Apesar do título patético, “Deus tem AIDS” é um bom filme

Quarenta anos após o início da pandemia da AIDS, documentário de Gustavo Vinagre e Fábio Leal oferece novas perspectivas sobre a sorofobia no Brasil


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Revirei meus olhos com pouca paciência quando ao explorar o catálogo do MUBI dei de cara com o título “Deus tem AIDS”, documentário dirigido por Gustavo Vinagre e Fábio Leal. Me lembrou uma militância sem estofo, apenas para chocar, só que de uma forma tão óbvia que dá a impressão de ser apenas um filme cafona, idealizado por um estudante de cinema de alguma universidade federal.

Só que diante da boa avaliação e comentários positivos que o documentário recebeu, decidi ir em frente e devo admitir que gostei bastante. Claro que uma obra com esse título também terá em seu miolo artifícios para te deixar inquieto, desconfortável. Mas é no sensível depoimento de cada um dos sete artistas e do médico ativista, todos soropositivos, que está a beleza de “Deus tem AIDS”.

Dou destaque à artista que já nasceu com o HIV, herdado da mãe. Ela conta que nunca teve nenhuma expectativa a longo prazo em sua vida, pois com esse vírus ela já nasceu pensando na morte. Mas quando se deu por si, já era adulta, formada, trabalhando e morando sozinha.

Juntam-se a esse depoimento as diversas passagens interessantes nas falas dos outros artistas e do médico ativista. Passagens que vão tocando em pontos como a reclusão após o exame que detectou a presença do vírus; a vergonha de ser soropositivo; a dificuldade em contar para os pais; o preconceito encontrado na sociedade; e o preconceito que está interno, dentro de quem é HIV+.

Trata-se de um bom filme, com conteúdo que não foi de todo ofuscado pela vontade gigantesca dos diretores em causar repulsa no espectador.

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