Felipe Piglia

quem tá acostumado com cinema mirabolante pode estranhar, mas é um filme construído de forma lenta, a gente chega a sentir angústia junto com a protagonista. ao mesmo tempo é delicado, sutil nas agruras. não há uma grande explosão de sofrimento, o choro é contido, e dói ainda mais. o desenlace é como o sorriso de Cabíria.

se prestar bem atenção, a história é basicamente os filhos mais velhos fazendo merda e tentando consertar.

“A vida mentirosa dos adultos” não pode ser considerada a maior obra da Ferrante, isso é um fato. E uma adaptação filmada acabou matando o que ela tinha de mais forte: nós nunca sabemos se a Giovanna e a Tia Victoria são feias ou bonitas. No livro há um impacto que a sobrinha sente ao ver a tia pela primeira vez, ela era tão bonita que chegava a ser feia. A escolha de duas atrizes inegavelmente belas rompe com a questão dúbia da beleza e da feiura, e a série não consegue sustentar outros pontos do livro, por mais que tenha sido essencialmente fiel à obra. No fim das contas, existem detalhes que só entende quem leu o livro, enquanto a série gasta tempo em cenas descartáveis.