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  • Foto do escritorMessias Adriano

Céu Aberto (Cielo Abierto) | Crítica


Modelagem 3D na igrejinha

É apenas o trote de cavalos que escutamos sem ver nenhuma imagem na abertura de Céu Aberto. Depois disso, acompanhamos um longo plano de batendo de alguém batendo com ferramentas em uma grande rocha. O slow cinema do diretor peruano Felipe Esparza logo mostra as garras na introdução.


A linguagem experimental se funde à documental em um filme que, ao contrário do que poderia se imaginar, não é hermético de significados, apesar de aberto a interpretações variadas. Vemos no filme claramente o ritual de pai e filho em oposição: um acorda, liga o computador imediatamente. O outro acorda, mexe no gato. Um vai trabalhar em uma igreja com uma câmera fotográfica. O outro vai trabalhar na pedreira, uma das vezes carregando uma grande cruz.


É a pedreira? Não, é um programa de computador do filho.

Essa repetição faz sentido para a narrativa. O pai Johnny precisa de paciência para quebrar aquelas grandes pedras em pequenas. Assim como o filho precisa de paciência para transpor a arquitetura barroca da igreja em fotogrametria (grosso modo, técnica que consiste em tirar várias fotografias de um local para “imitá-lo” virtualmente).


Essa contraposição misturada com conexão entre pai e filho que nunca se encontram continua. Um apoia o retrato da esposa falecida com pedras, o outro se sente confortável apenas em limpar e proferir algumas palavras no túmulo. Um sente fisicamente, toca as pedras com o tato, arranha com as unhas, cutuca o estofado do banco da igreja com os dedos. O outro segue imerso pela representação digital dos locais, inclusive da igreja. Apesar da aparente oposição, pai e filho estão, de certa forma, conectados em seus ofícios e em seus dramas, que descobrimos à medida que o filme se desenrola.


As pedras com as quais o pai trabalha estão em toda parte: nos muros das residências, nas paredes do quarto e também na igreja que o filho visita. O dourado trabalhado artisticamente esconde que tudo ali era silhar, pedra tosca. E as pedras estão na igreja não só fisicamente, mas também como representação virtual, visto que a própria forma do programa de modelagem 3D que o filho utiliza também lembra propositalmente a pedreira em seu formato e cor: grandes montanhas brancas e disformes esperando para serem trabalhadas. Antes de criar forma, tudo é bruto, inclusive no mundo virtual e representativo. Dentre as oposições que o filme apresenta e trabalha, há ainda o contraste imagético entre o clássico e o moderno, como na cena de um drone voando dentro da igreja barroca.


drone voa em meio a obras barrocas.

Dessa forma, Céu Aberto é um filme de contrastes, mas também de semelhanças. Um filme duro, mas também tenro em seus dramas. Uma obra sobre pessoas que podem estar mais conectadas do que parecem inicialmente estar, que utiliza a linguagem experimental de forma elegante para contar sua história.


 

Nota: 4/5


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