O segredo de Vera Drake (2004)

Título original: Vera Drake

Países: Reino Unido, França

Duração: 2 h e 05 min

Gêneros: Crime, drama

Elenco Principal: Imelda Stauton, Jim Broadbent, Heather Craney

Diretor: Mike Leigh

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0383694/


Alguns países do mundo estão discutindo a questão do aborto em suas legislações, então, assistir a um filme com essa temática, neste momento, é bastante pertinente e até necessário. O filme em tela molda as situações de forma que as duas correntes de opinião sobre o tema, a que aceita e a que repudia, encontrem guarida na narrativa, ou seja, o filme oferece acolhimento a interpretações diversas. Sem querer emitir opinião sobre o assunto, o conceito de aborto é a interrupção de uma gravidez pela remoção de um feto ou embrião antes de este ter a capacidade de sobreviver fora do útero. Melhor assistir ao filme e tentar formar algum juízo de valor, mas, de antemão, saliento que a situação de Vera Drake é deveras controversa.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “Londres, 1950. Vera Drake mora com seu marido Stan e seus filhos já crescidos, Sid e Ethel. Eles não são ricos, mas formam uma família feliz e unida. Vera trabalha como faxineira e Stan é mecânico na oficina de seu irmão. Porém, Vera mantém uma atividade paralela que esconde do resto da família: sem aceitar pagamento, ajuda jovens mulheres a abortarem, usando métodos caseiros e até estranhos. Quando uma dessas garotas precisa seguir para o hospital, a polícia começa uma investigação que faz o mundo de Vera desabar.”

O roteiro é desenvolvido, desde o início, para exaltar as qualidades de Vera através de cenas de seu cotidiano. Conhecemos uma senhora que é um poço de bondade, um exemplo de mãe, esposa, empregada. É aquele tipo de pessoa íntegra, positiva, agregadora, amorosa e que gosta de ajudar a seus semelhantes, entretanto, é por conta dessa última característica que o foco de tensão é instalado na história. Com esse suposto propósito, ajudar, Vera exterioriza o seu próprio senso de justiça, o qual entra em conflito com a justiça formal do Reino Unido, que não permite o aborto. Uma pessoa do bem, agindo de boa-fé, comete transgressões, que, por suas características, deverão ser objetos de julgamento à luz da subjetividade da lei. Cabe ao espectador identificar as motivações dos atos e julgar a doce Vera Drake. É uma tarefa bastante angustiante, por toda simbologia que o ato de cometer um aborto transmite, e pelo comportamento apresentado pela idosa antes e depois de ser descoberta pela polícia.

Há que se destacar, além da protagonista, as suas “pacientes” e os motivos que levaram às gravidezes indesejadas e, dentre eles, há alguns que poderiam ensejar um aborto legal, considerando as leis de algumas nações nos dias de hoje, porém ilegais na época e no país do caso em tela. De qualquer forma, relativizar ou buscar atenuantes à pratica do aborto é muito difícil, independentemente de qualquer motivo, e esse é um dos objetivos do filme: testar o senso de humanidade e justiça dos espectadores, ao inserir como praticante dos atos uma mulher bondosa e que não tinha motivações financeiras em seu “ofício”. Se formos aprofundar mais ainda o pensamento, talvez ela tivesse a intenção também de aliviar o sofrimento das crianças que teriam provavelmente uma vida difícil. É uma discussão de cunho religioso, humanista, moral e legal, que o filme se propõe a fazer.

O segredo de Vera Drake” é realmente uma obra difícil de assistir, que transmite muito incômodo e inquietude ao espectador, mas, como ponto positivo, constrói uma aura de reflexão bastante intensa e interessante, a qual engrandece a discussão sobre esse tema tão espinhoso que é o aborto. Trata-se de um filme essencial e mais do que recomendado.

Não como não exaltar a atuação de Imelda Staunton na pele da protagonista Vera Drake, que lhe valeu até uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz e a conquista de várias outras premiações em festivais de cinema ao redor do mundo. Realmente soberba. O filme foi ganhador do Leão de Ouro no Festival de Veneza no ano de 2004.

“Vera Drake, uma mulher que sacrificou tudo que tinha pelo que acreditava”. Essa frase pode ser vista no trailer, que segue abaixo.

Adriano Zumba

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