Blonde

https://www.youtube.com/watch?v=AUfiFWUSp7k

Fazer filmes sobre eventos ou pessoas que existiram às vezes pode ser capicioso. Saber o tamanho da verdade e o quanto de glamour se pode misturar, ou como fazer a arte mostrar esses eventos de forma que haja significado não é para todos.

Blonde”, filme da Netflix, já começa com o pé esquerdo: ele se baseia num livro FICÇIONAL do mesmo nome escrito por Joyce Carol Oates em 2000, onde ele mesmo atesta que é uma peça de ficção. Só que os produtores, o diretor Andrew Dominik de “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” e a própria atriz protagonista Ana de Armas de “Agente Oculto” vendem o filme como uma biografia, quase como uma propaganda enganosa, sendo toda a produção recheada com fatos que nunca aconteceram ou nunca foram provados (nas curiosidades spoilers os detalhes).

Também o que se mostra na história é uma sucessão de tragédias e desgraças como se a vida de Marylin Monroe fosse somente isso: 2h46min da mais pura tristeza e depressão. Até mesmo a trilha sonora de Nick Cave e Warren Ellis (“Terra Selvagem”), apesar de muito boa, ecoa quase como um filme de terror, naquelas cenas onde toda a esperança foi embora.

Se o maior problema é o que se mostra, sendo uma série de inverdades (porque é ficção mesmo) e selecionando as tristezas somente, o como se mostra é outro problema que vem logo atrás.

O diretor quis colocar um enfoque artístico-abstrato, só que sem necessariamente significar suas decisões: vemos cenas em preto e branco, coloridas com granulação das décadas de 50 e 60, em alta definição, em formato WideScreen, em formato de TV, espalhadas, etc… com apenas parte em que o espectador pode entender as motivações para essas decisões, como por exemplo, as cenas de sexo muito bem coreografadas com espelhos, uma em particular com belíssima transição para uma cachoeira (aliás, as transições em geral estão ótimas). De resto, parecem apenas desejos de experimentar sem muito critério.

Finalmente chegamos na caracterização de Ana de Armas: apesar de passar o filme inteiro numa deprê constante, a atriz simplesmente incorpora o que o roteiro pede e, nesse quesito está excelente. Há uma profundidade em sua atuação além de uma semelhança física que passa perto da Marilyn original (tal qual Kristen Stewart da Princesa Diana em “Spencer”). Se tem alguém que agrega no resultado de maneira positiva é Ana de Armas.

Blonde” passa longe da verdade, entrega uma história desnecessária, cheia de artifícios artísticos que, apesar de bonitos, agregam pouco, e apenas parece uma longa jornada de depressão, valendo apenas pela presenta de Ana de Armas.

Curiosidades:

  • O sotaque cubano da atriz Ana de Armas foi “consertado” na pós produção para parece um inglês mais americanizado.
  • Além da peruca, Ana de Armas usou lentes azuis e prótese dentária para se parecer mais com Marilyn.
  • O cachorrinho que aparece no final é o próprio cachorro de Ana de Armas chamado Elvis.
  • Nas cenas musicais quem canta é Vanessa Lemonides enquanto Ana de Armas apenas dubla.

***SPOILERS – LEIA SOMENTE DEPOIS DE VER O FILME***

Aqui vamos falar de algumas das discrepâncias entre a ficção do filme e a realidade:

  • Não há evidências de que Marilyn tenha feito nenhum aborto, principalmente que tenha sido forçada a fazer o terceiro. Ela ficou grávida três vezes, mas nas três, perdeu o bebê espontaneamente.
  • Não há evidências que Marilyn Monroe fez um trisal com Charles Chaplin Jr. e Edward G. Robinson. Eram apenas amigos com muito menos intensidade do que mostrado no filme.
  • No filme, o gatilho que leva Marilyn a se matar é o fato de que Charles Chaplin Jr. morre e com isso ela descobre que ele escrevia cartas para ela se passando pelo pai que ela nunca teve. Para mim esse é um dos piores erros, pois praticamente define o desfecho: primeiro que Charles Chaplin Jr, faleceu 6 anos depois da morte de Marilyn; e segundo que nunca existiram essas tais cartas de seu pai ou de qualquer um que pudesse se fazer passar por ele.
  • Não há evidências que Marilyn tenha sido estuprada no início de sua carreira ou pelo presidente John Kennedy, como é mostrado no filme. Outro erro importante, pois principalmente a primeira cena define muito do que vai se seguir e a persona da protagonista.
  • A única coisa que o filme muda do livro é a maneira como ela morre: oficialmente ela morre de overdose de remédios e é isso que o filme mostra. Já no livro ela morre a mando de Kennedy por um assassino especialista.

Ficha Técnica:

Elenco:
Ana de Armas
Lily Fisher
Adrien Brody
Bobby Cannavale
Julianne Nicholson
Tygh Runyan
Michael Drayer
Sara Paxton
Ryan Vincent
Vanessa Lemonides
Patrick Brennan
Rob Brownstein
Evan Williams
Xavier Samuel
Dan Butler
David Warshofsky
Rebecca Wisocky
Sonny Valicenti
George Sanders
Ethan Cohn
Mike Ostroski
Skip Pipo
Toby Huss
Caspar Phillipson

Direção:
Andrew Dominik

Roteiro:
Andrew Dominik
Joyce Carol Oates

Produção:
Dede Gardner
Jeremy Kleiner
Tracey Landon
Brad Pitt
Scott Robertson

Fotografia:
Chayse Irvin

Trilha Sonora:
Nick Cave
Warren Ellis

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