78/52 (2017)

País: Estados Unidos

Duração: 1 h e 31 min

Gênero: Documentário

Elenco principal: Alfred Hitchcock, Marli Renfro, Tere Carrubba

Diretor: Alexandre O. Philippe

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt4372240/


– 78/52?

– What the hell…?    🙂

Que título enigmático, obscuro e desafiador! Quem sabe representa uma fração ou uma divisão? Será um documentário sobre um matemático famoso, que descobriu algo relacionado a esses números ou a essa operação?

Que engano maravilhoso! É aquele chamado ledo engano.

Para a nossa alegria, devemos pensar sobre algo relacionado ao cinema mesmo, algo metalinguístico. Um documentário sobre cinema! Nada mais fascinante! Ao nos depararmos com um título misterioso como esse e sabermos que faz alusão à sétima arte, quem é a pessoa que mais representa o mistério no cinema e vem de forma automática à mente? Se você pensou em Alfred Hitchcock, acertou na mosca! O mestre do suspense tem uma filmografia extensa e recheada de obras icônicas, que o levaram à fama e à eternidade. Enquanto houver cinema, o mestre Hitch será eterno. “Psicose“(1960) é, talvez, o seu filme mais aclamado, e muito desse reconhecimento se deve àquela famosa “cena do chuveiro” ou “cena da banheira” – como é conhecida por muita gente -, na qual Norman Bates (Anthony Perkins), vestido como sua mãe, assassina a bela Marion Crane (Janeth Leigh) a facadas. Considero essa cena a mais inesquecível da história, e, pelo visto, essa opinião não é exclusividade minha, pois alguém resolveu produzir um documentário de 90 minutos apenas sobre a tal cena. A famosa cena do chuveiro é dissecada em seus elementos objetivos e subjetivos, através de opiniões e imagens. Em tempo, os números 78 e 52 se referem aos planos – o número de diferentes posicionamentos de câmera – e à quantidade de cortes na duração da cena, respectivamente.

O suspense constrói seus alicerces com base nos detalhes. Após assistir ao documentário, percebi a justiça do título de “Mestre” concedido a Hitchcock, pela importância que ele dava às minúcias. Praticamente, há significado embutido em tudo, menos no que o espectador é guiado a considerar inicialmente como o fio condutor da narrativa, os 40 mil dólares – o McGuffin da história: termo criado pelo diretor para definir algo sem importância narrativa, que estava presente só para constar – ou confundir. O foco total e absoluto desse documentário é realmente a cena do chuveiro, porém a narrativa passa por várias outras, do próprio filme e de outros, para relacioná-las a ela. Motivações são garimpadas em outras obras, e indícios que levariam àquele tão famoso clímax são revelados nas passagens de “Psicose“. Hitchcock pavimentou a estrada que levaria ao assassinato! Há uma grande quantidade de pistas, óbvias ou não, que são aspergidas por ele antes do momento – só nós, meros espectadores, talvez não tenhamos percebido. Algumas podem até ser tratadas como meras teorias advindas das cabeças dos críticos. Façam seus julgamentos.

Por meio de opiniões de profissionais do cinema, familiares dos artistas e pessoas que vivenciaram aquela época, dentre os quais podemos destacar aqueles que participaram da equipe técnica de “Psicose“, como a dublê de corpo de Janeth Leigh na cena; documentos, como o roteiro original datilografado; desenhos e storyboards feitos pelo próprio diretor; além de pedaços da cena cortados e pausados, corte a corte e de todas as maneiras, para explicitar os detalhes, o espectador descobre pormenores invisíveis e defeitos quase imperceptíveis e ocultados com maestria. Destaco a parte de edição e montagem, que é mostrada “numa lâmina de microscópio”. Planos e cortes abundantes, o tal número 78/52, concederam um estado de desorientação pungente e espetacular ao espectador. Tudo isso potencializado pela famosa trilha sonora, cujos violinos acompanhavam os batimentos do coração da moribunda Marion. A verdade é que Hitchcock preparou uma armadilha perfeita de aço inoxidável, nesse que é considerado o primeiro ataque sexualizado com arma branca da história do cinema.  Foram segundos que denotavam a sobreposição da ordem e do caos, que entrariam para o rol de momentos mais espetaculares da sétima arte.

O cinema fica ainda mais fascinante quando descobrimos o que acontece por trás das câmeras, principalmente se as almas de seus realizadores também forem desnudadas. Através da análise desse pequeno fragmento, que levou sete dias para ser filmado, temos a certeza de que a genialidade se manifesta através das mais diversas formas – uma delas é o cinema.  Obrigado, Alfred Hitchcock, por sua inestimável contribuição à sétima arte!

O trailer segue abaixo.

Obs.: Esse documentário pode ser visto na Netflix.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.