Cinema: Corrente do Mal

Corrente do Mal

Há muito tempo Hollywood precisava de um filme de terror como Corrente do Mal. Se você comparar a qualidade dos últimos filmes do gênero, com a quantidade lançada, o aproveitamento de bons filmes é baixíssimo. A começar pela fórmula repetitiva que longas utilizam. Invocação do Mal é um dos que escapam dessa nova safra de filmes, mas é muito pouco para um gênero que tem grandes clássicos. Corrente do Mal encontra um novo caminho, e nos mostra que ainda é possível fazer filmes de terror com qualidade.

Se você analisar a sinopse pode imaginar que o filme seria mais do mesmo: o filme trata de uma força maligna que é transmitida sexualmente. A sinopse realmente não entrega nada e o filme é muito mais denso e tenso do que se imagina. Esse é apenas o pontapé de partida para um filme que tem um roteiro inteligente e que critica alguns hábitos realizados por nossa sociedade hoje em dia.

O filme inicia com uma cena linda de tão aterrorizante que é, e nos faz imaginar: “quem ou o quê fez isso com aquela garota?” Para melhor explicar, essa força maligna é transmitida sexualmente. Depois da pessoa ser “contaminado” por ela, você começa a ver pessoas perseguindo-a com o intuito de matá-la. Para evitar a própria morte, ela precisa transar para passar a maldição para outra pessoa. Caso a pessoa contaminada morra, a pessoa anterior volta a ser perseguida, e assim essa corrente do mal não tem fim.

Esse enredo parece bobo, mas o filme mostra muito mais coisas interessantes do que se imagina. Esse belo roteiro escrito pelo também diretor do longa, David Robert Mitchell, se mostra com um contexto bastante atual em nossa sociedade. O filme abre espaço para a paranoia que vivemos em meio a falta de segurança, de achar que todos podem ser pessoas que podem nos fazer algum mal. O diretor mostra brilhantemente assuntos ousados como prostituição, afinal de contas a personagem principal tem que procurar transar com qualquer um para se livrar da maldição e poder sobreviver. O diretor foi tão genial que praticamente o filme inteiro só observamos os jovens, apesar de uma das personagens sempre dizer “que a mãe está em casa”, não vemos os pais dos jovens. Aqui há uma crítica a ausência dos pais no crescimento dos filhos. São sacadas sociológicas como essa que fazem de Corrente do Mal um dos melhores filmes de terror dos últimos 15 anos.

A direção de David Robert apresenta elementos incríveis de enquadramento e fotografia. O diretor consegue utilizar muito bem ângulos nos atores que nos fazem observar o quanto tensa é a história. A parte final pode até parecer um pouco exagerada, mas é impossível negar a qualidade do filme. O diretor conseguiu criar uma atmosfera aterrorizante com uma história simples, mas muito eficaz nos dias de hoje, na qual quem causa medo e tensão é o próprio ser humano.

A trilha sonora perturbadora é sensacional. Uma trilha que nos remete muito a O Iluminado, combina inteiramente com todos os elementos do longa. Temas que realmente nos fazem ter medo e que nos ajudam a ser transportados para dentro da história e poder observar melhor os sofrimentos da protagonista.

A direção de arte do filme teve um trabalho bem interessante. Em momento algum sabemos em que ano se passa a história, porém em cena podemos observar carros antigos, televisores de décadas atrás, assim como os filmes que os atores assistem, mas também observamos uma cena em que uma das atrizes utiliza um smartphone. Independente da ano, esses temas são capazes de adentrar em qualquer época. Outro acerto do diretor.

Enquanto a franquia Sexta-Feira 13 era famosa por mostrar cenas de sexo e pessoas nuas gratuitamente, aqui o sexo e a nudez são elementos fundamentais e importantes para a história. Nada explícito demais, fica mais subjetivo. A atriz Maika Monroe a protagonista da história, merece destaque, por retratar muito bem o sofrimento da personagem que precisa fazer sexo para sobreviver.

Corrente do Mal oferece ao gênero do terror um novo fôlego. É ótimo saber que ideias interessantes ainda podem surgir em um gênero que vive uma seca, mas que já teve tantos filmes clássicos.

Nota 9

It Follows, 2014. Direção: David Robert Mitchell. Com: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Daniel Zovatto, Jake Weary, Linda Boston, Olivia Luccardi, Lili Sepe, Heather Fairbanks. 100 Min. Terror.

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