Bingo - O Rei das Manhãs é o primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Rezende, até então conhecido como o montador de diversos filmes brasileiros consagrados, como Tropa de Elite e Cidade de Deus.
A experiência pregressa do diretor é evidente em diversos momentos do filme, especialmente em algumas inspiradas escolhas de enquadramento e transições de cenas. Esses dois elementos, aliás, são responsáveis pelo excelente ritmo do filme,apesar do mesmo derrapar em alguns lugares comuns narrativos no primeiro ato - especialmente na apresentação de personagens.
Os clichês narrativos do filme, no entanto, não necessariamente o atrapalham, pois o filme sabe surpreender, utilizando-os com um calculismo evidente que serve à narrativa ao ser inserido onde há maior ficcionalização da história do ator Arlindo Barreto como o palhaço Bozo - aqui, chamado de Bingo, uma das tantas adaptações/liberdades tomadas com o “material real”.
Liberdade, aliás, é um tema recorrente no filme. O personagem, aqui nomeado de Augusto Mendes, anseia por se libertar de trabalhos que considera inferiores ao seu talento, como as participações em pornochanchadas e “pontas” em telenovelas.
A liberdade, no entanto, chega na forma contraditória da exposição no que viria a ser o programa de maior audiência da emissora, porém com cláusulas contratuais que o impediam de revelar-se ao público.
Por trás do personagem, ou podemos também dizer “dos personagens’’ está o ator Vladimir Brichta. Sua atuação sincera, marcante e frenética revela o personagem-ator frente aos trabalhos que o mesmo sujeita-se e o carinho com o filho Gabriel (Cauã Martins).
É a busca pelas técnicas do clown que ajudam Augusto/Bingo a ter o verdadeiro “pique” do programa ao vivo. Quando este alcança primeiro lugar em audiência, a trama é focada na progressão de situações em que Augusto - entusiasmado com a fama de Bingo e consumindo cocaína e álcool diariamente nos bastidores- ausenta-se da vida de seu filho, esquecendo-o no colégio e no seu aniversário.
Destaca-se também a atuação sempre potente de Leandra Leal - desta vez interpretando Lúcia, a diretora politicamente correta do programa. Também há a presença de Tainá Muller, Augusto Madeira, Domingos Montagner, Pedro Bial, Emanuelle Araújo e Ana Lúcia Torre.
É evidente o belo trabalho da direção de arte no detalhamento da identidade da época. Destaca-se o jogo de luzes de cores vibrantes e neons presentes em todas as cenas, seja em locações como a emissora de televisão - repleta de luzes “vazadas” em cena e a falta delas nos camarins e corredores, apartamento de Augusto e outros cenários.
O espectador também mergulha em bandas brasileiras como Metrô, Titãs, Roupa Nova, Ritchie e inclusive Gretchen - marcando presença insana no programa infantil, sendo interpretada por Emanuelle Araújo.
Apesar de todos seus acertos, o filme volta a derrapar no terceiro ato, parecendo intimidar-se com as liberdades narrativas tomadas em relação à história real até então e conta o seu desfecho verdadeiro, no qual Augusto encontra uma certa redenção pessoal. Infelizmente, a decisão soa protocolar e um tanto desinspirada dentro do mundo da ficção cinematográfica. Neste ponto, a realidade ficou devendo para a ficção.
Resenha da página Vá e Veja:
Bingo - O Rei das Manhãs é o primeiro longa-metragem dirigido por Daniel Rezende, até então conhecido como o montador de diversos filmes brasileiros consagrados, como Tropa de Elite e Cidade de Deus.
A experiência pregressa do diretor é evidente em diversos momentos do filme, especialmente em algumas inspiradas escolhas de enquadramento e transições de cenas. Esses dois elementos, aliás, são responsáveis pelo excelente ritmo do filme,apesar do mesmo derrapar em alguns lugares comuns narrativos no primeiro ato - especialmente na apresentação de personagens.
Os clichês narrativos do filme, no entanto, não necessariamente o atrapalham, pois o filme sabe surpreender, utilizando-os com um calculismo evidente que serve à narrativa ao ser inserido onde há maior ficcionalização da história do ator Arlindo Barreto como o palhaço Bozo - aqui, chamado de Bingo, uma das tantas adaptações/liberdades tomadas com o “material real”.
Liberdade, aliás, é um tema recorrente no filme. O personagem, aqui nomeado de Augusto Mendes, anseia por se libertar de trabalhos que considera inferiores ao seu talento, como as participações em pornochanchadas e “pontas” em telenovelas.
A liberdade, no entanto, chega na forma contraditória da exposição no que viria a ser o programa de maior audiência da emissora, porém com cláusulas contratuais que o impediam de revelar-se ao público.
Por trás do personagem, ou podemos também dizer “dos personagens’’ está o ator Vladimir Brichta. Sua atuação sincera, marcante e frenética revela o personagem-ator frente aos trabalhos que o mesmo sujeita-se e o carinho com o filho Gabriel (Cauã Martins).
É a busca pelas técnicas do clown que ajudam Augusto/Bingo a ter o verdadeiro “pique” do programa ao vivo. Quando este alcança primeiro lugar em audiência, a trama é focada na progressão de situações em que Augusto - entusiasmado com a fama de Bingo e consumindo cocaína e álcool diariamente nos bastidores- ausenta-se da vida de seu filho, esquecendo-o no colégio e no seu aniversário.
Destaca-se também a atuação sempre potente de Leandra Leal - desta vez interpretando Lúcia, a diretora politicamente correta do programa. Também há a presença de Tainá Muller, Augusto Madeira, Domingos Montagner, Pedro Bial, Emanuelle Araújo e Ana Lúcia Torre.
É evidente o belo trabalho da direção de arte no detalhamento da identidade da época. Destaca-se o jogo de luzes de cores vibrantes e neons presentes em todas as cenas, seja em locações como a emissora de televisão - repleta de luzes “vazadas” em cena e a falta delas nos camarins e corredores, apartamento de Augusto e outros cenários.
O espectador também mergulha em bandas brasileiras como Metrô, Titãs, Roupa Nova, Ritchie e inclusive Gretchen - marcando presença insana no programa infantil, sendo interpretada por Emanuelle Araújo.
Apesar de todos seus acertos, o filme volta a derrapar no terceiro ato, parecendo intimidar-se com as liberdades narrativas tomadas em relação à história real até então e conta o seu desfecho verdadeiro, no qual Augusto encontra uma certa redenção pessoal. Infelizmente, a decisão soa protocolar e um tanto desinspirada dentro do mundo da ficção cinematográfica. Neste ponto, a realidade ficou devendo para a ficção.
[Texto de Amanda Gatti e Pedro Mendes]