5 Filmes para chorar até soluçar

Depois de ler o texto da Isabela Boscov sobre Como eu era antes de você e  outros filmes que a fizeram chorar, resolvi usar a ideia dela e montar uma lista com os filmes que mais me fizeram chorar descompassadamente. Mas não vale qualquer filme. No texto, Isabela Boscov fala de como o longa com Emilia Clarke leva o público às lágrimas (admito que chorei tanto com o livro que não sobrou nada para o filme) de um jeito prudente, como se houvesse uma rede de proteção ali, e por causa dessa rede a emoção momentânea com a história tristíssima não chegasse a causar verdadeira tristeza.

Isso é muito verdade. Gostei muito dessa distinção que ela fez entre os filmes que fazem chorar numa espécie de zona de conforto e aqueles que te jogam no abismo e dizem “vai lá, agora que você veio, segure essa tristeza e dê um jeito de viver com ela”.

Na primeira categoria, eu lembro de alguns filmes que me deixaram em prantos, mas que não me abalaram, como: Outono em Nova York, Noites de Tormenta e Diário de uma paixão. Com eles eu chorei, mas admito que não sofri de verdade porque, afinal, uma história de amor planejada para nos fazer chorar é só isso: uma história bela e triste que enternece sem nos ferir de verdade, porque quando rolam os créditos tudo é lindo e a vida vale a pena. O que não é o caso dos filmes da segunda categoria. A lista que você vê aqui traz cinco filmes que me fizeram chorar como se não houvesse amanhã. Todos eles me comoveram e me deixaram com uma tristeza permanente. Eu posso estar rodeada de gente, num dia de sol e comendo churros, e ainda assim vou lembrar de uma cena de um desses filmes e pensar que o mundo é muito triste.

Umberto D.

umberto-d

Melhor começar a lista com aquele que mais me fez chorar na vida, não? Umberto D. é antigo, p&b, italiano e não parece apetecer muito, né? Na época eu estava viciada em filmes do neorrealismo, e havia me apaixonado pelo Vittorio de Sica com Ladrões de bicicleta. Foram vários filmes tristes de partir o coração e de despertar muito choro, mas nenhum chegou perto do velhinho Umberto D. e de seu cachorrinho, que são despejados de casa e vagam pelas ruas, buscando uma forma de viver com dignidade. Só de escrever isso já dá vontade de chorar. Nunca mais consegui assistir a esse filme, e me lembro muito bem de chorar nele inteirinho. Quando sentia que conseguiria parar de chorar, lá vinha mais uma super tristeza pra me fazer soluçar novamente. Velhinho e cachorrinho, pobreza e injustiça. Não dá para segurar.

Amor pra cachorro

Year Of The Dog

Ainda falando em cachorrinho, este filme com a Molly Shannon é comovente e até tem uma mensagem positiva, mas é muito triste. Peggy vive sozinha com Pencil, seu cachorro e único companheiro. Depois de uns acontecimentos que me fizeram chorar um pouquinho, a vida dela muda drasticamente. Por falta de um rótulo melhor, o filme se vendeu como uma comédia, e admito que ele engana que é leve em vários momentos. Todo ele é uma jornada em que Peggy descobre que, para ser feliz, não precisa buscar a felicidade nos moldes dos outros. Eu me identifiquei muito com a Peggy e seus relacionamentos danosos, seus aprendizados difíceis, por isso chorei e chorei muito. No fim das contas, tentar ser você mesmo nem sempre é garantia de felicidade.

No mundo da lua

no mundo da lua

Até hoje me revolta este título brasileiro para um filme que se chama The man in the moon. Pode parecer inofensivo, mas poxa, estar “no mundo da lua” é outra coisa – que droga. O filme é do diretor Robert Mulligan, de quem eu vi muitos filmes na época em que eu frequentava uma cinemateca excelente. Por causa disso, era para eu ter só boas lembranças de Mulligan e desse período. Mas no meio do caminho tinha um acidente. Outros filmes dele me fizeram chorar, mas escolhi The man in the moon apenas por uma cena muito chocante, inesperada, da qual não se pode voltar, e que sempre passa em minha mente quando eu vejo determinada máquina agrícola. É uma tristeza definitiva. Acho que é o primeiro filme de Reese Witherspoon, e ele começa de um jeito muito doce, com a história de duas jovens irmãs que vivem no interior dos Estados Unidos e levam uma vida simples e sem grandes atropelos. Elas conhecem um garoto, mas a Reese Witherspoon é novinha, enquanto sua irmã está no fim da adolescência. As duas se apaixonam por ele, mas só uma é correspondida. O filme não parecia ser mais do que isso, e ele estava sendo contado de um jeito tão leve que eu já estava feliz e conformada por achar que tinha entendido tudo. E aí toma: acontece uma super reviravolta, e a cena em que ela se dá é tão forte que eu chorei de choque. Sim, é bem impactante e bem triste, mostra que ninguém tem controle sobre a vida e que não adianta fazer planos. Acho que este filme ainda está na Netflix.

A liberdade é azul

a felicidade é azul juliette binoche

Outro de cortar o coração. A liberdade é azul é do Kieslowski e faz parte da trilogia das cores. Depois de ver esse filme senti que o meu coração havia sido esmagado, chutado, pisoteado e molestado até não poder mais. Dos cinco citados na lista ele é o que poderia ter a história mais parecida com os filmes que eu citei lá em cima, e  para algum desavisado passaria como um entre os que fazem chorar na zona de conforto. Nada seria mais equivocado. O mundo é um lugar ao mesmo tempo bonito e terrível. Juliette Binoche perdeu a filha e o marido, está de luto, e depois de quase desistir de viver, decide dar mais uma chance à vida. A história é triste mas dá muito bem para imaginar um filme assim com a Jennifer Aniston, né? Mas A liberdade é azul consegue nos tocar e sensibilizar não por ficar remoendo a morte, mas por mostrar que mesmo num momento obscuro, é possível viver. Essa mensagem é apavorante: é possível que o pior aconteça e que mesmo assim você consiga ficar de pé. Ou melhor: o pior vai acontecer e a sua obrigação é ficar de pé. Impossível não chorar com a trilha, ainda por cima.

O Homem Urso

homem urso

E por último, um documentário lindo e poético sobre Timothy Treadwell, um homem que por anos viveu tentando fazer amizade com alguns dos animais mais perigosos do mundo. Se você nunca viu um documentário do Werner Herzog, por favor, pare tudo e procure um, qualquer um. Nenhum outro diretor consegue, num documentário, arrancar o que Herzog arranca de suas fontes. Por isso os documentários dele são bonitos e bizarros, ao mesmo tempo crus e surreais. O Homem Urso é o melhor exemplo, e mesmo que tenha sido feito depois da morte de Treadwell, os depoimentos de amigos e familiares acabam constituindo pequenas façanhas. Timothy era um homem apaixonado pelos animais, e se considerava um protetor deles, mas com os vídeos que ele fez enquanto viveu numa reserva de ursos, Herzog nos faz ver que aquele amor estava tomando um tom de loucura e desespero. O diretor nos faz pensar na indiferença da natureza do jeito mais lindo e triste possível. O Homem Urso é um ensaio de Herzog sobre a humanidade e a natureza, sobre a natureza da humanidade, sobre a sinceridade, sobre pessoas extremas, sobre a nossa necessidade de pertencimento e nossos impulsos de isolamento. Quando toca a primeira nota de “Coyotes”, de Don Edwards, nem a pessoa mais coração de pedra consegue segurar uma lágrima.

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