segunda-feira, 4 de maio de 2020

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA …ou quando Star Wars começou de verdade | CRÍTICA

Luke Skywalker e Darth Vader em Star Wars: O Império Contra-Ataca

Star Wars: Uma Nova Esperança (ou Guerra Nas Estrelas, para os antigos) sempre teve mais sorte do que juízo. Fato reconhecido pelo próprio George Lucas, elenco e equipe nos tantos documentários anexados nos discos bônus dos DVDs e Blu-rays da saga acerca dos tantos problemas de produção (senão direção) do longa original, ter caído nas graças do público infantojuvenil após tantos anos pouco amistosos que pairavam naquela década de 1970 ajudou a redefinir não só o cinema de entretenimento para sempre, mas como a própria franquia que lá passava a se estabelecer. Para George Lucas, era o momento de deixar de lado as suas referências culturais para expandir a mitologia que concebeu e entregar um episódio que fizesse mais do que satisfazer as expectativas da garotada ao redor do globo, mas firmar Star Wars definitivamente como um ícone.

Lançado no dia 21 de maio de 1980 nos EUA, Star Wars: O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back) surge colossal – e não falo apenas da sequência dos titânicos andadores AT-AT no gelado planeta Hoth. Tudo aqui tem o propósito de melhorar o que foi visto no primeiro longa: a pluralidade de cenários (com portas que não travam mais), adereços e ecossistemas; os efeitos visuais a par daqueles especiais feitos durante as filmagens enquanto toda a sonoplastia se faz onipresente e reverbera as tantas emoções. Não só isso, é perceptível como o elenco se sente mais à vontade, em segurança com aquele texto fantasioso sobre aventura espacial que, agora, recebe contornos mais críveis em sua dramaticidade.

Han Solo em Star Wars: O Império Contra-Ataca
(© Lucasfilm/GIPHY/Reprodução)

Com Lucas cedendo sem hesitar a cadeira da direção para se dedicar plenamente ao argumento, é interessante observar como Irvin Kershner rege as cenas priorizando o foco nos personagens principais, seja Luke (Mark Hamill), Leia (Carrie Fisher), Han (Harrison Ford) ou Darth Vader (David Prowse/James Earl Jones). São closes demorados que enfatizam feições e os diálogos importantes, ágeis e marcantes co-roteirizados por Lawrence Kasdan (um colaborador frequente da Lucasfilm a partir daí) que salientam a humanidade daqueles em um tempo de tela que não tem pressa em desenvolver cada um deles. Na impaciência de se treinar com Yoda (Frank Oz) no pantanoso Dagobah, no tédio de uma defeituosa Millennium Falcon ou na raiva contida pela máscara por ter subalternos incompetentes enquanto anseia por seu encontro com o jovem Skywalker, todos estão propensos às suas provações e sem chances de saírem ilesos. Diante de tal fatalismo, acaba que este Episódio V se trata de uma imersão às sombras, necessária para amadurecer a inocência de seu antecessor e estimando, a partir daí, por um iluminado triunfo em seu desfecho seguinte (O Retorno de Jedi), que traria um bom equilíbrio do que seus predecessores alcançaram nas telas.

Luke Skywalker e Mestre Yoda em Star Wars: O Império Contra-Ataca
(© Lucasfilm/GIPHY/Reprodução)

Sendo um acadêmico da fotografia, Kershner aproveita o momento para experimentações que se provam funcionais. Ângulos inclinados ressaltam a ameaça de adversários, mas o diminuto Mestre Yoda é grandioso na profusão de sua filosofia e planos em contra-luz destacam silhuetas inconfundíveis. Enquanto Lucas, um entusiasta do cinema de montagem, dificilmente fugia da uma decupagem fixa para trabalhar as emoções na linha de corte, o diretor aqui confere às câmeras mais movimentos dentro das limitações técnicas, acompanhando e deixando a ação sem precisar picotar e mostrar cada gesto, valorizando a profundidade de campo e esbanjando escala.

Darth Vader em Star Wars: O Império Contra-Ataca
O "contra-plongée" dedicado à fala de Darth Vader reforça a superioridade deste perante Luke Skywalker.
(© Lucasfilm/GIPHY/Reprodução)

John Williams é outro nome que contribui para o sucesso do longa. Mais criativo, o compositor faz com que a Marcha Imperial e o tema de Yoda se tornem facilmente marcantes (embora a primeira seja tocada quase que à exaustão) ao passo em que outras sinfonias reforçam o teor aventureiro e soturno a depender do momento. Já Billy Dee Williams é uma adição formidável não só por ser carismático, mas pela demonstração de dubiedade que seu galanteador Lando Calrissian confere à trama, mostrando que Star Wars não vive apenas de personagens maniqueístas.

Stormtroopers, Princesa Leia, C-3PO, Chewbacca, Han Solo e Lando Calrissian em O Império Contra-Ataca
(© Lucasfilm/Reprodução)

Conciso em sua sobriedade narrativa e eficiente no rebuliço de sua tragédia cujo clima arrebatador reverbera mesmo passados quarenta anos, O Império Contra-Ataca talvez se equivoca apenas quando se trata da verborragia desenfreada de C-3PO (Anthony Daniels) e as caretas exageradas de Mark Hamill, mas não há o que contestar quando boa parte dos fãs ainda o apontam como o melhor filme. Provendo a atmosfera e a gravidade que norteariam praticamente todas as produções cinematográficas e derivados audiovisuais e literários nas décadas seguintes, não seria estranho dizer que, após a ingenuamente divertida apresentação anterior de personagens e universo marcantes, foi por este episódio que Star Wars começou – e se reconheceu – de verdade.





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