Incompreendido, “O Fantasma” usa a obsessão sexual para levar o homem a sua forma mais animalesca

Filme é uma obra sensorial portuguesa de 2000


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João Pedro Rodrigues e Amândio Coroado unem forças para dar vida à obra sensorial portuguesa

A primeira cena de “O Fantasma”, em que um cachorro aparece latindo em um corredor, enquanto seu dono está no cômodo ao lado sendo fodido de forma muito competente por um homem vestido de látex da cabeça aos pés, é uma qualificada introdução ao filme português lançado no ano 2000.

Durante todo o decorrer do filme, o telespectador é convidado a seguir a rotina de Sérgio, um jovem que trabalha durante a noite lisboeta para uma empresa de limpeza urbana, mora em em quarto alugado em uma pensão barata e possui uma obsessão sexual que o faz atravessar qualquer limite para saciá-la.

Quando foi lançada, a obra teve uma recepção negativa por parte do público e da crítica, principalmente pela sua história aparentemente vazia e escorada em cenas de sexo explícito e escatologias. No entanto, o filme foi lançado há mais de duas décadas, e talvez o momento não fosse favorável para uma obra tão ousada.

De fato, existem muitos momentos explícitos, já que o filme se trata justamente de um indivíduo e de sua obsessão sexual que o domina. A história segue em um tom contemplativo, escuro, silencioso, lento e perturbador, e ao mesmo tempo com um tema de exageros.

O protagonista Sérgio possui uma representação de uma classe periférica esquecida, mas ao mesmo tempo isso parece ser um traço sem importância, pois as obsessões são democráticas, e Sérgio as possui sendo um jovem lixeiro, mas também poderia as possuir sendo um burguês de Lisboa.

Uma grande analogia feita pelo filme é a aproximação do ser humano com os animais, no que diz respeito ao seu apetite sexual imparável. Como dito, Sérgio é um jovem lixeiro, poderia ser um burguês, e também poderia ser um cachorro. Esse animal, inclusive, se mostra seu único amigo durante toda a trama.

Mesmo indo em busca de saciar seus desejos, seja masturbando um preso em um carro policial, colocando seu pênis na boca de um jovem em um banheiro público ou sendo fodido em pé por um homem desconhecido atrás de uma academia, Sérgio não demonstra sentir prazer alimentando sua obsessão.

Trata-se de um jovem com muitas questões pendentes que só consegue se relacionar por meio da violência, do desconhecido e do perigo. Sua incapacidade de lidar com sentimentos o isola das outras pessoas, e o torna impotente diante de qualquer demonstração de afeto, que não esbarre no desejo sexual.

Existem falhas no filme, como a insistência do autor em tornar todos os personagens muito silenciosos, mesmo os policiais, que em uma abordagem ao protagonista simplesmente não dizem nada. No terceiro ato do filme, um sequestro sem causa e finalidade e uma transformação animalesca sem sentido são outros exemplos de deslizes na finalização da obra.

É muito fácil não gostar de “O Fantasma”, assim como é fácil também gostar da obra, que pode causar da excitação ao tédio, prazer e nojo. No entanto, dificilmente é possível ficar indiferente a ela.

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