Os iniciados (2017)

Título original: Inxeba

Título em inglês: The wound

Países: África do Sul, Alemanha, Holanda, França

Duração: 1 h e 28 min

Gêneros: Drama, romance

Elenco Principal: Nakhane Touré, Bongile Manysai, Niza Jay

Diretor: John Trengove

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt6333070/


Um dos temas mais relevantes do momento no mundo – e não só no cinema – é, sem dúvida, a revolução social, no tocante à busca de espaço em todos os sentidos da população LGBT, e subtemas relacionados, porém, em se tratando de sétima arte, não é qualquer roteiro que toque no assunto que obtém um automático sucesso. Tem que ter conteúdo, tem que ter substância, e esse não é o caso do filme em tela, apesar de conseguido a proeza de estar entre os 9 pré-selecionados ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018. É um filme que tem um caráter documental, que é bastante apreciável, e mostra um romance homossexual com ares de melodrama que realmente não consegue despertar interesse.

Eis a sinopse: “Xolani, ou simplesmente X, um trabalhador de fábrica solitário, viaja para as montanhas rurais com os homens de sua comunidade para iniciar um grupo de adolescentes na masculinidade, diga-se, na vida adulta, através de rituais que incluem a circuncisão. Quando um rico iniciante descobre o seu segredo mais bem guardado, um amor proibido, Xolani é forçado a tomar providências para que sua vida não seja arruinada.”

Sobre o viés documental que comentei no primeiro parágrafo, trata-se do ritual de passagem de adolescentes do sexo masculino para a vida adulta. É interessante por conhecermos essa vertente da cultura de um povo tão distante e tão desconhecido do grande público. Homens, que são chamados de instrutores, são contratados para cuidar dos iniciados pelo tempo que permanecerem em seus retiros. São rituais estranhos, nos quais os adolescentes devem ficar isolados nas montanhas, pintados de branco, até que as feridas de seus pênis cicatrizem e eles então voltem para suas cidades como homens formados e prontos para constituir suas famílias. Esse é o conceito!

A trama que acontece concomitantemente aos rituais é realmente muito vazia, mas, ainda assim, conseguimos retirar alguns poucos momentos interessantes e temáticas expressivas que representam toda a dificuldade de ser negro, pobre e homossexual num país como a África do Sul, historicamente preconceituoso. Xolani e outro instrutor, chamado Vija, já se conhecem desde a infância e nutrem um relacionamento estranho, de amor por um lado, o de Xolani, e de interesse por outro, o de Vija. É bom salientar que Vija é casado e tem família. A relação entre os dois é solitária como a vida de Xolani. É praticamente uma vida bandida, oculta, passível de repressão pela sociedade, que se contrapõe ao objetivo deles nas montanhas – iniciar adolescentes na masculinidade, que passa longe do comportamento de Xolani, apesar dele manter as aparências com competência. A trama poderia ter ficado mais interessante se a descoberta do amor proibido tivesse sido mais cedo, mas tal descoberta acontece nos últimos 15 minutos do filme, então, antes disso, a narrativa alterna entre momentos de amor – um sentimento cuja sinceridade questiono – e conflitos entre os dois protagonistas. Nem a presença do adolescente rico e também homossexual, Kwanda, com seu espírito desafiador, proporciona algo que desperte um interesse maior. É apenas um adolescente rebelde.

Sinceramente, não entendo o motivo pelo qual filmes como “O motorista de táxi“, da Coreia do Sul, “Mulheres divinas“, da Suiça, “Primeiro mataram meu pai“, do Camboja, “Her love boils bathwater“, do Japão, e até o nosso “Bingo – O rei das manhãs“, representante brasileiro, tenham sido preteridos na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro e “Os iniciados” esteja entre os 9 que concorrem às 5 vagas finais. Para quem busca assistir aos filmes que ainda permanecem na disputa, vale a pena, pois serve pelo menos para formar um juízo de valor e escolher os favoritos. Em qualquer outra hipótese, recomendo “Uma mulher fantástica“, representante do Chile. É um filme com uma temática similar e um roteiro magnífico e que, por sinal, foi o grande vencedor da referida premiação.

“Os iniciados” é um filme sem grandes atrativos, mas vem conquistando seu espaço. Talvez tenha qualidades que não consegui enxergar. É “O segredo de Brokeback Mountain” africano, no entanto possui muito menos intensidade do que o americano. Espero que a má avaliação que concedi à obra tenha sido bem explicada.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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