[Rebobinação] #1: MERA COINCIDÊNCIA (1997)

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Há muito tempo, planejo a criação de um quadro cujo o intuito seria bem simples: indicar bons filmes de décadas passadas – mais precisamente das décadas de 80 e 90 – que, por alguma razão, quase ninguém lembra da existência. O quadro, hoje devidamente sendo posto em prática, consistirá numa apresentação curta (e, na medida do possível, analítica), de um filme por vez, em artigos dedicados. O quadro se chama [Rebobinação] – depois de muito batalhar com minha incrível incapacidade de criar títulos decentes. Espero que gostem e que, acima de tudo, vejam os filmes citados. Agora, vamos ao que interessa!



MERA COINCIDÊNCIA, ou: mentirolinguisticamente falando…


A poucos dias da eleição, o presidente dos Estados Unidos envolve-se num escândalo sexual e, diante deste quadro, não vê muita chance de ser reeleito. Assim, um especialista em situações de urgência (Robert De Niro) contratado pelo presidente, entra em contato com um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para, juntos, inventarem uma guerra na Albânia, a qual o presidente poderia ajudar a terminar, além de desviar a atenção pública para outro fato bem mais apropriado aos interesses eleitoreiros.

Primeiro, eu preciso demonstrar meu sentimento: Mera Coincidência (Wag the Dog, 1997) é, de longe, uma das melhores comédias políticas que eu já assisti na vida. Depois, trato dos fatos: Mera Coincidência é, facilmente, um dos melhores filmes sobre política já realizados. Tudo nele funciona bem – isto é, estando o expectador disposto a aceitar as circunstâncias que decorrem de sua premissa. Sobra zoação até com a clássica música We Are the World (e, é claro, com toda a ideia por trás dela) nesta impagável comédia que não perde tempo em tirar sarro da política norte americana – e, por relação de classe, com os bastidores políticos de qualquer lugar.

Justamente por ser um dos melhores filmes do tema é que é tão curioso o fato desse filme permanecer passando tão despercebidamente, ainda mais nos dias de hoje, em que a política norte americana se vê enrolada, dia sim, dia não, em embustes e manipulações eleitorais. Além disso, Mera Coincidência recebeu indicações ao Oscar de 1998, nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator, para Dustin Hoffman.

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Talvez haja algo de reducionista em dizer que se trata de um filme sobre política, simplesmente. Digo, no grosso do caldo, é isso mesmo – e poderia-se, sim, encerrar o assunto satisfatoriamente aqui. Mas seria pouco: Mera Coincidência é também, e talvez no mesmo nível de seu principal intento, um filme sobre o fazer cinematográfico – mentiras bem produzidas. Nesse sentido, ainda que não imediatamente, é um filme bastante metalinguístico. Trata-se de um filme (uma mentira) sobre os bastidores da produção de outra mentira.

Tempos de efervescência política nunca deixarão de existir – esse clima, de certa forma, faz parte da medula desse processo – e por isso mesmo a arte a tratar desse assunto não deveria, nunca, ser deixada para trás. Gosta de política e cinema? Pois bem: assista a Mera Coincidência.

 

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