Uma mulher fantástica (2017)

Título original: Una mujer fantástica

Título em inglês: A fantastic woman

Países: Chile, Alemanha, Espanha, Estados Unidos

Duração: 1 h e 44 min

Gênero: Drama

Diretor: Sebastián Lelio

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt5639354/


– “Eles estão entre nós.”

Acho que a maioria das pessoas devem conhecer essa frase. Desconheço a origem dela, mas todos a relacionam com a presença de extraterrestres entre os seres humanos.

– E o que isso tem a ver com o filme? Esse filme não é de ficção científica.

Digo que eles estão sim entre nós. E são bastante numerosos. E são bastante discriminados. E sofrem bastante, pois a escolha de suas identidades sexuais, na maioria das vezes, extrapola suas vontades. Para não enumerar os vários tipos de gêneros que existem, digo que se tratam de seres humanos considerados extraterrestres em várias situações: as pessoas que não são heterossexuais como a maioria das pessoas do mundo. No caso em tela, trata-se de uma pessoa transexual, ou seja, aquela cuja identidade de gênero difere daquela designada no nascimento. Meus caros leitores, preparem-se, pois “Uma mulher fantástica” é um teste para medir o grau de seus preconceitos.

O filme conta a história de Daniel, mais conhecido como Marina Vidal, uma garçonete que vive um caso de amor com Orlando, um homem bem mais velho que ela. Após uma noite romântica e divertida, o casal volta para casa, e, durante a madrugada, Orlando se sente mal. Marina o leva às pressas para o hospital, mas ele vai a óbito. A partir daí, começa o calvário da protagonista, que, além de perder o homem que ama, ainda tem que aguentar o preconceito da família de Orlando.

Há, claramente, a intenção de levar o espectador a julgar a personagem Marina, levando em consideração a aceitação de cada um sobre o tema da identidade de gênero e os atos fictícios praticados por ela durante o filme. Logo no início, é mostrado um casal apaixonado, que vive um amor intenso, que faz planos para o futuro, em resumo, um casal comum, se não fosse a transexualidade de Marina. Não é mostrado o motivo pelo qual Orlando deixou sua ex-mulher. Nesse contexto, o roteiro apresenta o mais sublime amor, para dar uma conotação de normalidade à relação e desestimular qualquer tipo de preconceito. É uma maneira de desarmar o espectador, pelo menos num primeiro momento.

Após a morte de Orlando, começa um bombardeio sobre a “viúva”. Ela é considerada suspeita da morte de seu amado, é submetida a situações degradantes, humilhantes e constrangedoras, é violentada física e psicologicamente, etc. Ela recebe até o nome de quimera, num momento bem tenso da narrativa. Para quem não sabe, quimera pode ter dois significados: um monstro mitológico com duas cabeças ou uma combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos. Nesse ponto, Marina é considerada uma aberração, uma perversão. Resumindo, durante o desenvolvimento do roteiro, Marina tem sua dignidade ferida de todas as formas possíveis pela família de Orlando, em nome da intolerância, mesmo havendo fagulhas de humanidade em um dos personagens, o irmão de Orlando, chamado Gabo. O espectador, a essa altura, tomado pela justiça e tolerância, ou pelo preconceito, já escolheu o lado que seguirá até o final, que, por motivos óbvios, vou omitir nessa crítica.

De qualquer forma, o diretor concede força e resiliência à protagonista para suportar as agonias de sua vida. Ele próprio definiu o filme enquanto era exibido no Festival de Berlin em 2017:  “Esse filme é uma história emocionante sobre uma mulher transgênero no Chile. Apesar do ostracismo social e da humilhação pessoal, Marina continua a lutar por seus direitos, mantendo sua dignidade. Recusando ser apenas identificada pelo sexo, ela luta para ter a liberdade de viver até o seu pleno potencial.” Um resumo perfeito do filme!

O mundo muda a cada segundo e hoje está em ebulição quanto à libertação e/ou liberação de homossexuais, transexuais e afins. É um fenômeno mundial, que, com o tempo, tende a conceder uma condição de normalidade a qualquer tipo de relação entre duas pessoas. Esse público, comumente chamado de LGBT, ainda sofre graves preconceitos, pois sua luta só está no início, apesar de já haver conquistas significativas no âmbito legal e social em todo o mundo. “Uma mulher fantástica” apenas exemplifica algumas dessas dificuldades e expõe o lado intolerante do ser humano, que discrimina categorias de pessoas por elas não seguirem o mesmo curso do rio, por elas serem minorias em determinado âmbito. De batalha em batalha, daqui a algumas décadas – assim como já aconteceu com as mulheres, com os negros, etc. -, quem sabe não tenhamos mais que falar sobre esse assunto, pois a guerra já estará vencida, e os homens consigam respeitar e aceitar as diferenças de cada um. Orientação política, identidade sexual, religião e preferências de qualquer tipo não podem ser objeto de retaliação, pois são apenas escolhas que cada um deve ter a liberdade de fazer em um mundo civilizado.

É um filme para refletir!

Uma mulher fantástica” é o representante do Chile na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018 e, diga-se de passagem, um fortíssimo candidato à almejada estatueta dourada.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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