Fear The Walking Dead é ruim?

Quando a gente não sabe o que pensar sobre uma coisa é bom começar do básico e fazer umas perguntas objetivas, tipo essa. Fear The Walking Dead foi ruim? Não sei responder. Sei dizer que não adorei, que o piloto deixou minha expectativa lá no alto, e que tudo o que veio depois não correspondeu. Mas, não sei. Fico com a sensação de que eu é que estou errada, eu que não deveria estar assistindo a essa série.

Adorei esse clima praia/verão da série

Adorei esse clima praia/verão da série

Eu sempre fico muito chateada quando não consigo curtir junto com todo mundo essas coisas que agradam muita gente e que causam tanto auê por aí, tipo TWD e Game of Thrones. É muito gostoso estar no olho do furacão pois com essas franquias grandes vem muito conteúdo pra gente ler, comentar, discutir. Quando eu sento e vejo que aquela série que todo mundo ama não é o meu tipo, me dá uma frustração e eu fico como aquela criança do lado de fora da rodinha. É muito frustrante. Com Game of Thrones, por exemplo, eu sabia que aquilo ali não era pra mim. Foi só bater o olho em todos aqueles homens com vestimenta mais ou menos medieval que eu já sabia. Mas Mozão me obrigou. Fez alguma chantagem que agora eu não lembro e quando eu vi estava lá, com uns 20 minutos do episódio piloto e sem prestar atenção em nada. Não gostei, tudo bem, ninguém deve se obrigar. Agora, morro de inveja de quem gosta e tem os livros pra ler, os vídeos para assistir, as teorias pra elaborar.

Por isso, eu saí da minha zona de conforto e comecei a ver The Walking Dead. Tem zumbis, tem fim do mundo, tem ação, violência, gente bonita. A primeira e a segunda temporadas foram duas das coisas mais machistas que eu já vi na televisão, tipo: o mundo acabou ontem e as mulheres já estão lavando roupa no riacho enquanto os homens saem para caçar. Mas eu fui indo e quando vi estava em dia com a série, terminando a quinta temporada e já no aguardo da sexta.

Nunca foi a minha série favorita, eu nunca fiquei ansiosa pelo próximo episódio, só li o primeiro gibi da franquia, mas acompanho só pelo evento. A internet adora The Walking Dead, Mozão adora fim do mundo, todo mundo ama zumbis. E aí anunciaram Fear The Walking Dead.

Eu sei que fui inocente, mas acompanhe meu raciocínio. Uma série derivada nunca vai ser igual à original, por mil razões. Eu achei que eles iriam entender isso, ressaltar as diferenças, e tentar fazer sucesso com os pontos de contato entre os dois pedaços do mesmo universo. Eu inocentemente imaginei que os produtores envolvidos nas duas séries iriam tomar umas decisões diferentes em FTWD, no que diz respeito ao desenrolar da trama, e que por causa disso a dinâmica dos acontecimentos iria ser outra, já que na série derivada eles ganham a oportunidade de começar tudo (quase) do zero.

O piloto de FTWD me levou a pensar que eu estava certa. Naquele ponto, tudo parecia diferente e interessante. Deixa eu apresentar um exemplo. Bem no comecinho, com Nick no hospital, chegam a mãe dele e o padrasto. A mãe dele parece independente, forte, determinada. O padrasto é claramente um sujeito mais pra intelectual do que pra trabalhador braçal. O que acontece quando eles travam uma conversa com alguém do staff médico? Ela fala tudo, ela decide, questiona, tem temperamento explosivo, enquanto ele, o parceiro dela, fica quieto e parece calmo, ponderando cada possibilidade. Eu adorei essa dinâmica e, a princípio, adorei esse casal. As habilidades dele, naquela altura, pareciam totalmente opostas às do Rick Grimes, o protagonista de TWD. E são, na minha opinião, habilidades importantíssimas para lidar com situações de crise, como o apocalipse.

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Mas no universo de TWD elas não servem pra nada. Eu, boba, achei que os produtores tinham percebido isso e estavam investindo em um novo tipo de mocinho. Com decepção, depois, eu vi que pra série esse na verdade era o maior defeito do personagem que eu gostava. Ele é um professor de literatura, alguém que tem reservas quanto a matar, e esse temperamento ponderado no fim vai fazer com que ele seja um pé no saco. E pior: um pé no saco que, no fim das contas, ou vai morrer por causa de seus defeitos, ou vai acabar se convertendo ao jeito de todo mundo.

Pra encurtar o argumento: os arcos dos personagens principais de FTWD são, quase que ponto a ponto, iguais aos dos da série original. Quem não quer acreditar que o mundo virou um cocô ou morre ou é engolido pelo mundo. Poxa, a essas alturas, todo mundo que assistiu meio episódio da série original já entendeu que esse é o centro daquilo que TWD quer contar. Se a gente fosse parar pra pensar numa possibilidade real de pós-apocalipse, talvez fosse mesmo esse o jeito como o mundo ia rodar, mas… a troco de quê começar uma série (quase) nova e não trazer questões novas e abordagens diferentes? A troco de quê fazer personagens novos que executam quase que exatamente as mesmas funções dos antigos?

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TWD carece de mais personagens astutos, perspicazes, que vencem mais pela inteligência do que pela força. A Carol é assim, e apesar de todo mundo adorá-la, ela nunca parece confiável, sempre quase a ponto de cair na vilania. O Glenn era assim, inicialmente, mas ele também se converteu em machinho alfa. Nesse sentido, as duas séries fazem uma separação muito clara. Pode perceber: tem conversa, conversa, papo, papo, decisões pra lá e pra cá, mas o que resolve mesmo é a capacidade de matar, bater, tirar sangue, arrancar pedaço. Tudo bem, afinal de contas, eles estão lidando com mortos vivos sedentos por carne humana, mas nem tudo precisa ser assim ou preto ou branco. Uma pessoa pode ser mais ou menos intelectualizada e pacata sem ser um completo covarde que não sabe cuidar da própria vida nem quando um zumbi está prestes a cravar-lhe os dentes na canela.

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Eu achei que FTWD pudesse aparecer para complicar um pouquinho essas simplificações que a franquia faz, mas não foi o caso. Daí agora eu não sei dizer se essa primeira temporada da série foi ruim. Sei dizer que não foi feita pra mim.

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