Goodnight Mommy

Filmes de horror tendem a percorrer caminhos que já conhecemos. Em alguns casos, descobrir qual será o desfecho da trama não é uma tarefa difícil, enquanto outros poucos apostam em uma narrativa diferenciada e não abordam o gênero convencionalmente. Este é o caso de Goodnight Mommy. Escrito e dirigido pelas austríacas Severin Fiala e Veronika Franz, o longa deixa de lado os sustos fáceis, uma trilha sonora que estraga o suspense, as tramas genéricas, a violência desnecessária, e eles constroem um filme que extrapola o horror. Abordando um tema simples e de fácil identificação, usam a relação entre mãe e filhos em um exercício narrativo que nos deixa aflitos mais pelo inusitado que pode acontecer no próximo minuto do que pelo que vemos na tela no momento.

Os irmãos gêmeos Lukas e Elias (Lukas e Elias Schwarz) vivem com a mãe (Susanne Wuest) numa casa grande, isolada em frente a um lago, e se comportam como duas crianças normais, correndo e brincando. A mãe, que acabou de passar por uma cirurgia facial e mantém o rosto inteiramente enfaixado, pede aos dois que se comportem, não façam barulho e a ajudem durante o período de recuperação. No entanto, o afeto e carinho que pareciam existir entre eles foram trocados por um tratamento frio e silencioso por parte da mãe. Sem explicação, ela não fala com Lukas e o ignora completamente. Conforme os dias passam, o jeito que ela os trata se torna mais cruel, então os irmãos começam a desconfiar de que aquela não é a mãe deles e decidem descobrir onde ela está e quem é aquela mulher.

A narrativa precisa e calculada de Fiala e Franz faz de Goodnight Mommy um filme extremamente eficiente ao mostrar para sua audiência os motivos que levam os irmãos a desconfiarem da identidade da própria mãe e, ao mesmo tempo, a deixa numa dúvida inquietante em relação às decisões que os garotos tomam para descobrirem o que querem. O comportamento da mãe também nos deixa em dúvida sobre o seu real papel nessa situação, pois algumas de suas atitudes não fazem sentido. As cenas em que ela finge dormir para evitar a presença dos filhos ou quando anda nua pela floresta dão um toque de incerteza ao seu personagem. Apesar de os garotos agirem como crianças normais, eles também apresentam um comportamento estranho em determinados momentos, seja criando insetos nojentos, explorando uma caverna com ossos humanos, seja colocando um gato morto dentro de um aquário no meio sala. Esse comportamento dos personagens confere uma estranheza a atmosfera do filme, deixando de lado os sustos e os clichês do gênero.

Com o avançar do filme, a relação entre mãe e filhos se intensifica e nos coloca numa situação desconfortável. O fato de os garotos amarrarem a mulher na cama e exigirem que ela prove ser mãe deles nos força a enxergá-los de um jeito diferente. No entanto, os planos utilizados pelo diretor de fotografia Martin Gschlacht dão pistas ao espectador mais atento sobre o que pode estar acontecendo entre eles, mas o roteiro bem construído e estruturado “brinca” com o espectador até o final. Além disso, os três atores conseguem atribuir profundidade aos seus personagens e desafiam nosso entendimento e confiança em relação as suas intenções. O comportamento uma hora frio e agressivo da mãe muda completamente quando se vê encurralada pelos próprios filhos. Os dois garotos se unem, mas ameaçam fraquejar em determinados momentos.

Assim como o conterrâneo austríaco Michael Haneke fez em Violência Gratuita, Severin Fiala e Veronika Franz nos colocam dentro de uma casa com uma família que é o centro de alguma situação extrema e nos tornamos reféns de suas atitudes. Com uma atmosfera mais hostil do que aterrorizante, Goodnight Mommy é um exemplo de como utilizar o horror de um modo inteligente e eficaz.

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