Déborah Maria

Gosto desse marasmo, que sabe não ser indiferente, ao jeito latino. A discreta crítica política que toma a forma simples do cotidiano. Na leitura da divida pública na sala de aula, na notícia falando sobre o aumento da pobreza na Argentina, dos protestos, na demissão da mãe dela e sobre a própria mãe deprimida. O que me angustiou foi o final. Não o enxerguei como um final moralista, vi muito mais como uma possibilidade que a Ely enxergou de partilhar sua vida, sua solidão, de ter um propósito.

Reassisti depois de alguns anos e esse filme ainda me comove bastante. Os detalhes da química entre os dois, a impressão de que algo sempre está prestes a explodir numa tensão melancólica, de entrega, mas que ao mesmo tempo é sutil, calmo. As sutilezas do cenário, a forma como os diálogos fluem sem pretensão, a imitação dela de Nina Simone, a forma como ele olha pra ela. Juntando tudo, você realmente tem a sensação de que está ali, simplesmente presenciando um tão raro e impossível encontro de almas.

Que adorável Valentin! Atuação muito digna.
Um amor de filme, melancólico e delicado.