The sky is pink (2019)

Países: Índia, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos

Duração: 2 h e 23 min

Gêneros: Drama, família, romance

Elenco Principal: Zaira Wasim, Priyanka Chopra Jonas, Farhan Akhtar, Rohit Saraf

Diretora: Shonali Bose

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8902990/


Citações:

  • “Estou morta, mas esqueça isso!”
  • “O seu céu pode ter a cor que você quiser, inclusive rosa, e não importa o que as outras pessoas digam.”

Opinião: “Um céu que poderia perfeitamente ser negro, mas que consegue obter uma coloração mais alegre: cor-de-rosa.”


O cinema indiano carrega em sua essência a capacidade de emocionar os seus espectadores e muitas vezes critico esse viés por considerar que os roteiros são construídos de modo a forçar sensações. No entanto, quando é utilizada uma história verídica, que, segundo li, está bem fidedignamente representada pelo filme, esse caráter piegas ora citado perde sua força, pois há a oportunidade de se observar a realidade, a vida como ela é: cheia de desafios, os quais despertam os mais diversos sentimentos. Assim, “The sky is pink“, dramatizando a vida de pessoas reais, aborda uma temática dolorosa – a morte -, mas é desenvolvido de modo a minimizar as consequências ruins de seu fio condutor, pois utiliza, por vezes, uma narrativa leve e vibrante, na qual a emoção despertada é automática pela conjuntura e não imposta pelo roteirista/cineasta. O filme em tela ressoa uma melodia emocional em toda a sua duração, mas não deixa cicatrizes.

Eis a sinopse: “Aisha Chaudhary, pouco tempo depois que nasceu, é diagnosticada com SCID, um distúrbio genético raro que ameaça a sua sobrevivência. Nesse cenário, seus pais escolhem como objetivo de vida empregar todos os esforços e lutar contra todas as probabilidades para enfrentar as crises que estão surgindo – e surgirão – no caminho de Aisha, para que a morte se mantenha sempre distante de sua filha, apesar de terem ciência de que a possibilidade de tudo ser em vão é imensa.”

The sky is pink” é um filme no qual o desfecho é conhecido desde o início, pois é narrado postumamente, direto do além. Tão estranho como sagaz! Essa estrategia me lembrou “O homem que amava as mulheres” (1977), de François Truffaut, no qual um homem morto narra suas peripércias amorosas. A sensação de inevitabilidade que recai sobre a narrativa é inconsciente e involuntária, mas, nos dois casos, no filme francês e no indiano, esse detalhe não estraga a experiência do espectador, pois as histórias narradas possuem tantos pontos de interesse que a jornada cinematográfica consegue ser excelente. Em relação ao filme em tela, resumidamente, o primeiro ato é deveras intenso e já obtem facilmente a atenção do público pelo drama e pela emoção, o segundo ato, o desenvolvimento, arrasta-se um pouco, pois seu ritmo diminui pela inserção de muitas nuances da vida dos personagens – o que deixa o filme muito longo -, e o terceiro ato, o desfecho, é tão intenso e emocionante quanto o primeiro. Nota-se que alguns minutos e algumas situações abordadas a menos seriam pertinentes, mas a narrativa é envolvente o suficiente para que essas afirmações sejam abstraídas. O espectador mais exigente vai perceber que realmente faltou objetividade em alguns momentos.

Talvez, a palavra que melhor descreva o filme seja equilíbrio, principalmente no tocante às emoções. Percebe-se que o melodrama nunca toma corpo numa narrativa que preenche todos os requisitos para tal. Tal característica se deve à construção dos personagens e as respectivas atuações de seus intérpretes. O presumido foco do enredo é Aisha, mas, na verdade, esse foco é compartilhado com sua mãe, Aditi, interpretada pela bela Sra. Nick Jonas, Pryanka Chopra. Ambas entregam personagens bem definidos que cumprem muito bem suas funções no contexto global da obra – e da história real. Respectivamente, o pai e o irmão de Aisha, Niren e Ishaan, são mais apagados. Pryanka está fenomenal e entrega uma de suas melhores atuações em Bollywood, ao conseguir reproduzir em sua personagem uma miscelânea de sentimentos, desde o desespero até a esperança, desde a vulnerabilidade até a resiliência. Aliás, o olha de uma mulher, a diretora Shonali Bose, sobre a narrativa real concede um enfoque especial sobre a mãe na tradução para a linguagem cinematográfica. Zaira Wasim –  a mesma protagonista de “Secret Superstar” (2017) -, intérprete de Aisha, por sua vez, brilha menos do que a beldade indiana, entretanto, passa para o público um certo despojamento quanto à sua situação com competência, e, também, não se furta de “ser humana” quando necessário, desalentando-se e entristecendo-se nos momentos certos, e vivendo com plenitude sempre que possível. A interação entre Aisha e Aditi é a alma do filme, entretanto, todo o contexto familiar deve ser considerado, inclusive o desenvolvimento da relação entre Aditi e Niren, pois é de suma importância dentro da história.

Ademais,  constata-se que o envelhecimento de personagens que percorrem uma grande linha temporal numa mesma narrativa – e são interpretados pelos mesmos artistas –  ainda é um desafio para o cinema indiano – ou um aspecto negligenciado. Pode ser até preciosismo de minha parte, mas um detalhe como esse retira a originalidade da obra. Nesse caso concreto, mexer apenas nos cabelos dos personagens é muito pouco, todavia, ainda achei melhor do que a utilização da “maquiagem padrão” da indústria bollywoodiana, que é terrivelmente ruim. Detalhes à parte, a irreverência com a qual uma história tão essencialmente triste é contada faz de “The sky is pink” uma ótima recomendação. Trata-se de uma tentativa bem sucedida de representar a vida após a morte com intrínsecos requintes de emoção. Mesmo retratando a morte e contendo algumas abordagens sexuais, é um filme para a família, por mostrar que até no final de tudo pode-se extrair alguma beleza.

Para quem tem vergonha de chorar durante a exibição de um filme, recomendo manter umas cebolas por perto e cortá-las sempre que necessário para servir como justificativa. 🙂

Obs.: Disponível na Netflix.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


3 comentários Adicione o seu

  1. BENTO ROMUALDO DE MATOS disse:

    Excelente!

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