Crítica | Bata Antes de Entrar

Baseado no filme Death Game (1977), de Peter S. Traynor, Bata Antes de Entrar (Knock Knock) é um misto de suspense, ironia e perversão. De forma paulatina e controlada, a obra amarra o espectador em sua trama e o conduz até a casa de Evan Webber (Keanu Reeves), um pacato arquiteto casado com a escultora Karen (Ignacia Allamand) e pai de duas crianças.
Os primeiros minutos tentam mostrar a felicidade do casal e dinâmica divertida da família. Uma pena as crianças serem péssimas em cena, mas, felizmente, eles aparecem apenas por segundos na tela. Com este clima harmônico, o diretor Eli Roth constrói um cenário artístico e tranquilo, onde há fotos do casal e das crianças por todos os lados e esculturas pouco usuais.
Se você conhece os dois mais famosos filmes do diretor, O Albergue (2005) e O Albergue II (2007), pode se desapontar com a espera de uma obra sanguinolenta ou macabra. Aqui, o gore abre espaço para o suspense e o terror psicológico, claro, com ótimas doses de humor e sarcasmo. Rodado praticamente todo dentro de uma casa, o ambiente dá uma sensação claustrofóbica de necessidade de sair dali.

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Você não sabe como escapar, assim como o protagonista e esse é jogo muito bem traçado no roteiro. Na verdade, o filme deixa o espectador numa corda bamba com raiva de todos os lados e sem saber para que time torcer, talvez um pouco para os dois, pois você não quer que a dispute acabe ou que haja vencedores.
A atmosfera de tensão começa quando na primeira noite sozinho em casa – sua esposa viajou com os filhos -, Evan escuta baterem em sua porta. Com uma chuva torrencial do lado de fora, ele avista duas jovens bastante atraentes na sua varanda. Elas perguntam pela casa de alguém desconhecido, estão totalmente perdidas e encharcadas, além disso, o celular não funciona porque molhou. O que você faria? Oferecia um telefone, toalhas secas, seu computador, bebidas, chamaria um táxi, deixaria entrarem em sua casa?
Aparentemente Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas) não são nenhuma ameaça, pelo contrário, um conforto para um cara solitário numa noite de tempestade. Já dizia aquele velho ditado popular: nem tudo que reluz é ouro. As meninas aceitam a ajuda, colocam a roupa para secar e começam a falar sobre sexo abertamente, contam história e deixam Evan entre o desespero e o êxtase. Esta é a parte intrigante do filme, porque as garotas mexem com o espectador assim como com o protagonista. Afinal, ambos não sabem o que elas desejam, ainda.

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Apesar das declarações de um casamento feliz, entre risos e provocações, o protagonista não resiste à tentação e se rende a uma longa noite de sexo e prazeres com as duas visitantes. Por algumas horas a esposa Karen e as crianças são esquecidas.
Com um tom cômico e pouco usual, o enredo reformulado lembra o brilhante Violência Gratuita (1997), de Michael Haneke. As tramas se cruzam por apresentarem jovens com propósitos perversos sem nenhum motivo ou explicação. Aparentemente, o único objetivo deles é trazer o pesadelo para realidade. Um ponto destacado pela escrita de Genesis com batom no espelho: “Isso não é um sonho”.
Ao acordar da noite de luxúria, Evan se depara com duas meninas brincando e bagunçado sua casa. As mulheres sensuais mudaram completamente, elas continuam belas, mas a loucura explode pelos seus olhares e sorrisos. Lorenza Izzo e Ana de Armas são ótimas nessa mistura de sandice e meiguice. Elas destroem a casa, amarram o dono, fazem brincadeiras, acabam com as esculturas da esposa e ainda propõem outras armadilhas.
O caminho é divertido, porque tudo é delimitado para ser crível e deixar o espectador cada vez mais desconfortável e curioso. No hall das comparações, vale lembrar do perturbador Menina Má.com (2005), de David Slade, no qual a gente entra no jogo da jovem e deseja o sofrimento do outro. O desfecho de Bata Antes de Entrar chega a ser cômico, além de uma crítica a atual sociedade do espetáculo. O filme todo, em meio a brincadeiras, possui ótimas reflexões sobre aparência, comportamento e corrupção. Pense, sinta e se divirta com esta obra.

Nota 4/5.

 

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