Ventos da liberdade (2018)

Título original: Ballon

Título em inglês:  The Balloon

País: Alemanha

Duração: 2 h e 05 min

Gêneros: Drama, história, thriller

Elenco Principal: Friedrich Mücke, Karoline Schuch, David Kross

Diretor: Michael Herbig

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7125774/


Opinião: “Intrinsecamente atrativo e precisamente histórico.”


Há histórias que são simplesmente tão incríveis que merecem ser disseminadas para que todos tenham a oportunidade de conhecê-las. Essa é uma delas, e nada melhor que seja divulgada através do cinema: uma arte universal que tem um alcance inimaginável. Tal história teve seus direitos comprados pela Disney que a transformou no filme “Dramática travessia” (Night Crossing), de 1982, entretanto, as famílias reais envolvidas nos acontecimentos não o acharam satisfatório. Então, em 2018, foi produzida a versão alemã – nada mais pertinente, diga-se de passagem -, sobre o mesmo enredo e o resultado foi excelente, mas com ressalvas. Segue abaixo as minhas impressões sobre o filme em tela.

Eis a sinopse: “Ballon dramatiza a verdadeira história dos Strelzyks e Wetzels, duas famílias que não aguentavam mais a vida no lado oriental da Alemanha (socialista) e resolveram planejar uma fuga para o lado ocidental (capitalista). Eles construíram um balão em uma adega na cidade de Thüringer, na República Democrática Alemã, esperaram o vento perfeito e atravessaram a fronteira para a Baviera em uma noite fria de verão em setembro de 1979.”

Ventos para a liberdade” é uma obra que atrai do início ao fim de sua exibição, e os motivos para esse magnetismo são inúmeros. O principal deles é maneira como o diretor trabalhou a tensão em seu roteiro. São altas doses de tensão em pelo menos 80% da duração do filme, para coadunar com o ambiente real, propiciado, principalmente, pela atuação da Stasi, a polícia secreta comunista, que, à época, reprimia e vigiava com punhos de ferro os habitantes do lado Oriental da Alemanha. Sempre é bom lembrar que as pessoas que tentassem ultrapassar a fronteira fortemente protegida eram consideradas como traidoras e havia a autorização explícita para que fossem abatidas. Com isso, a história germânica mostra que quase 1000 pessoas perderam suas vidas na tentativa desesperada de fugir do “regime”, no entanto, no caso concreto da história mostrada no filme, o roteiro se abstém de detalhar os motivos para o desespero e a insatisfação das duas famílias, apesar de ser possível imaginar pela conjuntura que é competentemente construída.

Percebe-se que muita persistência e superação na narrativa, que são temáticas sempre agradáveis ao público, pelos sentimentos que despertam. Interessante notar a força do conjunto para a consecução do “plano de fuga”. Mostrar que cada personagem tinha a sua função, a harmonia obtida entre eles e, sobretudo, toneladas de resiliência, foram premissas do roteiro para desenvolver esperança nos espectadores em relação a um possível êxito das famílias em seus anseios, pois é imperioso salientar que se tratava de uma aventura potencialmente mortal. Inserida no contexto, há uma história de amor adolescente entre o filho mais velho de uma das famílias e sua vizinha, a filha de um policial da Stasi. Apesar desse referido amor ser, em algumas passagens, o fato gerador de alguma tensão, achei desnecessário perder tempo com uma história acessória, principalmente por o filme passar das duas horas de exibição e o foco ser perdido momentaneamente. É estranho por a temática ser normalmente atrativa, todavia, no filme em destaque, o amor é apenas coadjuvante – e atrapalha.

Nota-se claramente uma estruturação narrativa padrão de 3 atos: introdução, desenvolvimento e conclusão, contudo, há um desequilíbrio a olhos vistos entre o segundo e o terceiro ato. O diretor se atém bastante ao segundo ato – e isso é até desejável para a incrementar a inteligibilidade da obra – e negligencia o terceiro ato, que é muito curto e carente de um desdobramento melhor das emoções, ou seja, explica-se tudo muito bem, mas a conclusão é insossa, mesmo a história contendo todos os elementos para ser bastante emocionante. Percebam que o tempo perdido com o namorico ora citado poderia ter sido acrescido ao desfecho para proporcionar uma jornada cinematográfica mais rica e emocionante. Apesar disso, é possível obter uma ótima experiência, pois a narrativa por si só é suficientemente interessante para obter a atenção do público e não se pode negar que foi traduzida para a linguagem audiovisual de forma competente na maior parte do tempo. Há apenas um probleminha de timing, que, talvez, passe até despercebido por muitos. No fim das contas, acabam sendo gratificantes as duas horas de tempo consumidas. Nada como o olhar alemão sobre uma história alemã – as coisas ficam mais passionais.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


 

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