Cries from Syria (2017)

Países: Estados Unidos, República Tcheca

Duração: 1 h e 51 min

Gêneros: Documentário, drama

Elenco Principal: Hadi Al Abdullah, Raed Al Saleh, Riad Al-Asaad

Diretor: Evgeny Afineevsky

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt6319654/


Citação: “Você vê aquele lixo (escombros), mas descobre que não é só lixo. São os corpos de pessoas largados na rua.”


Opinião: “Tão revoltante que é difícil expressar em palavras. Obra-prima humanitária da sétima arte!”


Penso que a melhor maneira de conhecer e aprender sobre a história da humanidade é através do cinema, principalmente por intermédio dos documentários. Há diversas obras audiovisuais que proporcionam um bom entendimento global sobre determinado fato histórico e outras que abordam apenas algumas nuances específicas, alguns detalhes. O filme em tela, “Crise na Síria“, situa-se na primeira categoria e pode ser considerado como uma aula de história contemporânea ao apresentar de forma bastante didática a chamada Guerra Civil Síria, desde a sua origem até os dias atuais – na verdade, até o ano de 2017, época da produção do documentário. Tenho o hábito de assistir a diversos filmes sobre o mesmo tema, e, em relação à passagem histórica ora citada, na minha opinião, o documentário em tela é o mais completo já produzido. Sua exibição proporciona muito conhecimento, além de um turbilhão de sentimentos: revolta, tristeza, comoção, angústia, perturbação, etc. Trata-se de um filme de difícil audiência, mas atribuo a ele o viés da necessidade. Seguem abaixo as minhas impressões.

Eis a sinopse: “O documentário foca em manifestantes, ícones da revolução, ativistas e seus parentes, e generais do exército de alto escalão que desertaram para se juntar à luta do povo. Ele conta a história do povo sírio que nunca perdeu a esperança. Este filme vai levar o espectador a uma viagem única no tempo, da Síria à Turquia, através da Jordânia, Líbano e Europa. Veremos a situação de dentro para fora e através dos gritos da Síria.”

Os filmes sobre a Guerra da Síria seguem mais ou menos um “roteiro padrão”: bombardeios abundantes de aviões russos, com explicações sobre o arsenal utilizado; ataques com armas químicas; retirada de corpos de montanhas de escombros; exibição intensa da morte, principalmente de crianças, como as maiores vítimas; pessoas sobrevivendo em meio às necessidade; a situação dos refugiados; etc. “Crise na Síria” não foge dessas características – e não deve mesmo fugir -, porque o regime de Bashar Al-Assad controla a imprensa e aos vídeos de ativistas que lutam por liberdade e aos documentários que abordam a situação do país é atribuída a importante missão de mostrar ao mundo as atrocidades que vêm sendo cometidas há quase uma década pelo ditador e seus aliados. No entanto, mesmo com um modus operandi usual quanto à temática, o filme consegue uma grande diferenciação em relação aos demais pela “capacidade pedagógica” que possui e por chocar de maneira muito mais intensa do que qualquer outro documentário sobre o assunto, vide a cena do ataque com armas químicas.

O filme exibe os fatos dispostos em ordem cronológica, capitulando-os de acordo com subdivisões didáticas, e constrói uma teia de informações que leva a uma ampla compreensão do contexto global. Exibe o ditador do país em seus discursos e o contradiz com argumentos fortes e documentados, ou seja, com fotos ou vídeos. Não possui desvios narrativos. Há um objetivo simples e direto: dissecar a história para clamar pelo povo sírio, mesmo provocando inquietação absoluta, isto é,  doa a quem doer. Sobre essa nuance da obra, até sua abertura já retira o espectador totalmente de sua zona de conforto através de uma imagem que rodou o mundo e provocou comoção geral na época de sua veiculação na mídia (a foto exibida no início desse post) – apenas um presságio do que estaria por vir nos próximos 100 minutos de exibição. Através de tudo o que é mostrado, a imersão do público na história é automática e, após o fim, não restam dúvidas sobre qualquer assunto relacionado à Guerra da Síria, pois contra fatos não há argumentos – e que argumentos: a maldade e a desumanidade consubstanciadas em imagens!

Através de filmes como esse, constata-se que o mal está enraizado na alma de algumas pessoas, e que a vida alheia nada vale quando dinheiro e poder estão envolvidos. Para complementar a experiência, sugiro a leitura de um artigo resumido, mas muito rico sobre a situação da Síria nos últimos 10 anos: clique aqui.

Para encerrar: viewer discretion is advised, ou seja, não recomendo esse documentário para pessoas sensíveis. É um filme que deixa o espectador sem palavras! Com certeza, será um dos documentários mais tristes a que você, caro leitor, assistiu em sua vida.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.