Invasão zumbi (2016)

Título original: Busanhaeng

Título em inglês: Train to Busan

País: Coreia do Sul

Duração: 1 h e 58 min

Gêneros: Ação, terror, thriller

Diretor: Sang-ho Yeon

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt5700672/


Quem acompanha as publicações do blog, percebe que filmes fantasiosos, principalmente os de terror, correspondem a uma porcentagem muito pequena das obras utilizadas como base para alguma crítica. Realmente não são minha preferência e, por conseguinte, aparecem pouco em meu trabalho no blog, porém, devido aos comentários amplamente positivos de cinéfilos e da crítica especializada, e por ter sido, mesmo fora de competição, exibido em Cannes – o que é algo que destoa completamente do contexto dos filmes que são exibidos no Festival, por se tratar de um “filme de zumbi”, resolvi dar uma chance para essa produção coreana. Digo-lhes que não me arrependi em nenhum segundo da exibição, pois não se trata de um mero filme de horror, com mortes gratuitas e criaturas ávidas por sangue. Há um viés humanista e um arco narrativo marcado por um contexto dramático e emocional, que concede à obra um diferencial em relação ao costumeiro em obras similares – principalmente as americanas. Seguem abaixo as minhas impressões.

A sinopse é a seguinte: “Um gerenciador financeiro divorciado, Seok-woo, com uma relação distante de sua filha Soo-an, resolve, após um pedido da menina, que funciona como presente de aniversário após mais uma desilusão com seu pai, levá-la para a cidade de Busan, onde mora a sua mãe – daí o título em inglês, “Train to Busan“. Antes da viagem de trem ser iniciada, uma jovem infectada por uma estranha doença adentra ao veículo e, em poucos minutos, após o trem começar a sua jornada, começa a infectar os passageiros através de mordidas. A partir desse momento, o caos e a tragédia tomarão corpo em todo os vagões do veículo, entretanto, a situação já está bem pior em várias cidades da Coreia do Sul por conta da infestação de pessoas contaminadas, diga-se, zumbis. Busan é uma das poucas cidades que oferecem proteção contra as criaturas, pela presença em massa do exército. Então, começa uma aventura mortal em nome da única chance de sobrevivência para os passageiros – chegar até Busan.

Admito que a temática de zumbis já me causa uma certa repulsa pelas minhas preferências cinematográficas, porém esqueçamos esses seres sangrentos. Consideremos que são pessoas submetidas a algum vírus, o qual modifica seus corpos e seus comportamentos. Saliento que a causa da transformação de animais – humanos ou outros – em zumbis é, explicitamente e rapidamente, mostrada no filme: um projeto mal-sucedido em uma empresa que manipula agentes biológicos. Isso já me agradou bastante, pela preocupação de fornecer explicações para os fatos, ou seja, os zumbis não caem de para-quedas na história e começam a morder todo mundo. Amenizações à parte, temos um filme frenético, com muita ação e suspense em quase todo o tempo de sua exibição, assim como a maioria dos “filmes de zumbis”, porém as semelhanças param por aí. Mesmo num âmbito de luta pela vida, várias temáticas acessórias definem os propósitos do filme, principalmente duas: a relação entre pai e filha e uma subliminar luta de classes.

Seok-woo dá atenção absoluta a seu trabalho em detrimento de sua pequena filha. Já saliento que se trata de um clichê super bem trabalhado no filme. Soo-an é uma garota de semblante triste e a personagem responsável por carregar a maior carga emocional da narrativa, apesar de termos também uma personagem grávida. Ela é uma garota que conta com um senso de humanidade bastante intenso – ao contrário de seu pai egoísta, que, por vezes, e se arvorando na situação de guerra em que se encontram, faz questão de transmitir ensinamentos no mínimo politicamente incorretos à filha. O sentido narrativo em relação a essa temática vai ao encontro de uma possível aproximação entre pai e filha, causada não só pelas situações perigosas e potencialmente mortais que eles estão vivenciando, mas pelo desenvolvimento de consciência de Seok-woo e a explicitação do amor que sempre deveria marcar uma relação pai e filha. Ao passo que o ator que interpreta Seok-woo é bastante artificial em seu trabalho, a atriz mirim que interpreta Soo-an dá um show de atuação. Ela é o principal destaque individual do filme.

A interação entre os personagens principais também é bastante interessante. Ela remete a uma suposta luta de classes a que aludi no terceiro parágrafo. A todo o momento temos um sutil – bem sutil mesmo – ar de preconceito e pré-julgamento entre eles, principalmente pela presença de um mendigo no trem e o jeito esnobe que Seok-woo apresenta – o que gera um automático desprezo dele próprio por personagens de outro nível social e vice-versa. Fica uma indagação bem pertinente ao espectador sobre ser ou não egoísta numa situação como aquela, ou seja, salvar a sua pele e de seus amados ou agir de maneira a ajudar as pessoas ao redor, independentemente de ter vínculo afetivo com elas.

Ao fim, só posso dizer que é diferente! É um diferente filme de zumbi! Como fã do cinema humanista, enxerguei em “Invasão Zumbi” muitas características que me agradaram bastante e proporcionaram uma excelente experiência cinematográfica. Pela primeira vez, assisti a um filme de zumbi emocionante, no sentido da palavra que é mais agradável para mim. É um filme que pode até fazer chorar. Só depende da sensibilidade de cada um.

A inconclusividade quanto a uma possível cura ou a falta de extermínio total desses seres chamados de zumbis sugere que o filme tenha continuações. Perda de qualidade à vista. Viva o capitalismo!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba

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