The lunchbox (2013)

Título original: Dabba

Países: Índia, França, Alemanha, Canadá, Estados Unidos

Duração: 1 h e 44 min

Gêneros: Drama, romance

Diretor: Ritesh Batra

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt2350496/


Facilmente uma coprodução da Índia com outro país é notada. As características mudam drasticamente, pois o contexto fica mais artístico. Não estou criticando o cinema indiano, do qual sou fã de carteirinha, mas fiz esse comentário para enfatizar as diferenças entre a cinematografia indiana – principalmente em relação aos filmes produzidos em Bollywood – e o cinema europeu, cujas produções tendem para o que chamamos de “cinema de arte”, que é um termo que eu particularmente não aceito, pois, na minha opinião, qualquer manifestação cinematográfica denota arte; prefiro chamar de “cinema intelectual”, ou seja, obras que possuem em sua narrativa elementos que forçam o espectador a pensar e refletir. Saliento que alguns polos de produção de cinema na Índia “fabricam” filmes dessa natureza, principalmente no idioma bengali, entre outros. O filme em tela realmente possui uma natureza artística mais evidente, e considero que seu  público pode ser mais restrito. É o tipo do filme que se ama, para as pessoas que admiram o cinema de arte – ou que têm sensibilidade para apreciá-lo -, ou se odeia – o comum para o público em geral. Nota-se que a crítica adora esse tipo de filme. Uma prova disso é a quantidade de premiações que “The lunchbox” ganhou em festivais de cinema, incluindo um prêmio importante no Festival de Cannes.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “O Mumbai Dabbawallahs é um serviço de entrega de comida bastante conhecido em Mumbai, na Índia. Um dia, um erro na entrega faz com que uma pacata dona de casa casada, chamada Ila, cujo matrimônio não anda muito bem, conheça um homem solitário que está prestes a se aposentar, chamado Saajan Fernandes. Juntos, eles criam um mundo de fantasia a partir de mensagens trocadas através das marmitas, que são enviadas diariamente. Então vários sentimentos inesperados começam a surgir entre eles.”

O filme destacado é lento, silencioso; quase enfadonho. É necessário haver uma imersão na história, no âmago dos protagonistas. É necessário sentir os mesmos sentimentos que eles para que haja satisfação em assistir a esse filme. É uma obra muito sensível, que, através de uma reles coincidência, ocasionada por um engano, obtém a sustentação necessária para o desenvolvimento da narrativa, que estabelece uma união emocional entre duas pessoas em estágios diferentes de suas vidas. Elas têm em comum apenas a solidão a que são submetidas: Fernandes, por ser viúvo e não ter filhos nem familiares, e Ila, por viver numa solidão afetiva, pois, na história, são mostrados indícios de que ela está sendo traída pelo seu marido, o qual não lhe oferece a devida atenção – a não ser quando a comida que é entregue a ele todos os dias pelo Mumbai Dabbawallahs não está satisfatória. De certo modo, a relação peculiar – e até virtual – entre os protagonistas concede o escapismo necessário para que eles fujam da triste realidade na qual eles estão inseridos. Tudo isso para mostrar que pequenos gestos fazem bastante diferença e cuidado nunca é demais de ser recebido.

Comida vai, comida vem, e, vagarosamente, uma relação de confiança entre Ila e Saajan vai sendo estabelecida. A partir daí, apenas um passo é suficiente para que novos sentimentos comecem a aflorar. Parece até uma situação utópica, mas se justifica pelas carências que cada pessoa possui, o desejo de ser feliz que o ser humano sempre carrega consigo e as oportunidades que a vida proporciona. Através de qualquer tipo de contexto, mesmo os mais improváveis e difíceis, surpresas acontecem e podem modificar a vida das pessoas. Fiz questão de salientar a dificuldade do contexto, pois o filme mostra explicitamente o funcionamento do tal serviço de entregas, que se apresenta como infalível, mas tem uma operação bastante complicada e rudimentar. Bom para conhecermos mais uma nuance do cotidiano de uma grande cidade da Índia. Nunca é demais entrarmos em contato com as realidades dos mais diversos países, para darmos mais importância às nossas.

Através de tanta singeleza e sensibilidade, temos um filme que deixa bons sentimentos, apesar de um desfecho que talvez não agrade a todos. Há grandes qualidades artísticas, principalmente na forma como a história é contada, que, com certeza, agradará a cinéfilos mais exigentes e ávidos por roteiros mais humanistas. Escapismo é só para os personagens, porque “The lunchbox” é a vida real – cheia de percalços, imprevistos e possibilidades.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


2 comentários Adicione o seu

  1. Não vi ainda, mas legal a critica, me fez querer ver, valeu

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