Assassinato às cegas (2018)

Título original: Andhadhun

País: Índia

Duração: 2 h e 22 min

Gêneros: Comédia, crime, thriller

Elenco Principal: Ayushmann Khurrana, Tabu, Radhika Apte

Diretor: Sriram Raghavan

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8108198/


Eis a mais grata surpresa do cinema indiano no ano de 2018. Um filme desafiador, que testa a percepção e a capacidade de adaptação a novas conjunturas por parte do espectador, através de reviravoltas constantes. Após a primeira “pirueta” do roteiro – mais ou menos na metade da exibição -, a qual temos a impressão que deve ser o maior – ou o único – ponto de virada na narrativa pela relevância, há praticamente um plot twist por cena. Não dá tempo nem de piscar e a história adquire um viés de imprevisibilidade impressionante. Posso afirmar sem pestanejar: “duvido alguém adivinhar os passos desse roteiro”.

Eis a sinopse: “Akash é um pianista cego e com problemas de inspiração – algo muito problemático para um músico prestes a participar de um concurso de música em Londres. Certo dia, ele é convidado para tocar em um bar por uma moça que o atropelou com sua moto, Sofie, e, em decorrência de sua belíssima desenvoltura ao piano, um famoso ex-ator de Bollywood, Pramod, casado com uma mulher muito mais jovem, Simi, o convida para fazer um recital em seu apartamento para surpreender a sua esposa no dia do aniversário de casamento. Chegando lá, Akash se depara com seguinte situação: seu contratante está morto no chão, Simi está visivelmente nervosa e há um homem escondido no banheiro, o inspetor Mahendra – amante de Simi. A partir daí, o jovem músico se torna testemunha “ocular” – mesmo sem enxergar – de um assassinato e sua vida vira de cabeça para baixo.”

Não esperem assistir ao convencional em filmes de mistério: plantar evidências, esperar que o público se afogue em cogitações e revelar o segredo ao final, que, em muitas vezes, está contido no rol de possibilidades já imaginadas pelos espectadores. É com essa premissa que o diretor Sriram Raghavan desenvolve a trama do filme em tela, apostando na maldade, ganância, vaidade e desonestidade das pessoas, diga-se, dos personagens, e nas implicações de cada surpresa que vai sendo inserida na narrativa ao longo de toda a exibição. O grande pressuposto com o qual o enredo trabalha é a despreocupação dos criminosos com Akash pelo fato dele ser cego, mesmo existindo uma aura de insegurança que insiste em não se dissipar. Essa incerteza perdura por toda narrativa, não apenas em relação ao deficiente visual, mas em relação a diversos outros personagens – até aqueles que temos a impressão que são secundários ou não importantes. Todos eles são duvidosos em suas condutas! Essa é a alma do negócio – ou do roteiro!

Assassinato às cegas” é uma obra sensacional, no sentido estrito de provocar sensações. Há a sensação de desordem, pela quantidade de vias alternativas que são usadas como guias para o roteiro. Há a sensação de expectativa pelo que vai acontecer, pois o assassino é revelado de forma antecipada e, teoricamente, esperamos que o crime seja o maior ponto de interesse da narrativa. Mas, a sensação que abunda mesmo é a incredulidade, pela situações inimagináveis que são postas à mesa. Cabe destacar a bela Tabu, que interpreta a antagonista Simi. Afirmo que esse roteiro tão complexo não teria sido bem sucedido sem uma atuação competente de todo o elenco, porém ela se põe num papel de maior relevância, dada a excelência de sua atuação e a importância de sua personagem na história.

Desta vez, a essência desse roteiro, que é dotado de tanta sagacidade, não foi oriunda de mentes indianas, como podemos esperar pela excelência dos roteiros produzidos em Bollywood. O filme foi adaptado a partir do curta metragem francês “L’Accordeur” (2010), mais conhecido pelo título em inglês, “The piano tuner“. Independentemente disso, a obra francesa tem menos de 15 minutos e o filme em tela tem mais de duas horas. portanto há muito tempo de exibição que teve que ser pensado e construído para chegar ao resultado final. Acabo tendo que dar o crédito mesmo para os roteiristas indianos, por conceder inteligência ao desenvolvimento narrativo, que, diga-se de passagem, é espetacular. Em resumo, fui só elogios para essa obra, pois realmente é por merecimento e não apenas por gostar do cinema da terra dos elefantes. Em alusão à falta de visão do protagonista e a um famoso provérbio, recomendo a todos que mantenham os olhos abertos e vigilantes no peixe, no gato e, principalmente, no coelho que aparece no início do filme, pois ele tem fundamental importância na história.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


5 comentários Adicione o seu

  1. Anônimo disse:

    Boa dica de filme. Gostei muito. Não só bom mas também diferente. Sua crítica foi bastante precisa, párabéns!

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