terça-feira, 26 de setembro de 2023

A RESISTÊNCIA – de que lado é pra ficar mesmo? | CRÍTICA

 

Até hoje, se duvidar, fala-se como Rogue One foi um marco para a nova leva de filmes de Star Wars ao trazer uma perspectiva grandiosa de um acontecimento descrito no letreiro de abertura do longa original, e como esse acerto se deu com a direção de Gareth Edwards (Godzilla, 2014), um perito em edificar a ação em grande escala. Entretanto, muito foi falado como o cineasta viu seu filme ser reescrito e remontado para o agrado da Lucasfilm e da Disney, impondo uma dúvida do quanto seu conceito original vingou no corte apresentado no cinema. No intento de se sagrar um diretor de gênero, é com A Resistência (The Creator, no original) que Edwards reafirma suas virtudes sem se esquecer de suas ressalvas.


Na trama de argumento original também escrita por Edwards, somos apresentados a um planeta arrasado pelas consequências de se deixar dominar pelas inteligências artificiais, por assim dizer, embora os chamados "simulantes" demonstrem empatia com a humanidade, principalmente a população carente. Se há quem diga que todas essas reações fazem parte de uma programação e que, por essas e outras, todos os robôs liderados por um tal de Nirmata precisam ser dizimados, o que é feito sob a vigilância constante da estação espacial Nomad, desenvolvida pelo governo estadunidense. Entre tantos detalhes e situações que são explicadas gradualmente, está Joshua (John David Washington) em uma constante reconsideração de fatos sobre as IAs.


(Fonte: © Disney UK Press/Reprodução)


John David Washington é um bom ator, mas falta um texto mais carismático ao protagonista que precisa carregar todo o desafeto por máquinas de Los Angeles até a "Nova Ásia" e é uma pena que temos tão pouco de Gemma Chan. A trilha de Hans Zimmer reforça o tom de comoção aliado a arranjos similares que o compositor oscarizado por Duna apresentou nas últimas produções do gênero em que esteve envolvido. 


(Fonte: © Disney UK Press/Reprodução)


Narrado por capítulos e, ocasionalmente, investindo em uma montagem alinear que só pode ser obra do editor Joe Walker (Blade Runner 2049, A Chegada), A Resistência alça o épico, mas seu andamento se apresenta obtuso e informativo demais apesar de suas sutilezas. Pelas lentes do diretor de fotografia Greig Fraser (Batman, Duna), o confronto em larga escala promete ação fulminante que remete muito a Avatar se comparar o poderio militar contra uma resistência até mesmo rústica, mas são breves os momentos realmente empolgantes.


(Fonte: © Disney UK Press/Reprodução)


Munido de um repertório cinematográfico de obras de ficção científica em que máquinas eram vilãs e ponto, o espectador soma isso ao receio de ver ferramentas de IAs gradualmente realizando operações substituindo a ação humana enquanto a população só tende a crescer (fora aquelas fofocas de que a Disney estaria investindo em IAs e que pagou uma pechincha para figurantes de WandaVision serem escaneados...). Em uma era em que governos querem combater outras IAs ...com suas próprias IAs e que a afeição por essas sempre se dão em cena a partir de personagens emocionadas com tal convivência, por todo o filme impera uma dúvida: de que lado é pra ficar? 


Na bem da verdade, tudo o que é visto fica difícil de defender.



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