Sexta-feira, 3 Maio

6 perguntas a Sergei Loznitsa, realizador de «No Nevoeiro»

“Tive uma ótima experiência com o festival de Curtas de Vila do Conde”

Na azáfama de Cannes, edição de 2012, já decorria a entrevista com o Sergei Loznitsa quando chego. Mas ainda a tempo de falar com ele sobre Vila do Conde…

O que o motiva a voltar atrás na História e rever certos temas, como o período da 2ª Guerra Mundial?

Sim, é um tema que me fascina e sobre o qual tenho trabalhado com vários dos meus documentários. Mas este é ligeiramente diferente.

Acha que ainda existem homens como os que vemos no filme com este tipo de valores morais?

Não é bem isso. A nossa civilização mudou a nossa posição no mundo. Dou um exemplo simples. Quando apanhamos um avião, passamos por um sistema de segurança. E se eles suspeitam de alguma coisa, podem revistar-nos. Não posso imaginar o meu avô a deixar que alguém estranho o tocasse. Provavelmente, ou dava-lhe um sopapo ou desafiava-o para um duelo. Essas pessoas já não existem. Outro exemplo. Imagina o Rei de Inglaterra a ser revistado por serviços de segurança no aeroporto? A partir do momento em que permitimos ser revistados, assumimos que somos suspeitos. Porque razão permitirei esta situação? É claro que existe uma explicação, mas para os meus avós não existirá esse argumento. Eles tratariam da sua própria segurança. É a civilização de hoje que nos coloca nesta posição.

As situações também são diferentes…

Sim, os tempos são diferentes. Por exemplo, há 200 anos atrás, o Holocausto não teria sido possível. Poderiam existir eventos como a Noite de Cristal, em que centenas de judeus foram assassinados. Mas para matar seis milhões de judeus teriam de levar seis anos. Só uma civilização moderna poderia construir uma máquina de extermínio capaz de produzir esse extermínio.

Também em ficção percebemos que continua perto do documental. Sente que necessita de regressar a esse género.

Por acaso estou a preparar um documentário em Portugal, a norte do Porto. É um filme pequeno, uma curta metragem, ‘O Milagre de Santo António‘, que me foi pedida pelo festival de Vila do Conde por ocasião da comemoração do seu 20º aniversário.

Já lá esteve antes. Gostou da sua experiência em Vila do Conde?

Tive uma ótima experiência com o festival de Curtas de Vila do Conde. Têm mostrado os meus filmes e eu fui um dos quatro realizadores a receber a comissão para fazer um filme para o seu aniversário.

Como descreveria esse projeto?

Há uma feira em que as pessoas levam os seus animais domésticos para serem abençoados por um padre. Foi isso que quis mostrar em ‘O Milagre de Santo António‘.

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