A Visita

Gostei de A Vila, Sinais, Corpo Fechado, A Dama na Água e agora gostei desse novo, A Visita. Não sou a pessoa certa pra falar de NOSSA COMO O M. NIGHT SHYAMALAN PERDEU A MÃO DESDE O SEXTO SENTIDO. Acho que todos esses filmes têm umas coisinhas bobinhas, e todos levam, também, as marcas do trabalho do diretor. O problema é que às vezes as coisinhas bobinhas e as marcas autorais são a mesma coisa. Acho que é por isso que ele leva tanta pedrada. Ele meio que vai irritando a gente com umas insistências. De qualquer forma, tenho a impressão de que ficar vendo tudo em termos de ascensão e decadência não explica a coisa toda. Por isso, gostei muito quando vi algumas pessoas, no Filmow, sugerindo que se esse filme novo, A Visita, fosse de um iniciante de quem ninguém nunca ouviu falar, ele seria recebido de maneira diferente.

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Gostei, o filme é bom, vale o tempo perdido. Dois irmãos adolescentes, uma menina e um menino, vão passar uma semana na casa dos avós que eles nunca conheceram. Acontecem coisas estranhas – se não acontecessem não haveria filme. Esta é a parte do suspense, os sustos são moderados, nada muito grandioso. Tirando duas cenas, ninguém vai ficar com muito medo. Só que o clima é bom. A história acaba te interessando. Isso parece pouco, mas tem muito filme badalado que não tem isso. Esse tem. A gente fica sabendo que dali vem coisa.

Momento João e Maria

Momento João e Maria

Acho que pelo menos metade disso é responsabilidade dos jovens atores que fazem os dois irmãos. A menina e principalmente o menino, que também é um dos alívios cômicos do longa. A relação entre eles acaba se tornando mais importante do que o mistério a se desvendar. Muitas vezes, quando um filme tenta fazer esse desvio, tudo fica chato e bobo e a gente fica com aquela sensação de que pagou pra ver uma coisa e acabou vendo outra. Aqui não. Esse fundinho emocional serve ao que está sendo contado e vice-versa. Nada de muito profundo, é claro. Só o básico feito de uma maneira simples.

Vovó meiga

Vovó meiga

Agora, tendo dado uma colher de chá ao M. Night Shyamalan, já que todo mundo adora bater nele, e depois de destacar o carisma dos atores, vale também dizer que ninguém aguenta mais esse estilo found footage. E o Shyamalan resolveu que era por aí que ele queria andar. O found footage tem sempre um efeito paradoxal: ele quer parecer mais real, mais perto da vida das pessoas, mas acaba sempre ficando artificial, travado e constrangedor. Na maioria das vezes é feio, desestimulante, tira a gente do filme e faz parecer que todo o departamento de arte simplesmente ficou com preguiça.

Ou não.

Ou não.

Eu ainda não consegui vencer aquela descrença básica, tipo: MEU DEUS PQ DIABOS NUMA HORA DESSAS ESSA PESSOA AINDA SE PREOCUPA EM SEGURAR UMA CÂMERA?, maaaas, lá pelo minuto 30 de A Visita, fica claro que esse é um recurso que pode até incomodar pouco nas mãos do Shyamalan. Se tem uma coisa que une todos aqueles filmes dele que eu citei no primeiro parágrafo, é a noção explícita que eles transmitem de que aquilo é ficção, um conto, uma historinha. Pelo menos até onde eu sei, ele nunca teve nenhuma pretensão realista, e assim A Visita fica com cara de cinema, mesmo que os adolescentes fiquem o tempo todo falando com a câmera e posicionando-a convenientemente num lugar em que ela jamais estaria se a situação fosse verdadeira.

É isso. Bons momentos. E eu quase morri na cena da fralda.

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