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Naomi Kawase

Nomes Alternativos: Naomi Sendo | Naomi Sento | 仙頭直美

299Número de Fãs

Nascimento: 30 de Maio de 1969 (54 years)

Nara - Japão

Para uma mulher japonesa de 23 anos, tudo era imenso, menos o silêncio. O mundo estava ali fora, a ser deflagrado por seu olhar cheio de dúvidas. Perguntas pipocavam em sua cabeça: por que o abandono do pai? Por que a opção da mãe pela adoção? Por que o não-amor no ventre da mulher grávida, por que o pai nunca ligou? Por que a família não pode existir como tal, como tantas famílias japonesas? E, para destampar sua coragem incomum, ela liga ao pai e sussurra numa voz baixinha e tímida: “Mr. Yamashiro?” “Meu nome é Naomi Kawase”. Ao que ele responde: “Você é Naomi?” Assim é “Embracing” (1992), seu primeiro filme curto, experimental, em 16mm. Uma câmera incomum investiga a natureza e a natureza dos seus próprios sentimentos pelo pai desconhecido, que se revela através de sua voz em primeira pessoa.

Ali nascia Naomi, a cineasta.

Para uma cultura fechada na ideia do coletivo, do impessoal e do respeito às tradições, Naomi desejou intensamente o individual, o particular, o privado, e rompeu. Expôs suas feridas, seus desconfortos, suas indecisões estéticas, seu desapego. Apresentada aqui está a trilogia “Katatsumori” (1994), “Ten, Mitake” (1995), “Hi Wa Katabuki” (1996). Nela mostrará em primeiro plano sua mãe adotiva – sua tia-avó, a mulher que se dispôs a amá-la. Ela a observa de tão perto, como se tivesse nascido naquele momento, depois dos 20 anos. Mas não deixará de questioná-la, atormentá-la, interrogá-la. E ainda dirá que não superou a dor do abandono. Assim também é “Kya Ka Ra Ba A”, já em 2001. Naomi prossegue, o pai está morto. Precisa superar… Mas, como? Tatua um desenho como o do pai nas costas inteiras, chora de dor e, nua, se filma correndo na natureza. Não há limites para sua determinação. Em “Tarachime” (2006) ela fechará um ciclo: filma o parto de seu filho (numa sequência inacreditável), morre sua mãe adotiva.

Num exercício inteligente e preciso, ela mostra que o cinema é seu aliado e o domina.

Sua primeira ficção é “Suzaku” (1997) – a história de uma família numa vila nas belas montanhas de sua terra natal, Nara. Filma em 8mm as pessoas comuns das aldeias, como parte integrante de sua narrativa ficcional, mostra as tantas faces do homem japonês do campo. Das mulheres, sempre tão comportadas, caladas, sorridentes. O abandono e o descaso, ainda estão lá como tema. Ganha com “Suzaku”, o seu primeiro prêmio importante: o Caméra d’Or, em Cannes, exclusivo para novos diretores. Com “Hotaru” (2000), seu cinema ficcional emociona até a crítica cinematográfica mais acadêmica.

Kawase não gosta do termo documentário e prefere usar o termo memória. Talvez porque sempre esteve no limite entre gêneros e, de certa maneira, não se preocupou com isso. Talvez porque seus documentários, todos eles, tratem intensamente de questões subjetivas. Assim é “Tsuioku No Dansu”. O amigo, o crítico e editor Kazuo vai morrer e ela está lá presente com suas perguntas infindáveis, observando a sua despedida do mundo. Pede a Kazuo que faça um Haikai, ele espera pela terceira frase e, improvisando, se compara a uma folha já amarelada de outono que como ele vai cair. Inevitavelmente. Naomi é incansável no olhar. Ela diz: “Faço filmes para deixar algo. Algo que prove que eu estou viva. Filmo porque quero viver.”

Kawase voltará à questão do luto em “Shara” (2003) – filme no qual atua como a mãe grávida do filho que se esvanece – e em “Mogari no Mori” (2007). Mogari quer dizer o luto e aquilo que vem depois do luto. Dois personagens que se encontram pela dor vivem uma espécie de catarse ritualística na floresta. Com este filme, Kawase se consagra em Cannes, ganhando o Grand Prix do Júri do festival.

“Nanayomachi” (2008) é o filme no qual, pela primeira vez, Naomi sai do Japão e filma na Tailândia. É homenageada em Cannes em 2009 com o Carrosse d´Or pelo conjunto de sua obra e apresenta nova versão para “Hotaru”.

As conquistas de Kawase são como uma grande vitória daquilo que interessa ao cinema: arte, poesia, experimentação, subjetividade. Tantas perguntas nos seus filmes se resumem em algo fundamental: como expressar? como fazer do cinema território de um domínio altamente estético? Independente, incontestável em sua autonomia.

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