O Castelo de Noelte é composto inteiramente baseado nas sensações. A neve, as fumaças, os ambientes fechados, os seres humanos assustadores e a impossibilidade de sobrevivência para um quase agrimensor que é contratado para um serviço que não é precisado e que busca o castelo para falar com seu chefe, colocam em cheque a noção da capacidade de adaptação da obra de Kafka. Enquanto que é comum se utilizar de uma forma apolínea ou surrealista para composição dessas obras, fazendo com que todos os elementos ou estejam compostos em uma ordem cartesiana e simétrica ou caoticamente oníricas, Noelte se utiliza de um realismo preciso, impressionante, torto, turvo, cheio de dobras, deslocando Kafka numa tradição do escritor da palavra e retirando-o da lógica do não-dito, do implícito. Feito ainda na década de sessenta, logo depois da adaptação de Welles, Noelte consegue uma tensão um tanto rara quando se pensa nas narrativas kafkianas.