O final de Velho Chico e seus Cem Anos de Solidão

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A épica novela Velho Chico chegou ao fim na última sexta-feira (30/09/2016) marcada por diversos acontecimentos que transformarão-se em lendas daqui alguns anos. Mas não se engane, não foi apenas pelas mortes em curso que a novela merece seu destaque. Unindo uma linda história regada a um show de interpretações, fotografia e trilha sonora fora de série, Velho Chico foi uma novela tecnicamente perfeita e com um desfecho como há muito tempo a Rede Globo não conseguia entregar ao telespectador. Mas os leitores mais assíduos perceberam que muita coisa dali foi trazida de um dos livros mais conhecidos do mundo e que devemos ler antes de morrer, Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.

Benedito Ruy Barbosa e familiares fizeram um trabalho primoroso nesta obra em questão. Eu já havia curtido demais Meu Pedacinho de Chão, gravada em 2014 do mesmo Benedito, com a mesma pegada e inclusive com os mesmos responsáveis pela trilha sonora instrumental. Foi uma excelente novela em todos aspectos, e ambas destoam destas porcarias enlatadas que alguns autores já “consagrados” entregam na emissora regado a muita violência, favela, homossexualidade e muitos exemplos do que um cidadão não deve fazer, influenciando toda uma massa.

Velho Chico tratou de um amor proibido entre duas famílias que dentro de 3 gerações se odiavam, uma espécie de Romeu e Julieta do agreste. Mas a catarse da parada e que poucos notaram foi a influência da obra literária, Cem Anos de Solidão na trama.

Temos uma cidade chamada Grotas que podemos comparar muito com Macondo, onde no livro já começa assim: “(…) uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos (…)”. Lógico que a cidade da novela existe.

Mas além da cidade outros pontos temos que destacar. A transição entre as gerações da família dos Saruê e Dos Santos assemelham-se muito com os José Arcadios, Aurelianos e Úrsulas da história do livro. Assim como as lendas citadas por dona Encarnação, a mansão da família Saruê e a própria cidade vão decaindo com o tempo, transformando-se em ruínas e pura areia, sem fertilidade e as pessoas debandando-se da cidade até o momento de redenção em seu final, quando nasce uma criança com o nome de Belmiro (Personagem que no começo da novela foi responsável por trazer a chuva ao sertão). Achei este momento muito emocionante e como fizeram a cena, espetacular. Em Macondo ocorre o mesmo fenômeno, onde a cidade vai dizimando-se e a residência da família sendo consumida pelas formigas até o insustentável e último representante da família ser consumido pelas ruínas. A diferença é que Afrânio, ao ser consumido pelo Rio São Francisco, voltou “limpo” sem os apetrechos e perucas, sendo ele mesmo e deixando toda a carga de coronel com o rio. Simbolicamente o último coronel Saruê morreu.

Foi um episódio emocionante, o encontro transcendental entre Afrânio e seu filho Martim aconteceu, o perdão entre ambos ocorreu finalmente, um abraço emocionante e fraterno que todos que acompanhavam a novela esperavam, é a famosa redenção.

Fora estes pontos cruciais que são impossíveis não comparar com o livro, a novela infelizmente contou com duas mortes de atores em ação, do padre no começo e logo no final do personagem de Santo, que morreu afogado no rio enquanto relaxava fora das gravações. O mais incrível foi que em dado momento o personagem é quase morto no rio em uma cena, a diferença que os índios na região o salvaram, infelizmente a vida não imitou a arte.

Bom gente, sei que muito fã da obra do Gabriel pode querer me matar, mas notei sim estas semelhanças e não deixou de ser uma homenagem do autor Benedito Ruy Barbosa a esta lenda literária. Muita gente não está mais acostumada com uma novela com tal qualidade, infelizmente. Foi um épico que transcendeu entre as gerações e com uma fotografia sépia, marcou a mim. Me fez assistir a uma novela novamente, sem contar que em sua primeira fase podemos contar com Tarcísio Meira e Rodrigo Santoro, atuando juntos. Sem contar que a carga de excelentes atores continuaram depois o legado com uma excelente qualidade. Sem contar a forma como mantiveram o personagem de Santo na novela, utilizando o ângulo de primeira pessoa. Ficou tudo muito lindo e emocionante. Fico no aguardo para liberarem a trilha sonora instrumental oficial.

Minha nota é 4/5.

O que você achou do final da novela? Concorda com minha comparação?  Conte-nos para saber sua experiência. O seu comentário é a alma do Blog.

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5 comentários sobre “O final de Velho Chico e seus Cem Anos de Solidão

  1. Pingback: Rezenha Crítica Reza a Lenda 2016 | Rezenhando

  2. Fazia muito tempo que não via uma novela tão bem feita como velho chico, ela é extremamente artistica e tem tanta simbologia que dá até vontade de reassistir. uma pena que a globo ainda seja mega chata com a disponibilização de seus conteúdos. Além disso, achei muito sensível e criativo a forma que mantiveram o Santo na novela. Ficou muito boa.

    ótima resenha.

    Curtido por 1 pessoa

    • Olá muito obrigado pelo seu comentário. A gente sempre tenta trazer nossa opinião. Minha sorte que li o livro é notei estas semelhanças. Principal motivo de fazer o blog foi por isso, ninguém dava ouvidos para Minhas loucuras e devaneios, então comecei escrever tudo no blog como uma espécie de diário. Sempre tem alguém com a mesma opinião ksksksks…

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