Crítica | Wer

História dá uma repaginada em um antigo mito

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

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O começo de Wer aparenta ser mais um dos manjados filmes de terror found footage, aqueles em que uma fita é encontrada e passamos a projeção inteira vendo imagens tremidas, como o excelente A Bruxa de Blair, de 1999. Conforme uma mulher dá um depoimento em um hospital, acompanhamos pela tal fita o ataque que ela e a família sofreram, sem nunca vermos o aspecto do que os está atacando. Quando parece que o filme vai seguir esta linha de mistério durante todo o tempo, logo a polícia consegue um suspeito do crime e o leva preso, transformando o filme em um suspense.

Filmando sempre com a câmera na mão, o diretor William Brent Bell nunca abandona o estilo documental do início. Para tentar dar ainda mais toque de realidade, ele utiliza várias imagens de câmeras de segurança e circuito interno dos prédios. Com isso, ele cria uma atmosfera bastante tensa sempre que os personagens estão na presença de Talan Gwynek, o suspeito do assassinato. Para aumentar o clima de tensão, o ator Brian Scott O’Connor interpreta Talan de forma sempre tímida e frágil, contrastando com sua aparência quase primitiva. Com toda a sua altura, cabelos e barba compridos e mãos bem grandes, além de ser suspeito de um assassinato brutal, nunca sabemos do que o personagem realmente é capaz.

Com todo esse clima de suspense formado durante o primeiro ato, é uma surpresa quando o filme passa a adquirir contornos de terror por volta da metade da história. E aqui a produção passa a ser um deleite para quem curte o estilo gore. São várias mortes violentas, com direito a desmembramentos e decapitações. Nem sempre os efeitos visuais são bem feitos, sendo possível perceber a computação gráfica em algumas cenas, mas nada que comprometa a diversão das mesmas. Claro que essa mudança de tom pode desagradar quem preferia o clima de suspense, mas eu achei bem interessante, apesar de não combinar com o tom documental adotado pela produção do filme.

Aliás, falando em tom documental, embora ele seja o responsável por fazer o espectador se sentir parte da investigação, é ele também que deixa o filme um pouco arrastado em certos momentos. Boa parte do começo e do final do filme é dedicada a mostrar vários noticiários na TV que não acrescentam praticamente nada à trama. Além disso, o roteiro do filme ainda inclui uma subtrama envolvendo o chefe de polícia que não chega a lugar algum e parece estar ali apenas para preencher tempo de tela e tentar dar alguma profundidade a uma história que não precisava. Apesar disso, Wer é um filme de terror divertido e que, além da violência, consegue dar uns bons sustos nos momentos certos.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.