Confusões à italiana (1966)

Título original: Signori & signore

Título em inglês: The birds, the bees ans the italians

País: Itália

Duração: 1 h e 55 min

Gêneros: Comédia

Elenco Principal: Virna Lisi, Gastone Moschin, Alberto Lionello

Diretor: Pietro Germi

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0062271/


Entre “cornutos” e “putanas“, traições entre casais e amigos, fofocas e rumores, crimes e corrupção temos uma dos mais genuínos representantes da comédia all’italiana. Divertimento elevado à máxima potência, através de um roteiro literalmente anedótico e escrachado, que corrobora com a classificação do filme unicamente no gênero da comédia. O cinema permite que qualquer temática possa ter as mais diversas abordagens. Uma relação sexual consentida com uma mulher menor de idade, que é uma conduta criminosa e o ponto de interesse do terceiro conto do filme, por exemplo, pode ter um tratamento trágico num drama e um tratamento jocoso em uma comédia. Saliento que o debate de todas as temáticas e as situações exibidas de “Confusões à italiana” é totalmente burlesco e voltado a conceder lazer e alegria aos espectadores, sem outras finalidades.

Eis a sinopse: “Trata-se de um filme dividido em três contos bem definidos. No primeiro um homem confessa a seu médico – e  amigo – que é impotente, mas o mesmo não guarda segredo, no entanto a suposta doença era apenas um subterfúgio para ter um caso extra-conjugal. No segundo, um jovem contador, cansado de sua esposa, apaixona-se pela balconista de um restaurante, tenta largar a sua família e é julgado por todos da comunidade. No terceiro, vários homens têm relações sexuais com uma adolescente promíscua e bem desinibida, mas não enxergam as consequências que os atos podem trazer.”

Como se nota, é só confusão – contada da maneira mais italiana possível, isto é, com aquela expansividade intrínseca de sua população em meados do século XX, que identificamos facilmente no sotaque, no tom de voz e na linguagem corporal que eles utilizam freneticamente. Tudo se passa na mesma cidade, Treviso, principalmente em uma locação parecida com uma praça e rodeada por residências e lojas, que permite uma grande aglomeração de pessoas, as quais adoram falar da vida alheia e observam tudo o que se passa pela visão privilegiada e global daquele microcosmo – um ambiente propício para muitas confusões e, às vezes, uma desordem generalizada. Aparenta ser uma pequena comunidade, cujos pilares são homens pertencentes a um mesmo ciclo de amizade e que normalmente seguem uma regra de ouro no cotidiano: descumprir regras, sejam elas religiosas, formalmente legais ou simplesmente de costumes, e, após isso, enlouquecem para apagar os incêndios provocados, mas, talvez, toda a água existente na cidade não seja suficiente para conter as chamas.

O viés sexual perdura por toda a história, pois todas as situações apresentadas remetem à busca desenfreada por sexo extraconjugal pelos protagonistas homens. Não se pode negar que há uma certa misoginia nesse contexto, que pode ser identificada facilmente através de uma simples constatação: as mulheres cobiçadas são tratadas como objetos sexuais e as traídas como obstáculos. Na verdade, na narrativa, as mulheres representam tanto o bem – as amantes – quanto o mal – as esposas. Elas são a pólvora que provoca explosões de amor, prazer, tristeza e repressão. O papel dos homens é de supremacia absoluta. Talvez seja um comportamento natural da sociedade italiana da época, mas, como introduzi no primeiro parágrafo: o papel do filme não é denunciar, criticar ou trazer à tona qualquer tipo de reflexão, e sim divertir – e isso ele consegue com maestria.

Confusões à italiana” é o que posso chamar de comédia profissional. Percebe-se a tradução de temas dramáticos, como a hipocrisia, a volúpia e a luxúria, em cômicos, e também a presença de bastantes reviravoltas para prender a atenção do espectador – como se necessitasse! Tudo isso exibido em um tom leve, com uma trilha sonora jocosa e incessante e personagens em perfeita sintonia com o enredo. Não foi à toa que venceu o Festival de Cannes em 1966 – empatado com o filme “Um homem, uma mulher” de Claude Lelouch, que julgo ser uma obra-prima e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1967. Essa vitória, mesmo dividida, deve ser considerada como um feito notável, pois os grandes festivais de cinema historicamente não premiam comédias desse tipo. Isso só denota excelência!

Infelizmente, não há trailers desse filme no YouTube. Seguem abaixo apenas trechos dele para apreciação.

Adriano Zumba

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