Crítica | A Torre Negra

Adaptação lembra os bons filmes de fantasia da década de 1980

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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Durante anos falou-se em uma adaptação da saga literária A Torre Negra, escrita por Stephen King. Com sete livros, somando cerca de 3 mil páginas no total, o cinema parecia ser um caminho difícil. O caminho ideal seria uma série de TV, que chegou até a ser cogitada, mas até hoje não foi pra frente. Então, como não adianta nada ter os direitos de uma obra e não fazer nada com ela, a Sony Pictures decidiu voltar suas atenções novamente para o cinema. Praticamente impossível de ser adaptada em um único filme, a saga do pistoleiro Roland Deschain sofreu diversas mudanças em relação aos livros, o que pode desagradar os mais fanáticos pela obra. O roteiro escrito por Nikolaj Arcel, Akiva Goldsman, Jeff Pinkner e Anders Thomas Jensen pegam diversas características da história que aparece ao longo dos livros e juntam tudo em uma coisa só. O resultado final é um filme de ação e fantasia bem divertido, mas que lembra muito pouco a obra original de Stephen King.

Nos livros acompanhamos o Pistoleiro vagando por uma terra devastada, enquanto procura pela Torre Negra e pelo Homem de Preto, numa história extremamente densa e com bastante violência. Durante a jornada, ele acaba viajando para outros mundos e enfrentando todo tipo de ameaça diferente. É uma história bastante adulta e com um protagonista que está disposto até a sacrificar as pessoas ao seu redor para alcançar sua vingança. Já no filme A Torre Negra, essas características foram modificadas em prol de uma classificação indicativa menor. Apesar de ainda possuir o objetivo de matar o Homem de Preto (Matthew McConaughey), o Roland Deschain (Idris Elba) tem uma postura muito mais heroica do que a sua contraparte nos livros. Além disso, ele divide o protagonismo com Jake Chambers (Tom Taylor), uma criança que possui poderes psíquicos capazes de destruir a Torre Negra e, por isso, tornando-se alvo do Homem de Preto.

Esta grande importância de Jake faz com que o filme lembre bastante as produções de fantasia da década de 1980, quando sempre tinha uma criança destinada a um grande propósito. Órfão de pai e maltratado pelo padrasto, Jake ainda consegue manter o otimismo e espírito aventureiro de uma criança. Isso acaba fazendo com que ele sirva como um guia para Roland, que também perdeu o pai, o que fez com que ele perdesse completamente a esperança, ao contrário de Jake. Assim, o filme segue à risca a velha fórmula dos filmes de fantasia, com os dois personagens se complementando e se ajudando para superar seus problemas. Já o Homem de Preto aparece aqui como o típico vilão que quer apenas destruir o mundo (mundos nesse caso) sem qualquer motivo aparente, apenas pelo prazer da destruição e de mostrar que é poderoso. A história ainda encontra espaço para pequenas referências à obra original, como Roland tomando remédios na Terra. Além de ter menos violência que os livros, A Torre Negra é um filme bastante otimista, com Jake Chambers passando por diversas adversidades sempre com bastante esperança.

Com apenas uma hora e meia de duração, o filme não perde tempo tentando esconder coisas do espectador. A função da Torre Negra, por exemplo, é explicada logo no começo, sem que pareça muito didático. Essas explicações simples e rápidas fazem com que o filme tenha mais tempo para suas cenas de ação, que no geral são bem divertidas. O combate de Roland, utilizando apenas os seus revólveres, contra dezenas de lacaios do Homem de Preto é empolgante. No geral, Nikolaj Arcel é competente ao dirigir todas as cenas de ação. Mesmo com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo na tela, o espectador nunca fica perdido com relação ao que está acontecendo e onde está cada personagem. Mesmo depois de várias cenas de ação, o combate final entre o Pistoleiro e seu arqui-inimigo ainda consegue se manter interessante, já que envolve um personagem utilizando revólveres antigos e o outro usando magia.

O design de produção também é muito bom ao contrastar tecnologia e cenários antigos, além de nos fornecer pistas de como era o Mundo-Médio antes dele seguir adiante. Por falar no Mundo-Médio, no filme ele é um pouco mais habitado do que nos livros, já que Roland e Jake precisam interagir com mais pessoas. Já o covil do Homem de Preto possui aquele clima opressivo que todo esconderijo de vilão precisa ter. Apesar de todas as diferenças com relação à obra original, A Torre Negra consegue ser um filme bastante divertido para aqueles que conseguirem ignorar o material no qual ele foi baseado. Fica claro que o objetivo dos realizadores era fazer um filme de fantasia bem simples e que pudesse divertir toda a família. Neste caso, o objetivo deles foi alcançado.

A Torre Negra (The Dark Tower, EUA)

Ano de Lançamento: 2017

Duração: 1h 35min

Direção: Nikolaj Arcel

Roteiro: Nikolaj Arcel, Akiva Goldsman, Jeff Pinkner e Anders Thomas Jensen

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.