Crítica – Bright (2017)


O mundo seria o mesmo se elfos e orcs vivessem entre os humanos?


 

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Em 1997, a Netflix surgiu nos Estados Unidos como uma locadora de filmes em DVD com entrega pelos correios. Com uma filosofia vanguardista, em 2007, o serviço passou a oferecer a opção de streaming de filmes e séries. A partir daí, expandiu sua atuação para diversos mercados internacionais. Percebendo que iria se tornar refém dos grandes estúdios ao tentar fechar acordos para exibição de conteúdo, a empresa logo decidiu investir em material original. Foi assim que surgiu o sucesso House of Cards, a primeira série Original Netflix.

Com outros serviços de streaming surgindo e se fortalecendo, a Netflix se viu forçada a continuar atualizando o catálogo. Eis que em 2015 é lançado Beasts of No Nation, filme aclamado que rendeu o prêmio de Melhor Ator a Idris Alba no Screen Actors Guild Awards.

E a guerra no mundo do streaming está só começando. Além de lutar contra as provedoras de TV a cabo, esse ano a Disney anunciou a criação sua própria companhia de transmissão online para 2019 e comprou a Fox. Assim, ela retirará seu conteúdo da Netflix reduzindo drasticamente o catálogo da pioneira no ramo.

De lá para cá, estrearam filmes como Okja, Shimmer Lake, The Ridiculous 6, Mascots, Rebirth, The Fundamentals of Caring, Death Note e tantos outros, além das já tradicionais séries e dos documentários e shows de stand-up. Essa expansão abarcou os mais diversos públicos e incluiu nomes de peso em seu catálogo para conquistar novos assinantes. O resultado das obras, no entanto, como em qualquer outro estúdio, nem sempre é positivo. Agora, chegou a vez de Will Smith em Bright.

O filme é dirigido por David Ayer (Fury, Suicide Squad) que vem de uma má fase após a fraca recepção de Esquadrão Suicida (2016) por parte da crítica especializada. Muitos estavam curiosos em saber se o diretor, ao receber maior liberdade criativa, iria se sair bem. Infelizmente, não é o caso.

O filme se passa em uma Los Angeles de um universo paralelo no qual humanos convivem com seres da fantasia como orcs, fadas e elfos e itens mágicos como varinhas são artefatos cobiçados por todos. A história apresenta dois policiais, o orc Nick Jakoby interpretado por Joel Edgerton (Ao Cair da Noite, O Grande Gatsby) e o humano Daryl Ward vivido por Will Smith (Hitch, Eu Sou a Lenda), que não se dão bem por uma questão racial – os orcs sofrem preconceito dos humanos. Mas eles devem deixar as diferenças de lado ao se depararem com uma seita que quer trazer de volta um mal milenar.

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O orc Jakoby não se encaixa na sociedade

A premissa parece ser bem confusa ao misturar filme policial com fantasia e comentários sociais e a obra não consegue combinar as temáticas e termina não agregando em nada. Apesar de tentar criar um paralelo bem explícito e infantilizado da questão racial entre orcs, humanos e elfos com o preconceito entre brancos e negros, o roteiro falha nesse ponto ao explicar a origem do conflito. O preconceito racial do mundo real não tem fundamento lógico. No filme, fala-se que, no passado, orcs se aliaram ao Senhor das Trevas, o mal milenar, e por isso sofrem segregação. Mesmo essa geração sendo 2000 anos mais nova do que a que causou todas as atrocidades, é incabível a comparação.

O roteiro ainda apela para o brega em passagens como “se você agir como meu inimigo, você se torna meu inimigo”. Uma tentativa, logo no início, de criar uma conversa casual entre os protagonistas enquanto eles saem do ponto A para o ponto B, como em Pulp Fiction, não funciona e produz uma cena embaraçosa. O filme nunca decide qual tom quer seguir e termina por não exercer bem nem a comédia, nem o drama em potencial e nem a ação. A fantasia ainda faz parecer que a obra foi pensada parece ser um filme-família, mas os diálogos e a violência contradizem esse conceito.

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Comédia? Ação? Muito papo furado e cenas arrastadas

A montagem do filme derrapa em todas as cenas de ação, uma vez que torna confusa a localização espacial dos elementos em cena e dificulta o espectador na hora de acompanhar os movimentos dos personagens e as reações a eles. Uma cena em particular na qual Will Smith atira contra outros policiais não faz sentido emocional algum ao usar a câmera lenta e uma canção mais lenta. A fotografia e o design de produção parecem preguiçosos e várias sequências poderiam se encaixar muito bem em Esquadrão Suicida tamanha a semelhança entre as obras. Na verdade, Bright parece reciclar ideias e conceitos de arte descartados pelo filme dos vilões da DC. Lucy Fry (Academia de Vampiros: O Bejo das Sombras), a atriz que faz a elfa Tikka, nada mais é do que uma versão piorada da Arlequina. A estrutura do roteiro, inclusive, é a mesma. A cena da batalha final remonta o momento dos vilões contra Magia em diversos aspectos.

A direção de arte ainda peca ao criar criaturas muito semelhantes aos humanos tanto fisicamente como no jeito de se vestir, de falar e de agir. Orcs vivem nos guetos e ouvem heavy metal. Elfos aparecem fazendo compras em centros comerciais. Esse universo paralelo, apesar de ter histórias e criaturas completamente diferentes da nossa Terra, incrivelmente conseguiu manter costumes e culturas idênticos aos nossos.

Nem mesmo as atuações do sempre carismático Will Smith e Joel Edgerton, que mesmo atrás de uma maquiagem pesada consegue exprimir emoção, conseguem salvar o filme. Noomi Rapace em pouco tempo de tela também entrega uma atuação competente.

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Noomi Rapace e a sua varinha mágica

Por fim, a obra, apesar de se explicar diversas vezes, criou uma mitologia rasa e sem sentido que confunde a cabeça do espectador que busca algo a mais. Elementos desconexos só provam que não houve cuidado ao pensar nesse universo e toda a equipe, com exceção dos atores, não estava muito preocupada em fazer um bom trabalho.

Nota:

Nota 2.0 (Muito Ruim)

Muito ruim


Data de Lançamento: 22 de dezembro de 2017
Estreia no Brasil: 22 de dezembro de 2017
Direção: David Ayer
Duração: 118 Minutos
Elenco:  Will Smith, Joel Edgerton, Noomi Rapace, Lucy Fry, Édgar Ramírez, Ike Barinholtz
Gêneros: Fantasia, Policial, Ação
Nacionalidade: EUA


 

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