Últimas opiniões enviadas
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Com diálogos ácidos, fotografia impecável e atuações monstruosas de Cate Blanchet e Judi Dench, a produção de Richard Eyre também poderia ser intitulada “Notas sobre a solidão”. É a partir do diário da protagonista, Barbara (Dench), que acompanhamos a vida de uma professora veterana e já desiludida com o sistema educacional ganhar fôlego com a chegada de uma nova companheira de trabalho.
À primeira vista, Sheba (Blanchet) se apresenta numa frequência diferente da colega. Ela é jovem, carismática e traz consigo o desejo de mudar o mundo. O que notamos ao longo da narrativa, no entanto, é que as professoras, cada um a seu modo, compartilham de um sentimento que irá pavimentar os caminhos da história: a solidão.
O casamento frustrado com Richard, um homem mais velho que lhe deu aula na Universidade, e a dupla maternidade fazem Sheba prisioneira da rotina. E é quando a professora se aproxima de Steven, seu aluno de 15 anos, que a carência se torna explícita. Rapidamente a troca de olhares ganha contornos mais sinuosos e o garoto assume a posição de amante.
Contudo, o caso proibido entre a dupla é descoberto por Barbara e o que se configura a partir daí é um jogo de dominação e chantagem. A veterana, dona de uma homossexualidade velada, aproveita a situação para se aproximar de Sheba e, ao menos em sua cabeça, dar início a um romance obsessivo que tem, como único combustível, o medo da exposição.
Apesar da ausência de sensacionalismo em temas delicados, como a pedofilia e a homossexualidade, e, vale ressaltar mais uma vez, atuação impecável do elenco principal, “Notas sobre um escândalo” peca na velocidade da narrativa. O roteiro é sólido, mas, ao amarrar várias pontas em pouco mais de 90 minutos de filme, Eyre passa muito rápido por determinadas situações e entrega um filme abaixo do seu potencial.
Últimos recados
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Filmow
O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!
Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)
Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
Boa sorte! :)* Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/
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lolita
valeu
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Andreia Al.
Está aceito, cara chato! rs ;)
Dirigida por Stanley Kubrick, a adaptação da distopia escrita por Anthony Burgess propõe uma reflexão já a partir de seu título. Ao juntar o orgânico (laranja) com o artificial (mecânica), o autor deixa implícito nosso condicionamento a seguir determinados padrões, bem como a influência do meio em nossas decisões cotidianas.
Tais padrões, no entanto, não são respeitados por Alex e sua gangue, que se comportam de maneira instintiva, liberando seu lado animal sem preocupação com as consequências. Nas palavras de um mendigo agredido no início do filme, “a lei e a ordem não existem mais” para o quarteto.
Em um plano geral, essa desordem também pode ser observada pelo contraste na vestimenta dos moradores da cidade. Enquanto as mulheres usam roupas extravagantes, os homens adotam como base um figurino mais formal e sóbrio, evidenciando o momento conflituoso vivido por aquela sociedade.
A história ganha contornos irônicos quando Alex acaba capturado pela polícia. Como a violência é a maneira encontrada pela trupe para se comunicar, esse é o único modo enxergado para resolver os problemas entre eles. Nesse caso, vale a lei do mais forte. Quando a gangue se rebela contra Alex e, cansada de sua tirania, o trai, o líder passa de agressor à vítima e experimenta na pele a “ultra violência” tão propagada por ele.
Quando o protagonista chega à penitenciária, a violência não cessa; apenas se mascara. A promessa de uma redução de pena convence Alex a participar de um experimento que tem como objetivo tranformar o mal em bem, mas o que se vê, na prática, são métodos desumanos que eliminam qualquer possibilidade de livre arbítrio da “cobaia”. Alex não ganha discernimento ou consciência de seus atos. Pelo contrário. Ele continua tendo os mesmos desejos, mas os efeitos colaterais do tratamento tornam o anti-herói incapaz de qualquer reação que vai de encontro dos padrões morais.
A “cura”, contudo, só é alcançada quando o jovem, transtornado por sua incapacidade de reação, mesmo contra antigas vítimas, tenta se matar. No hospital, após a tentativa fracassada de suicídio, Alex é submetido a uma cirurgia e recupera sua capacidade de escolha.
Ainda que mais de 40 anos separem a data de lançamento do filme dos dias atuais, é possível traçar alguns paralelos entre a sociedade retratada por Kubrick e a nossa, em um parâmetro global. Entre eles, podemos citar a deliquência juvenil e a dificuldade em lidar com as transformações, a desigualdade social (presente no contraste entre a casa de Alex e a residência invadida no começo do filme), as cidades abandonas ao crime e a alienação dos pais em relação às vidas dos filhos.. Características que não se restringem ao Brasil e que também podem ser observadas num aspecto global. Além disso, outros trêss fatores merecem um maior destaque: a objetificação e hipersexualização dos corpos, a banalidade da violência e o limite das práticas do Estado sobre os criminosos.
São inúmeras as cenas que trazem referências sexuais aos olhos do espectador. As cenas de estupro, claro, causam um impacto imediato, mas Kubrick não para por aí. Alex e seus comparsas estão rodeados por objetos fálicos, que transmitem à quem assiste a maneira como eles enxergam o mundo. Para o quarteto, assim como para Oscar Wilde, “tudo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder”.
O filme também nos faz refletir sobre o abuso policial e sua condição privilegiada para fazer da impunidade, lei; a maneira como utilizamos drogas lícitas e ilícitas para liberar o animal em nós e o espetáculo de horror, cada vez mais presente nos meios de comunicação.
Nenhum tópico, no entanto, chama mais atenção que o político. A corrupção e tentativa de manipulação da classe política é evidente. Além disso, Laranja Mecânica busca descobrir até onde o Estado pode ir para devolver um preso ao convívio social sem corrompê-lo. Temas relevantes, que ainda merecem destaque.