Sholay (1975)

Título em inglês: Flames of the sun

País: Índia

Duração: 03 h e 24 min

Gêneros: Ação, aventura, comédia, drama, musical, thriller

Diretor: Ramesh Sippy

IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0073707/


Praticamente uma novela indiana de mais de 3 horas de duração. O filme mais famoso da história da Índia, que apresentou ao mundo uma vertente do gênero spaghetti western, o curry western – um gênero cujos filmes eram produzidos nos moldes dos faroestes italianos das décadas de 60 e 70, porém com todas as características que definem o cinema da terra dos elefantes, ou seja, com músicas, danças e um viés melodramático. “Sholay” foi eleito em 2005, pelos votantes do Filmfare Awards – o maior prêmio do cinema indiano -, o melhor filme indiano dos últimos 50 anos (1955 a 2005). “Sholay” também definiu o gênero cinematográfico que caracteriza o cinema do país – o gênero masala, ou seja, multi-gênero. É um filme de valor histórico inestimável para a população da Índia, que, até os dias de hoje, utiliza diálogos do filme como bordões em seu cotidiano. Por tudo isso, o filme em tela é um divisor de águas para o cinema comercial do país. São muitos motivos para assistir a “Sholay“. Resisti o máximo que pude para assistir a ele, pela duração, mas, após essa experiência cinematográfica, não me arrependi nem um pouco e, nos próximos parágrafos, relato para vocês minhas considerações sobre essa grande obra.

A sinopse, retirada da internet e com algumas adaptações, é a seguinte: “O chefe de polícia aposentado Thakur contrata os bandidos Veeru e Jai, dois criminosos de segunda classe, para capturarem o temido facínora Gabbar Singh, um psicopata que aterroriza o pequeno vilarejo de Ramgarh e foi o responsável pelo assassinato de toda a família de Thakur.”

No melhor estilo faroeste espaguete, os bandidos são os protagonistas – e torcemos por eles. Veeru e Jai nutrem uma bela amizade e, por incrível que pareça, são humanizados por suas necessidades emocionais, apesar do ofício que exercem – diferentemente do antagonista da história, Gabbar Singh, que se mostra sempre como um bandido impiedoso e sanguinário. A dupla dinâmica – Veeru e Jai – mostra uma cumplicidade tão grande que estudiosos do cinema indiano chegaram até a identificar comportamentos homossexuais nos personagens. Sinceramente não vi isso, mas cada um que faça a sua avaliação – se é que isso é relevante, dada a magnitude do filme. Jai, por sua vez, é interpretado pela lenda Amitabh Bachchan, com pouco mais de 30 anos na época das gravações. Mal sabia ele que iria se tornar o artista mais famoso da Índia.

O roteiro não é complexo, mas apresenta deslocamentos temporais para mostrar o passado de alguns personagens, principalmente Thakur – o contratante dos bandidos -, quando ainda exercia suas atividades na polícia, e suas “batalhas” com Gabbar Singh. Nesses flashbacks ficamos sabendo a origem da trama e a gênese do ódio entre os dois. Essa relação é a espinha dorsal da narrativa, que origina todas as outras subtramas e acontecimentos até o final do filme. Fora as características indianas, já elencadas na introdução desse texto, temos, ao longo de toda a duração do filme, bandidos a cavalo, locomotivas, incontáveis tiros, paisagens áridas e muitas lutas, como num faroeste comum. Temos também o esperado duelo final, que, ao passo que é burlesco e proporciona bastantes gargalhadas, tem toda uma aura beligerante, pois o ódio sai pelos poros dos envolvidos.

Por desconhecimento, fiz o caminho inverso ao assistir primeiro às criaturas, para depois assistir ao criador e, por essa experiência, recomendo que, se possível, assistam a “Sholay“, antes de entrarem no mundo do cinema comercial indiano contemporâneo – que é espetacular. É de se imaginar que na década de 70, a indústria cinematográfica indiana tivesse bem menos recursos – tanto tecnológicos quanto financeiros – em relação à mesma indústria dos dias atuais, que vem alcançando um alto grau de excelência e qualidade a cada ano que passa, principalmente em seus roteiros e estilo visual e sonoro. Por esse motivo, nota-se prontamente uma evolução que salta aos olhos quando comparamos os filmes de hoje com o filme em tela, e isso nos faz até rebaixar alguns aspectos de “Sholay” e considerar algumas cenas ridículas – não vou enumerá-las para não dar spoillers -, porém, atualmente ainda vemos muitas extravagâncias em filmes indianos, principalmente nas obras de ação, e, na minha humilde opinião, abandonar essa excêntrica herança de “Sholay“, pois ele foi o definidor de um estilo de produção, é apenas o que falta para o cinema indiano alcançar patamares mais elevados a nível internacional.

Finalizo esta crítica satisfeito por ter tido a oportunidade de vivenciar essa nostálgica viagem cinematográfica, ao assistir a uma obra tão especial, que por vezes me fez lembrar dos filmes de um dos meus diretores favoritos, Sergio Leone, pelas características semelhantes; do personagem de Clint Eastwood na “Trilogia dos Dólares“, por causa das vestes e do comportamento de Thakur; de meu ídolo Charles Chaplin em “O grande ditador“, pelo jeito do delegado atrapalhado do começo do filme, etc. Foi uma jornada por momentos marcantes da história do cinema de um país e significativos para mim, mas o melhor de tudo é que “Sholay” vem da terra cujos filmes aprendi a admirar. Assisti a um “faroeste de turbante”, que recomendo a todos os amantes da sétima arte, pois essa salada de estilos é uma viagem interessantíssima.

O trailer, com legendas em alemão, segue abaixo.

Adriano Zumba


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