbum “Rio Revisited”, lançado no exterior em 1987, no Brasil só chegaria em 1992. Este ano de silêncio discográfico de Gal Costa, o primeiro da década, trouxe uma grande expectativa. Crítica e público esperavam ansiosos o novo álbum da cantora, curiosos de ver o seguimento da sua carreira. É neste contesto que, em 1987, é lançado o álbum “Lua de Mel Como o Diabo Gosta”. O álbum reflete uma fase de paixão na vida particular de Gal Costa, como se estivesse em lua de mel com os sentimentos, a deliciar-se com os prazeres da paixão. No auge dos vocais e dos agudos, ela encerraria a década com aquele que seria o seu álbum mais incompreendido, o que sofreu o amargo desprezo da crítica. Mas “Lua de Mel Como o Diabo Gosta”, ao contrário do que se imaginou na época, mostrou-se um disco que sobreviveu aos anos 80, e mesmo com arranhões de um repertório excessivamente romântico para o que se esperava da inquieta Gal Costa, musa de todos os movimentos que dilaceraram os costumes no país, chegando aos tempos atuais sem o mínimo traço de ser um registro datado. A capa do álbum vinha provocativa, ousada, em que a cantora aparecia de costas, a fumar, com uma toalha a esconder os cabelos, a transpirar sensualidade dentro de uma piscina. Quem se atreveria a mostrar as costas na capa de um álbum? A ousadia não terminava na capa do disco, já na primeira faixa o tom é altíssimo, os agudos parecem selvagens, com uma ave tropical, é “Arara” (Lulu Santos), o disco todo é cantando é um tom mais alto do de costume, como soubesse que a crítica não fosse gostar do disco. Gal Costa tem aqui o controle perfeito dos seus agudos e do canto, sabe até onde ir ou se expor. A voz está no auge do domínio técnico, mas a momentos de delicadeza, existencialismo e sensualidade em algumas canções. Na verdade o que a crítica não perdoou foi um disco de Gal Costa com três canções de Lulu Santos, na época visto como o eterno garotão surfista que debutava pela MPB. Visto à distância, o que faltou ao álbum? Quem pôde ver o show sabia. No show Gal Costa cantava “O Ciúme” (Caetano Veloso), música lançada por Caetano Veloso naquele ano, levando a plateia ao delírio, e foi justamente uma música de Lulu que foi o hit do disco a pop ''Lua de Mel''.

Em 1988, Gal grava com grande sucesso a música "Brasil" de Cazuza, Nilo Romero e George Israel, para a abertura da telenovela da Rede Globo ''Vale Tudo''.

Após três anos sem nenhum lançamento, Gal Costa se uniu a Waly Salomão (direção) e Léo Gandelman (produção musical) para realizar a gravação do "Plural", uma perestroika na carreira de Gal, segundo Waly. Essa definição do poeta baiano se deve ao fato de que o disco anterior, "Lua de Mel Como o Diabo Gosta", foi muito mal recebido, mas "Plural", Waly Salomão buscou sintonizar a cantora com o que havia de mais novo na MPB, e o que havia de novo em 1990 era... Axé Music, mas aqui com tons mais africanos. Antes do estouro de Daniela Mercury e da própria criação do termo Axé Music, Gal Costa mergulhou fundo no ritmo do samba-reggae, muito antes da moda atingir o sul do país e a música baiana se diluir num caldo ralo, comercial e popularesco de ritmos. Da nova música baiana, Waly selecionou dois hits locais, um do Olodum, o pot pourri que reúne "Salvador não Inerte" e "Ladeira do Pelô" e outro do grupo Muzemza, "Brilho de Beleza", uma belíssima homenagem a Bob Marley, e acompanhando Gal nas duas gravações a percussão pesada do grupo Raízes do Pelô, uma das bandas de percussão da época, que era na realidade uma dissidência do Olodum. Completando o cardápio baiano, Gal gravou uma composição inédita de Carlinhos Brown, "Zanzando", então um compositor pouco conhecido, mas que já tinha emplacado pelo menos um sucesso: "Meia Lua Inteira", gravada por Caetano Veloso também em 1990. Porém, a perestroika proposta por Waly para Gal não incluiu apenas música baiana. No cardápio de "Plural" temos também o pop de Marina Lima ("Eu Acredito"), a poesia concreta de Arnaldo Antunes mesclada ao suingue de Jorge Benjor, na inusitada "Cabelo", a mistura das poesias de Waly e Antônio Cícero com a musicalidade marcante de João Bosco na agressiva "Holofotes", e claro, Caetano Veloso, compositor mais gravado por Gal, em "A Verdadeira Baiana" e "Nua Idéia", parceria com o maestro João Donato. A regravação de um samba de João de Barro, gravado por Carmen Miranda e Sílvio Caldas, num dueto entre homem e mulher, mas que Gal, ícone da revolução sexual brasileira, faz as duas partes. Dois standards norte americanos, "Begin the Beguine" e "I didn't know what time it was". Porém, o grande sucesso do disco foi justamente a gravação de um sucesso nacional do cantor Anísio Silva, "Alguém me Disse", que incluída na trilha sonora da novela "Tieta" tornou-se um grande sucesso de execução em rádios. O espetáculo "Plural" redimiu Gal Costa do show anterior, o show foi um sucesso de público e critica, o show, cuja temporada se estendeu por mais de um ano, foi levado ao exterior, inclusive na "Noite Brasileira" do Festival de Montreaux.

O disco "Gal", de 1992, recupera uma parte do repertório do show "Plural", que havia sido um grande êxito de crítica e público. Do disco, 7 (sete) músicas haviam sido apresentadas no show: "Cordas de Aço", "Rumba de Jacarepaguá", Feitio de Oração", "Coisas Nossas", "Tropicália", "Saudação aos Povos Africanos" e "Revolta Olodum". O restante do disco acabou seguindo a linha conceitual proposta em "Plural", mesclando sonoridades baianas com a fina nata da MPB. Porém o disco foi realizado sem a participação de Waly Salomão, idealizador do "Plural", sendo produzido por Marcos Mazzola, o que acabou causando um desentendimento entre Gal e Waly, que acusava a cantora e o produtor de utilizarem suas ideias sem os devidos créditos para ele, apesar do encarte do disco fazer menção ao show e ao seu diretor e relacionando as músicas apresentadas no espetáculo. Tanto ''Plural'' quanto ''Gal'', ganharam prêmios da critica especializada.

À parte, a rusga entre a cantora e o poeta (que posteriormente foi sanada), o disco, assim como o anterior, é uma verdadeira jóia, com Gal Costa apostando tudo na qualidade de seu canto. Entre os grandes momentos do disco o dueto de voz e piano entre Gal Costa e Tom Jobim no clássico "Caminhos Cruzados". Tocando violão na maioria das faixas aparece o nome do violonista Marco Pereira, então marido da cantora, que o havia conhecido durante o show "Plural". Inicialmente, o violonista que acompanhava Gal Costa era Raphael Rabello, mas ele teve que deixar o show e indicou Marco, que acompanhou Gal durante todo o restante da turnê, é que também participaria no disco seguinte da cantora, todo composto de inéditas de Caetano, Gilberto Gil, Jorge Benjor e Djavan.

Em 1993, Gal lançou o premiado disco "O Sorriso do Gato de Alice", produzido por Arto Lindsay. Desse disco gerou-se o show de mesmo nome, com direção de Gerald Thomas, que causou polêmica por Gal cantar a música "Brasil" com os seios nus. "O Sorriso do Gato de Alice" foi um dos discos de Gal Costa que mais críticas positivas recebeu em seu lançamento. "O Sorriso do Gato de Alice" foi um disco surgido após um período de problemas pessoais na vida de Gal Costa, que perdera a mãe, "Dona Mariah, e se separara do marido, o violonista Marco Pereira. O momento vivido pela pessoa Maria da Graça Costa Penna Burgos, levou a artista Gal Costa a buscar uma ruptura estética em seu trabalho, com um disco inovador e um show polêmico. Mas o show foi premiado tanto pela APCA, quanto pelo Prêmio da Música Brasileira (antigo Prêmio Sharp). Porém, após esse trabalho, Gal Costa acomodou sua decantada inquietação e ousadia, podendo ser considerado "O Sorriso do Gato de Alice", a última grande ousadia artística de Gal Costa até 2010, quando lançou o ousado Recanto.

Em 1994, reuniu-se com Gil, Caetano e Bethânia, na quadra da escola de samba Mangueira, para o show "Doces Bárbaros na Mangueira", que comemorou os 18 anos dos Doces Bárbaros, e ambos foram homenageados pela escola de samba, com o inesquecível enredo ''Atras Da Verde-E-Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu''.

Gal continuou lançando discos de sucesso como ''Mina d'Água do Meu Canto'' (1995); ''Tieta - Trilha Sonora do Filme, com Caetano Veloso'' (1997); ''Acústico MTV'' (1997); ''Aquele Frevo Axé'' (1998); ''Gal Costa Canta Tom Jobim'' (1999); ''Gal de Tantos Amores'' (2001); ''Gal Bossa Tropical'' (2002); ''Todas as Coisas e Eu'' (2003); ''Hoje (2005)''; ''Ao Vivo'' (2006); ''Live at the Blue Note'' (2006). A trilha do filme "Tieta do Agreste", foi a primeira trilha nacional que ganhou um Disco de Ouro; o Acústico MTV, foi um dos grandes sucessos de vendas da cantora, tanto o disco quanto o DVD, o disco duplo em homenagem a Tom Jobim, apesar de mal recebido pela crítica, foi um sucesso de vendas. Em 2001, foi incluída no Hall of Fame do Carnegie Hall (única cantora brasileira a participar do Hall), após participar do show "40 anos de Bossa Nova", em homenagem a Tom Jobim, ao lado de César Camargo Mariano e outros artistas.

Gal Costa andou relativamente silenciosa nos últimos cinco anos. Desde ''Hoje'', de 2005, não voltou mais aos estúdios para gravar um álbum inédito, apenas fez vários recitais de voz & violão apresentado (ocasionalmente) por Gal Costa no Brasil e no exterior de 2006 até 2011.

Em 2011, para surpresa de todos voltou com um disco totalmente renovador, produzido e composto por Caetano Veloso, ''Recanto''." O Caetano para mim é muito importante por tudo que a gente viveu e conviveu", Gal começa. "Por tudo que ele compôs, tantas músicas que ele fez para mim, direcionadas a mim, falando para mim. Eu adoro as canções de Caetano. Ele é o compositor que melhor escreve para mim, para a minha voz, para mim mesmo. A gente tem uma identificação musical. Neste momento, Caetano fazer este trabalho comigo é maravilhoso. É muito importante historicamente e emocionalmente." Disse Gal sobre o seu grande amigo.

Caetano, propulsor da ideia há um ano e meio, quando pela primeira vez contou a Gal do novo projeto, explicou que a vontade deste álbum nasceu de pensar na história da presença de ambos na música e na história da própria música brasileira. "Gal tem uma qualidade de emissão vocal muito especial e um papel histórico muito importante, e as duas coisas estavam relativamente subvalorizadas nos últimos tempos", reflete. "Tenho necessidade de ter uma visão histórica mais equilibrada, e isso me pareceu como uma necessidade para mim mesmo e tenho certeza que para os outros também. Então fiquei com desejo de fazer o repertório e produzir um disco todo para Gal. Me interesso muito por fazer este disco agora, para reequilibrar a visão histórica."

Em dezembro de 2011 lança o álbum "Recanto", produzido por Caetano Veloso e Moreno Veloso. Álbum com arranjos eletrônicos idealizado por Caetano Veloso, Moreno Veloso e Kassin. Elogiadíssimo pela crítica, foi eleito o melhor álbum de 2011.

Depois de sete anos longe de disco e show inéditos, Gal Costa estreou a turnê do elogiado álbum Recanto no Rio de Janeiro. Com direção de Caetano Veloso, autor de todas as músicas do CD, o show inaugurou a sofisticada casa de shows, à beira da lagoa Rodrigo de Freitas, Miranda. No repertório, além de canções inéditas como “Neguinho”, “Segunda”, Tudo Dói” e “Miami Maculelê”, sucessos da carreira da cantora, entre eles, “Divino Maravilhoso”, “Um Dia de Domingo”, “Baby, “Meu Bem, Meu Mal”, “Modinha pra Gabriela”, “Força Estranha” e “Vapor Barato”, e canções que há muito ela não cantava, como “Da maior importância” e “Mãe”. No palco, Gal estava acompanhada pelo trio Domenico Lancellotti (bateria e MPC), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno Di Lullo (baixo e violão). O show seguiu em turnê pelo país e pelo exterior, como Portugal, Holanda, Israel, Itália e terminou na Festa Literária de Paraty em 2014, seguido de um último show no Uruguai. Desse show nasceu também o elogiado disco ''Recanto Gal Ao Vivo'' (2013).

No segundo semestre de 2014, Gal lança o elogiadíssimo show ''Espelho d'água'', título extraído da canção homônima que ganhou dos irmãos Camelo, e resgata antigos sucessos como "Sua Estupidez", "Tuareg", "Caras e Bocas" e "Tigresa". Nesse ano ainda foi lançado em CD e LP o registro de um show que Gal e Gil, fizeram em Londres em novembro de 1971, gravado em estéreo diretamente da mesa de som no Student Centre da City University London, "Live in London '71". O repertório inclui muitas músicas do show Fa-tal' que estreara um mês antes no Rio. Um destaque do disco é a enérgica gravação ao vivo de Acauã, onde Gal e Gil cantam juntos.

Em 2015, Gal Costa realizou uma turnê em homenagem ao centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues (1914-2014). Idealizado pelo cantor, compositor e produtor musical J. Velloso e produzido por Mauricio Pessoa, o show "Ela Disse-me Assim," foi dirigido por J. Velloso e e pelo jornalista Marcus Preto, aliás esse último, se tornou um Fênix, na carreira da cantora, juntos ele e Gal, iriam dali em diante apresentar para o público discos e shows elétricos, desde O Sorriso do Gato de Alice de 1993.

No fim de maio é lançado o disco'' Estratosférica'', comemorando seus cinquenta de carreira, recheado de compositores novos como Céu, Criolo, Artur Nogueira, Malu Magalhães, e antigos colegas como Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Tom Zé, Guilherme Arantes e João Donato. Com direção também assinada por Preto. O disco foi premiado tanto pela APCA, quanto pelo Prêmio da Música Brasileira (antigo Prêmio Sharp).

Em 2017, saí o CD e DVD, “Estratosférica ao Vivo” , que não é apenas o registro de um show de Gal Costa. É, mais ainda do que isso, o retrato da artista ao alcançar os 70 anos de vida, 50 deles dedicados à música. Com direção geral de Marcus Preto e produção musical de Pupillo (Nação Zumbi), o espetáculo estreou no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia, em 27 de setembro de 2015, o dia seguinte ao aniversário da cantora. A gravação do álbum ao vivo aconteceu quase dois anos depois, nos dias 23 e 24 de junho de 2017, na Casa Natura Musical, em São Paulo. A direção do DVD é assinada por Joana Mazzucchelli (Polar Filmes). “Estratosférica ao Vivo” marca a chegada de Gal Costa à gravadora Biscoito Fino. O show “Estratosférica” coroa a nova fase artística de Gal, cada vez mais interessada em ligar várias pontas da história da música do Brasil, unindo os compositores de sua geração a nomes da nova cena nacional. A sonoridade foi cuidada para potencializar esse desejo. A cantora havia gostado muito do ambiente ora roqueiro, ora bossa-novista construído para ela pelo mesmo núcleo criativo em um espetáculo que fizera poucos meses antes, sobre o repertório de Lupicínio Rodrigues. Assim, quando ensaiavam o que viria a ser o “Estratosférica” ao vivo, o pedido que veio da cantora não deixava margem para desvios: “Não quero nada careta, quero um show bem rock’n’roll”.

No dia 25 de novembro e 2017, o Multishow exibiu, ao vivo, Gal Costa, Gilberto Gil, e Nando Reis juntos no show da turnê "Trinca de Ases", que também virou um CD e DVD em 2018. Neste mesmo ano de 2018, lançou o elogiado CD, ''A Pele Do Futuro'', a sonoridade do álbum busca remeter ao estilo musical Soul e Disco da década de 1970. As canções de trabalho foram "Palavras No Corpo", "Sublime" e "Cuidando De Longe", e o título do álbum é retirado da letra da canção "Viagem Passageira".

Em 2019, lançou o elogiado show ''A Pele do Futuro'', com direção musical de Pupillo e direção geral de Marcus Preto, que virou um CD duplo e DVD. O início visceral com “Dê Um Rolê”, de Moraes Moreira e Galvão, gravada também pela própria cantora na década de 70, mostra bem a roupagem que temos durante o novo trabalho, sem descaracterizar as músicas e dando ainda mais beleza para uma artista que desde o ótimo Estratosférica (2015), assimila influências contemporâneas ao seu consagrado e inconfundível estilo no estúdio e nos palcos. O final do show é pra cima, é pura festa, sem perder o fôlego, dando uma volta no tempo, fechando, com precisão, um setlist digno de todos os aplausos, com a sequência “Bloco Do Prazer/Balancê/Massa Real/Festa Do Interior”. Fomos agraciados com cerca de uma hora e meia de bom gosto musical e uma cantora que mostra, acima de tudo, o prazer de estar nos palcos e o cuidado com cada escolha que compõe um dos melhores shows e discos daquele ano. Gal Costa é definida com sabedoria nos versos que Nando Reis escreveu: “A filha de todas as vozes que vieram antes. A mãe de todas as vozes que virão depois”.

Se você está se perguntando sobre a voz de Gal, ela está lá, devidamente adaptada para a realidade de sua idade. Não paira sobre as músicas como se fosse uma entidade divina, mas é capaz de preencher espaços e achar novas nuances para canções imortais. “A Pele do Futuro ao Vivo” é uma sucessão de belezuras imperdíveis.

Em 2021, Gal lançou o Disco e CD, ''Nenhuma Dor'', este foi o presente de aniversário que Gal Costa deu ao ouvinte quando ela mesma estava completando 75 anos de idade. Uma das cantoras mais importantes da história da música nacional, cuja carreira atravessou cinco décadas – até hoje – conseguiu ser aprovada no teste do tempo e chega docemente marcada pelo passar dos anos. A voz não é a mesma, mas ainda tem muitos méritos, força e virtudes. A jovialidade na postura, nas escolhas e nas realizações, segue presente e, mais que tudo, o talento só fez crescer ao longo desses anos. Gal e o diretor musical Marcus Preto pensaram neste formato de álbum – com regravações e duetos com cantores homens – por conta de vários fatores, inclusive da dolorida Coronavírus. Era uma forma de abreviar o trabalho em estúdio, usando composições que já eram conhecidas e não precisariam de grande tempo de elaboração e finalização. Os duetos foram gravados à distância, digitalmente, com vários dos cantores escolhidos fazendo toda a parte de produção e execução. De fato, isso encurtou os caminhos e deu a “Nenhuma Dor” um conceito bacana, fresco e adequado. Entre os convidados que agradaram a crítica foram Rodrigo Amarante, Jorge Drexler, Tim Bernardes e Zé Ibarra. É bom que se saiba: nenhuma dessas versões são superiores aos registros originais, mas todas, sem exceção, são muito bem executadas e certamente servirão para apresentar Gal ao público de seus companheiros nas interpretações. Brilham intensamente Jorge Drexler, que divide “Negro Amor” e Tim Bernardes, cuja interpretação em “Baby” é de rasgar o peito de emoção. As duas canções são marcas registradas seríssimas da carreira de Gal e recebem aqui duas releituras muito belas e dignas. Certamente, junto com “Avarandado”, são os melhores momentos do álbum. No final desse ano fez o show de grande sucesso ''As Várias Pontas de uma Estrela'', dirigido por Marcus Preto – alinhavado a partir da obra de Milton Nascimento.

DISCOGRAFIA DE GAL COSTA
1967: Domingo, com Caetano Veloso.
1968: Tropicalia ou Panis et Circencis, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé...
1969: Brasil Ano 2000 - Trilha Sonora do Filme, com Gilberto Gil
1969: Gal Costa
1969: Gal
1970: Legal
1971: Fa-Tal - Gal a Todo Vapor ao Vivo
1973: Índia
1974: Cantar
1974: Temporada de Verão na Bahia, com Caetano Veloso e Gilberto Gil
1976: Doces Bárbaros, com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia
1976: Gal Canta Caymmi
1977: Caras & Bocas
1978: Água Viva
1979: Gal Tropical
1980: Aquarela do Brasil
1981: Fantasia
1982: Minha Voz
1983: Baby Gal
1983: Gabriela - Trilha Sonora do Filme, com Tom Jobim
1984: Profana
1985: Bem Bom
1987: Lua de Mel Como o Diabo Gosta
1990: Gal Plural
1992: Rio Revisited, com Tom Jobim
1992: Gal
1993: O Sorriso do Gato de Alice
1995: Mina d'Água do Meu Canto
1997: Tieta - Trilha Sonora do Filme, com Caetano Veloso
1997: Acústico MTV
1998: Aquele Frevo Axé
1999: Gal Costa Canta Tom Jobim ao Vivo
2001: Gal de Tantos Amores
2002: Gal Bossa Tropical
2003: Todas as Coisas e Eu
2005: Hoje
2006: Gal Costa Ao Vivo
2006: Live at the Blue Note
2011: Recanto
2013: Recanto Gal Ao Vivo
2014: Live in London '71 Gal & Gil
2015: Estratosférica
2017: Estratosférica - Ao Vivo
2018: Trinca de Ases - com Gilberto Gil e Nando Reis
2018: A Pele do Futuro
2019: A Pele do Futuro ao Vivo
2021: Nenhuma Dor

ALGUNS PRÊMIOS DA CANTORA:
1968: TROFÉU IMPRENSA : REVELAÇÃO pelo disco ''TROPICÁLIA''
1969: TROFÉU IMPRENSA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL COSTA''
1977: PRÊMIO VILLAS LOBOS: MELHOR CANTORA pelo disco ''CARAS E BOCAS''
1978: PRÊMIO PLAYBOY DE MÚSICA: MELHOR CANTORA pelo disco ''ÀGUA VIVA''
1979: APCA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL TROPICAL''
1979: PRÊMIO VILLAS LOBOS: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL TROPICAL''
1980: PRÊMIO PLAYBOY DE MÚSICA: MELHOR CANTORA pelo disco ''AQUARELA DO BRASIL''
1981: PRÊMIO PLAYBOY DE MÚSICA: MELHOR CANTORA pelo disco ''FANTASIA''
1981: APCA: MELHOR CANTORA pelo disco ''FANTASIA''
1982: TROFÉU IMPRENSA: MELHOR CANTORA pelo disco ''MINHA VOZ''
1984: TROFÉU IMPRENSA: MELHOR CANTORA pelo disco ''PROFANA''
1985: TROFÉU IMPRENSA: MELHOR CANTORA pelo disco ''BEM-BOM''
1987: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''LUA DE MEL DO JEITO QUE O DIABO GOSTA''
1990: APCA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL PLURAL''
1990: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL PLURAL''
1990: APCA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL PLURAL''
1992: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL''
1993: APCA: MELHOR CANTORA pelo disco ''O SORRISO DO GATO DE ALICE''
1993: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''O SORRISO DO GATO DE ALICE''
1994: APCA: MELHOR SHOW ''O SORRISO DO GATO DE ALICE''
1994: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR SHOW ''O SORRISO DO GATO DE ALICE''
1995: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''MINA D'ÀGUA DO MEU CANTO''
1997: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: MELHOR CANTORA pelo disco ''ACÚSTICO MTV''
1999: PRÊMIO MELHORES DO ANO DOMINGÃO DO FAUSTÃO: MELHOR CANTORA pelo disco ''GAL COSTA CANTA TOM JOBIM"
2001: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA: CONJUNTO DA OBRA
2011: PRÊMIO À EXCELÊNCIA MUSICAL GRAMMY LATINO PELO CONJUNTO DA OBRA
2012: PRÊMIO MULTISHOW MELHOR SHOW ''RECANTO''
2013: PRÊMIO CONTIGO! DE MELHOR CANTORA DE MPB pelo disco ''RECANTO GAL AO VIVO''
2014: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA POP / ROCK: MELHOR CANTORA pelo disco ''RECANTO GAL AO VIVO''
2016: PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA POP / ROCK: MELHOR CANTORA pelo disco ''ESTRATOSFÉRICA''

Em 2012, Gal Costa foi eleita a 7º maior voz da música brasileira de todos os tempos, pela revista Rolling Stone.

Cônjuge: Marco Pereira (de 1990 a 1993)
Filho: Gabriel Costa Penna Burgos

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