Ida

Revisitar o passado pode ser doloroso. Nossas histórias pessoais são firmadas em acontecimentos que envolvem família, amigos, conhecidos, amores e desamores, que, independente do grau de relevância, ajudam a construir nossas vidas. Em Ida, o passado traumático de Anna, manchado pelo legado e horrores do Holocausto, é desvendado de modo conciso e empolgante, numa linha narrativa simples e brilhantemente dirigida.

A história dura e sofrida de Anna (Agata Trzebuchowska), criada por freiras após ser abandonada pela família durante a Segunda Guerra Mundial, pode ser vista na fragilidade e inocência do rosto dela. Acostumada ao dia a dia de trabalhos domésticos no convento, Anna sai de seu mundo fechado e solitário quando, instruída pelo convento a visitar o último membro vivo de sua família antes de realizar seus votos, conhece sua tia Wanda (Agata Kulesza). Após conhecê-la, ela descobre a história conturbada de sua família - para protegê-la durante a Segunda Guerra, os pais de Anna a deixaram com outra família quando ainda era bebê - e que também é judia e seu nome de batismo é Ida.

Com essa revelação, tia e sobrinha partem numa viajem em busca de resolução para a história de Ida. Observamos a relação e aproximação das duas e o antagonismo de suas personalidades enquanto tentam descobrir onde os pais de Ida foram enterrados. A personalidade forte e grosseira da tia, uma ex-promotora do Partido Comunista que leva uma vida desregrada pela bebida, cigarros e relações casuais com diversos homens, é contraposta a de Ida, que procura se distanciar dos males que o mundo secular oferece.

Os desejos reprimidos, a história de vida complicada e a pressão sofrida na igreja fazem com que Ida se  isole e sinta-se desconfortável com o contato e afeto de outras pessoas. A representação desses sentimentos vai além do mostrado na tela. O diretor Pawel Pawlikowski utiliza planos abertos de um modo delicado e elegante, criando composições que forçam os personagens para a parte inferior da tela e deixam expostos o céu cinza e as paredes com blocos de cimento, dando a impressão de aumentar a sensação de opressão que eles sofrem, além de utilizar uma fotografia em preto e branco incrivelmente linda, que não abusa do contraste e combina perfeitamente com a atmosfera do filme. Pawlikowski também é inteligente ao optar por planos estáticos - tirando nossa atenção da movimentação da câmera - que nos transportam para o drama de cada momento vivido por Ida. A razão de aspecto mais quadrada, 1.37:1, também ajuda a aumentar a sensação de confinamento, principalmente nas cenas dentro do convento.

Ida funciona como um road movie minimalista que prefere explorar momentos em vez do plot principal. Essa abordagem minimalista que mostra fé e sofrimento lembra os filmes de Robert Bresson e Ingmar Bergman, que também conseguiam colocar em seus personagens todo o peso de seus passados e explorar profundamente suas vidas.

Para descobrir quem é e poder concluir esse capítulo desconhecido de sua vida, Ida é lançada num mundo estranho e doloroso, que exige um crescimento pessoal que ela não tinha e atitudes que ela não estava preparada para tomar. A tragédia vivida por sua família a ajudou a descobrir o seu lugar no mundo, mesmo que ele ainda seja livre de compaixão e simpatia por sua história. 

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