A estratégia do caracol (1993)

Título original: La estrategia del caracol

Título em inglês: The strategy of the snail

País: Colômbia

Duração: 1 h e 45 min

Gêneros: Comédia, drama

Diretor: Sergio Cabrera

IMDB: www.imdb.com/title/tt0109747/


Sinopse: Moradores de um dos bairros mais pobres de Bogotá lutam para evitar o despejo da casa onde moram, a Casa Uribe, que pertence a um milionário sem escrúpulos. Passando por cima de juízes, policiais e advogados, eles traçam um plano espetacular, dirigido por Jacinto, um velho anarquista espanhol. A luta contra os especuladores e corruptos parece ser perdida antes de começar, mas os vizinhos estão dispostos a fazer o possível em busca de respeito e dignidade.


Começo com um questionamento: qual é a estratégia do caracol?

A resposta automática que vem à mente é algo no sentido de que ele carrega a sua casa nas costas, pois é a principal peculiaridade desse animal. Metaforicamente, o filme em tela desenvolve sua história fazendo analogia a tal estratagema do reino animal e concedendo essa característica às ações de um determinado grupo de pessoas, numa clara utilização do realismo mágico (ou fantástico) em sua narrativa. Trata-se de um heterogêneo coletivo unido por dois objetivos: um material, a casa, e outro humano, a busca da honra e dignidade. A alegria de viver do grupo, a despeito de todas as dificuldades, dá um tom otimista à visão da pobreza no terceiro mundo e confere uma camada de desmistificação e profundo senso de humor para os discursos sobre mudanças sociais e lutas de classes. Temos uma lição de vida, que, ao passo que diverte, também emociona e nos faz refletir.

Posso definir “A estratégia do caracol” como uma realidade utópica, pois mistura ingredientes que remetem a sérios problemas sociais, não só na Colômbia, mas em boa parte do mundo, e, ao mesmo tempo, desenvolve um argumento tão surreal que desperta o interesse pelo absurdo e põe o espectador na torcida pelo grupo de inquilinos. A abordagem hiperbólica sempre joga a favor do filme, que, em momento algum, perde a sua estreita ligação com a realidade, criando questões de grande importância social, como as duras condições de vida das grandes cidades, divididas em bairros ricos e pobres, zonas ricas e industrializadas e áreas subdesenvolvidas, ou a subordinação do poder aos mais sombrios interesses da economia capitalista, representados, na história, pelo proprietário do imóvel: um playboy insuportável.

Gostei da abordagem utilizada para desenvolver a narrativa: seis anos após os eventos que são dramatizados no filme, um morador da Casa Uribe, que adora contar histórias, dá uma entrevista sobre uma desocupação em curso e fala sobre o despejo de que foi vítima e testemunha ocular. Isso concede um viés de lenda popular ou mito ao acontecimento principal do filme. É interessante notar também que, a princípio, o entrevistado conta o episódio da desocupação da casa ao lado, a Casa Pajarera, que ficou marcado pela resistência armada de seus inquilinos, inclusive com a morte de uma criança. Tudo isso para destacar a desnecessidade do uso de armas de fogo e a perspicácia dos moradores da Casa Uribe através do plano levado a cabo. Vale destacar as características dos moradores e a interação entre eles. Personagens díspares em vários sentidos, que compartilham um espírito de união, solidariedade e humanidade, impulsionam o plano mirabolante à frente, mesmo sendo idealmente impossível executá-lo em um prazo exíguo, que é arduamente aumentado com a ajuda de um postulante a advogado, chamado de Perro Romero, também morador da casa. Há uma junção entre legalidade e sagacidade para a concretização da tal real ilusão planejada que é o objeto principal da narrativa. Não vou descrever o plano para evitar spoillers, apesar de ele estar subentendido no título do filme. Melhor deixar essa surpresa oculta, para intensificar a curiosidade e as emoções do espectador.

Em um típico filme que mistura personagens de classes sociais distintas e, por conseguinte, interesses diferentes, há nada mais que uma representação simbólica do embate eterno entre ricos e pobres, que sempre vai existir nas sociedades, enquanto perdurar o capitalismo exacerbado que impera no mundo. A aventura delirante dos pobres moradores da Casa Uribe nada mais é do que uma luta da fé contra o capital, que, juntamente com a determinação das pessoas, pode mover montanhas, desde que haja união – potencializada por algum tipo de organização e/ou planejamento.

A união faz a força, mesmo que os caracóis sejam lentos e carreguem muito peso nas costas!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

1 comentário Adicione o seu

  1. Fernando Coelho disse:

    Filme muito bom, com uma temática muito atual, pelo menos aqui em Portugal, onde as casas estão com preços cada vez mais proibitivos e só ao alcance de alguns.

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