Hair (1979)

Países: Estados Unidos, Alemanha

Duração: 2 h e 01 min

Gêneros: Comédia, drama, guerra, musical, romance

Elenco Principal: John Savage, Treat Williams, Beverly D’Angelo

Diretor: Milos Forman

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0079261/


Hair” é um filme que tem uma proposta bem definida, que é revelada paulatinamente e de uma maneira bem leve, divertida e especial ao longo de sua exibição: criticar a guerra em um sentido amplo, apesar de usar como exemplo a Guerra do Vietnã, e exaltar o amor, a amizade e a paz. É um filme que põe em rota de colisão o conservadorismo americano, que nada mais é que o comportamento padrão que o país espera de seus habitantes, e a chamada contracultura, que é justamente um comportamento resistente a paradigmas ou parâmetros pré-existentes e muitas vezes impostos, ou seja, é a mentalidade dos que rejeitam e questionam valores e práticas da cultura dominante da qual fazem parte. Trata-se de um belíssimo filme que, mesmo com todas as voltas do mundo, não envelhece, apesar de seus quase 40 anos de lançamento, pois, nesse período de tempo, a humanidade nunca se viu livre de guerras, nas quais os Estados Unidos – país produtor do filme – normalmente estão inseridos em um dos polos, mesmo sem ter provocado ou sofrido algum tipo de prejuízo que enseje o embate, com o subterfúgio de manter a ordem mundial.

Eis a sinopse: “O filme acompanha Claude Bukowski, um sério, pacato e provinciano jovem da zona rural de Oklahoma, que parte para Nova York a fim de se apresentar ao exército para servir na Guerra do Vietnã. Ao chegar à metrópole, conhece um grupo de hippies, que lhe apresenta conceitos nada convencionais sobre comportamento e sociedade, e se apaixona por uma garota aristocrata.”

Há diversas maneiras de se contestar uma regra, inclusive com o uso da violência. “Hair” escolheu a alegria, o bom-humor, a celebração da liberdade e a música como meios para seu protesto. A escolha de personagens hippies para interagir com o cidadão comum – e americano -, Claude, não poderia ter sido mais bem sucedida, pois são pessoas que possuem características peculiares no tocante a seus princípios de vida: a rejeição das normas e valores da sociedade de consumo, vestimentas não convencionais, cabelos longos, desprezo pelo dinheiro e o trabalho formal, vida em comunidade, pregação da não violência, liberdade sexual, consumo de drogas, etc. É interessante essa junção de ideologias porque uma delas prega a libertação de amarras e a outra segue o curso da maré da terra do Tio Sam, isto é, atribui um viés de normalidade ao patriotismo incondicional e sem limites arraigado na cultura estadunidense – e muito trabalhado pelos governos ao longo da história. A narrativa, através das ações dos hippies, prepara o terreno para que Claude consiga refletir e, quem sabe, adquirir consciência crítica quanto à possibilidade de perder seu maior bem, a vida, em um campo de batalha para atender a motivações que não são suas – apesar de serem vendidas como tal. Notem que o mesmo ato de pensar que é imposto à Claude é imposto ao espectador, e isso provoca uma automática aceitação do filme, além de outros motivos que levam a isso.

Longe de fazer apologia ao estilo de vida e pensamento dos hippies, que, se formos analisar com critério, percebemos que são exageradamente descompromissados em relação a uma condição de vida considerada usual, o filme, na verdade, prega uma harmonização dos valores individuais e coletivos que uma pessoa comum deve seguir, como um tratado para uma vida mais salutar. Segundo a letra da principal música da trilha sonora, “Let the sunshine in”, que, traduzindo para o português, significa “deixe a luz do sol entrar”, as pessoas devem abrir seus corações e deixar que eles brilhem, há de haver uma libertação da mente, compreensão, simpatia, confiança, amor e sobretudo paz. Mesmo que o espectador não se identifique com a maneira como a narrativa é mostrada – musicalmente -, é imperioso reconhecer a beleza das mensagens que são transmitidas. É inegável que “Hair” é uma obra inspiradora!

Segundo Stanley Kubrick nas entrelinhas de seu filme “Glória feita de sangue” (1957), considerado uma das mais representativas obras antibélicas da história do cinema, homens não são frias peças de xadrez distribuídas estrategicamente em um perigoso tabuleiro de guerra, pois eles têm alma e sentimentos. Ninguém deve ter ingerência sobre a vida ou a morte do próximo. Segundo Gandhi, “a não violência é a arma dos fortes”. Segundo “Hair“, a vida deve ser aproveitada em sua plenitude, sem prejudicar a si mesmo nem a outrem. Portanto, descomplique, desburocratize, desamarre, desapegue, e, sobretudo, ame, pois a existência é apenas uma passagem.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


 

 

 

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