"toda nudez será castigada" é um dos filmes mais sensacionais que já vi. é um buñuel (em 'esse obscuro objeto do desejo') misturado com almodóvar (em 'mulheres à beira de um ataque de nervos'). obra-prima.
esse aí é o brasil de ontem, de hoje e é o que sempre vai ser: uma classe média arrogante, que se acha superior. pela sua aparência é capaz de pisar no sangue dos mais pobres, não se importar com a sua morte ou suas dores, alimenta o conservadorismo alinhado aos ideais fascistas enquanto erotiza sobre o que não tem, de dinheiro a pessoas. jabor faz escárnio e joga na tela de forma claustrofóbica a loucura que forma esse brasil marcha a ré.
meu maior medo é cair numa depressão e solidão desse tamanho. perder o gosto pela vida. me cegar aos que tentam, de alguma forma, ajudar. foi um bom documentário para continuar alerta comigo.
alain tateia o rosto de lydia como quem procura algo. um sentido. talvez procure a si mesmo. "de qualquer forma, alain, nos encontramos em breve". a resposta é um olhar absorto na paisagem para além das câmeras. no quarto, um espelho com fotos das mulheres que ama ou pensou amar. recortes de jornal com matérias sobre mortes estranhas ou suicidas (incluindo uma matéria da morte de marilyn monroe). boneco sem cabeça, embalagens vazias, 23 de julho rabiscado no espelho, revólver na mala. tudo programado. a morte chega como uma ideia de viagem. partida. ao depressivo ninguém dá importância para os alertas que solta nas falas, como se pedisse indiretamente uma ajuda. um amor, alguém que cuide do que ele não pode cuidar: ele mesmo.
conversando com o amigo, senta-se prostrado na cadeira. no café de flore, está prostrado na cadeira. a vida o amedronta. pessoas passam pela rua, todas com um propósito, estilo. ele está sentado, observando tudo. o poeta está à margem. para atravessar as ruas, mantém-se sempre no meio da pista enquanto o fluxo de carros é intenso. a vida passa rápido.
maior contradição de alain: ser depressivo e perceber a vida passando lentamente na sua frente, enquanto deseja acelerá-la. outra contradição de alain: deseja tanto ser amado que ama, ao mesmo tempo em que se mata porque não foi amado e não amou. sua última noite com os amigos foi para ter certeza que não faz parte daquelas convenções sociais onde impera a hipocrisia e o bom tratamento quando no fundo todos se desprezam.
diz repetidas vezes que não consegue tocar as coisas, as pessoas, não alcança o tal sol que é a vida dentro de cada um que o cerca. a vida lhe é nublada, é um temporal que o pega de surpresa sem guarda-chuva, é um gole no álcool depois de meses na reabilitação.
a vida é um produto tóxico onde tudo deu errado, onde o vício chegou antes da consciência, onde única pulsão cabível é a morte, onde o auto-exílio parece mais cru e sincero e digno que toda forma de conformismo humano. alain, ao rejeitar a vida, se eterniza numa juventude, que é promessa e mentira, mas ainda assim, o morrer é um sabor de "tudo errei, nada arrumei, e me eternizo num ponto onde tudo poderia ser".
um soco no estômago. um tiro no peito. "o mundo é cego, e vens exatamente dele".
vivemos em sociedade e o que mais compartilhamos é solidão.
por todos os lados a sutil solidão se avoluma: sobre a cama, os casacos, as seis meias de molho, a pia, o baralho, o nescafé, as mesas dos bares. o mundo é a casa dos ratos, o quarto é a fortaleza que me mantém em mim. o silêncio cresce em solo de solidão, e os barulhos dos outros não afugentam mais a solidão instalada. a vida parece perder a graça, e perde. os tediosos afazeres diários, o peso de existir: o cinema e os cafés são um abrigo, o caminhar é sem rumo, e as necessidades que cumpro não necessito, ou não quero necessitar. algo mudou, o sentido de alguma coisa...a náusea de existir tonteia, as respostas não existem ou existem sem regras, o viver é sem fórmula...o nada abriga o nada.
o quadro do quarto reflete um livro do edgar allan poe
(em que o personagem do livro insiste por diversas vezes que é ele quem escreve, e não o senhor poe)
, mas não reflete o homem; o homem reflete sobre a vida. reflete? e a sua reflexão é um estar em si? ou é um exílio de si, com tamanha indiferença, tamanha necessidade de gestos automáticos? e reconhecer o outro, para além dos domínios de si. existe? faz-se necessário? o outro é o que, uma conexão, um monstro? um outro exemplar de solidão e indiferença?
para perceber: o espelho quebrado em três partes, o teto com rachaduras, as unhas roídas. no cinema se sente único, no café está sozinho mesmo que rodeado de pessoas, na vida se sente incapaz (e aí, aos 15min e 40seg, sua imagem refletida por várias vezes num espelho, como se visse ali a expectativa que cria de si. logo em seguida, a perspectiva de um lugar vazio. as ruas são tão sozinhas quanto o homem que caminha solitário. o seu quarto é repleto de livros e a visão de sua janela é obstruída parcialmente por um telhado. é possível ver o todo? é possível ser ativo no viver? estar, ser, escolher, agir...superar-se?
você desce no sufoco da narração e sobe pra refletir sozinho. no seu quarto. alguém me lê na minha solidão. alguém toma café comigo.
O filme é sim uma exposição de todo o tipo de hipocrisia na sociedade, para além dos estúdios de Hollywood. Julianne Moore maravilhosa como uma vagaba de quinta, atriz decadente, filha psicótica e pessoa desprezível. Amei
Uma mistura surreal de atmosfera gótica com poesia mórbida. Não é um filme de terror, não há sustos; é um filme sobre sanidade mental (ou a falta dela), sobre a morte e as incertezas, e claro, sobre o medo. A estética do filme é belíssima. Há nevoeiros, fora do cemitério e no cemitério, quando ainda é dia. A noite invade e tudo se inverte: não há névoa; são os olhos que não veem saída. Eles se perdem dentro da loucura, cada um a demonstrando de uma maneira. Um filme de poesia lírica, principalmente as cenas
"Eu costumava conversar a sós com você depois que você partiu. Eu costumava falar com você o tempo todo, mesmo estando sozinha. Conversei com você por meses a fio. Agora não sei o que dizer. Era mais fácil quando eu apenas o imaginava. Eu até imaginava que você me respondia. Tínhamos longas conversas. Só nós dois. Era como se você realmente estivesse comigo. Eu o via, sentia seu cheiro. Eu podia ouvir sua voz. Às vezes sua voz me acordava. Acordava-me no meio da noite, como se você estivesse no quarto comigo. Depois, isso foi lentamente acabando. Já não podia mais imaginar você. Tentei falar em voz alta com você como sempre fazia, mas não havia nada lá. Já não podia mais ouvi-lo. Então eu apenas desisti. Tudo acabou. Você simplesmente desapareceu."
Quem gosta de Fellini, basicamente, vai apreciar muito o filme. Fora que é um passeio maravilhoso por Roma, com a fotografia impecável.
Sarcástico, irônico, sensível, denuncia nos diálogos uma decadência ainda maior que o filme A Doce Vida já apresentava nos valores, objetivos e sentidos na vida dos cultos, ricos, formadores de opinião. Da sociedade, num todo. Muito interessante analisar os acontecimentos mais importantes do filme que acabam envolvendo sempre escadas em cena.
"Para esta pergunta, quando eu era jovem, meus amigos davam sempre a mesma resposta: 'vagina'. Já eu respondia: 'o cheiro das casas dos velhos'. A pergunta era: 'Do que você realmente mais gosta nessa vida?
Eu estava destinado à sensibilidade. Estava destinado a ser escritor. (...)"
Jango era um árduo defensor das reformas de base. Queria a reforma agrária e já começava grande movimento em torno disso, e almejava a reforma politica, considerando todas muito importantes para a democracia no país. O povo o apoiava. Com a ajuda dos EUA, que só visavam os seus eternos "interesses econômicos" a la Maquiavel, implantavam o IPEA e compravam deputados e a mídia para ir contra as ideias de Jango, instalando um medo paranoico no mundo todo contra o comunismo (sabe-se muito bem que o capitalismo não é detentor de uma liberdade mais "limpa" ou "mais ética" que eles tanto pregavam e ainda pregam). Jango foi um dos nossos maiores presidentes. E injustamente, desde que me entendo por gente, nas aulas de história, o classificavam como "covarde" por ter "vendido" ou "entregue" a nação aos militares, sempre o consideravam um "fujão", quando documentários como este mostram a sua lucidez em não reproduzir o mesmo erro que muitos outros chefes de Estado pelo mundo afora cometeram, enfrentando essas "revoluções" plantadas e financiadas pelos EUA, derramando sangue de civis, como pode-se ver aqui uma pequena lista de intervenções norte-americanas: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u29271.shtml
Os Estados Unidos queriam um regime que os favorecesse, e dane-se se era através de autoritarismo ou não. E aos brasileiros que participaram de toda essa arquitetura para favorecer os interesses de um país que se infiltra nos outros e manda e desmanda desde muito tempo, estamos esperando uma justiça (talvez divina) para que paguem contra essa traição aos interesses do nosso próprio Estado, que haja reconhecimento dos culpados e que isso não se repita. Estamos à beira dos 50 anos de ditadura e centenas de casos de tortura e desaparecimentos continuam sem esclarecimento. 50 anos se passaram e Newton Cruz continua falando atrocidades e defendendo um regime que censurou, matou, torturou, e como se não bastasse, favoreceu os EUA. Esse é Newton Cruz: https://www.youtube.com/watch?v=IWuggz3aWhw#t=11
E o Brasil, no meio disso tudo, mal sabe da sua própria história direito e o interesse em buscar por ela e lutar por igualdade social, justiça, segurança, combate à pobreza e aplicação da lei, às vezes, me parece um caminho eternamente tortuoso e impossível de se percorrer com brasileiros lutando juntos por um Brasil. Um Brasil realmente de todos.
Tár
3.8 389 Assista Agoraum dos melhores filmes sobre arte, cancelamento e prepotência. cate blanchett é a maior maestrina viva.
Toda Nudez Será Castigada
3.6 117"toda nudez será castigada" é um dos filmes mais sensacionais que já vi. é um buñuel (em 'esse obscuro objeto do desejo') misturado com almodóvar (em 'mulheres à beira de um ataque de nervos').
obra-prima.
Tudo Bem
3.6 27esse aí é o brasil de ontem, de hoje e é o que sempre vai ser: uma classe média arrogante, que se acha superior. pela sua aparência é capaz de pisar no sangue dos mais pobres, não se importar com a sua morte ou suas dores, alimenta o conservadorismo alinhado aos ideais fascistas enquanto erotiza sobre o que não tem, de dinheiro a pessoas.
jabor faz escárnio e joga na tela de forma claustrofóbica a loucura que forma esse brasil marcha a ré.
Ladrões de Bicicleta
4.4 531 Assista AgoraO FILME MAIS TRISTE QUE EU JÁ VI NA MINHA VIDA.
mostra sofrimento com maestria. grande vittorio de sica. MAS AGORA COMO VOU ME RECUPERAR
O Destino de Uma Nação
3.7 722 Assista Agora"como consegue beber durante o dia?"
"prática."
"há tempo suficiente para a verdade".
"meu pai era igual deus, sempre ocupado com outra coisa"
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 896 Assista Agoraaquele
choro desmedido de reconhecimento da música, mas também de saudade. eu conheço esse choro. sei como é.
Left on Purpose
3.3 1meu maior medo é cair numa depressão e solidão desse tamanho. perder o gosto pela vida. me cegar aos que tentam, de alguma forma, ajudar. foi um bom documentário para continuar alerta comigo.
Os Infiltrados
4.2 1,7K Assista Agoraaté hoje pensando o que tinha naquele
envelope que o costigan dá pra psiquiatra. ela guarda no consultório e a gente fica sem saber o que tava escrito.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista Agoraeu lembro de tudo.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraMELHOR ADAPTAÇÃO DA BÍBLIA - e, de quebra, a mais fidedigna.
Trinta Anos Esta Noite
4.3 142o depressivo chora sua própria morte e o filme é um calvário nas últimas lágrimas
de alain.
alain tateia o rosto de lydia como quem procura algo. um sentido. talvez procure a si
mesmo. "de qualquer forma, alain, nos encontramos em breve". a resposta é um olhar absorto na paisagem para além das câmeras.
no quarto, um espelho com fotos das mulheres que ama ou pensou amar.
recortes de jornal com matérias sobre mortes estranhas ou suicidas (incluindo uma matéria da morte de marilyn monroe). boneco sem cabeça, embalagens vazias, 23 de julho rabiscado no espelho, revólver na mala. tudo programado. a morte chega como uma ideia de viagem. partida. ao depressivo ninguém dá importância para os alertas que solta nas falas, como se pedisse indiretamente uma ajuda. um amor, alguém que cuide do que ele não pode cuidar: ele mesmo.
conversando com o amigo, senta-se prostrado na cadeira. no café de flore, está
prostrado na cadeira. a vida o amedronta. pessoas passam pela rua, todas com um
propósito, estilo. ele está sentado, observando tudo. o poeta está à margem. para atravessar as ruas, mantém-se sempre no meio da pista enquanto o fluxo de carros é intenso. a vida passa rápido.
maior contradição de alain: ser depressivo e perceber a vida passando lentamente na sua frente, enquanto deseja acelerá-la. outra contradição de alain: deseja tanto ser amado que ama, ao mesmo tempo em que se mata porque não foi amado e não amou.
sua última noite com os amigos foi para ter certeza que não faz parte daquelas
convenções sociais onde impera a hipocrisia e o bom tratamento quando no fundo
todos se desprezam.
diz repetidas vezes que não consegue tocar as coisas, as pessoas, não alcança o tal sol que é a vida dentro de cada um que o cerca. a vida lhe é nublada, é um temporal que o pega de surpresa sem guarda-chuva, é um gole no álcool depois de meses na reabilitação.
a vida é um produto tóxico onde tudo deu errado, onde o vício chegou antes da consciência, onde única pulsão cabível é a morte, onde o auto-exílio parece mais cru e sincero e digno que toda forma de conformismo humano. alain, ao rejeitar a vida, se eterniza numa juventude, que é promessa e mentira, mas ainda assim, o morrer é um sabor de "tudo errei, nada arrumei, e me eternizo num ponto onde tudo poderia ser".
um soco no estômago.
um tiro no peito.
"o mundo é cego, e vens exatamente dele".
Um Homem que Dorme
4.4 196vivemos em sociedade e o que mais compartilhamos é solidão.
por todos os lados a sutil solidão se avoluma: sobre a cama, os casacos, as seis meias de molho, a pia, o baralho, o nescafé, as mesas dos bares. o mundo é a casa dos ratos, o quarto é a fortaleza que me mantém em mim.
o silêncio cresce em solo de solidão, e os barulhos dos outros não afugentam mais a solidão instalada. a vida parece perder a graça, e perde. os tediosos afazeres diários, o peso de existir: o cinema e os cafés são um abrigo, o caminhar é sem rumo, e as necessidades que cumpro não necessito, ou não quero necessitar. algo mudou, o sentido de alguma coisa...a náusea de existir tonteia, as respostas não existem ou existem sem regras, o viver é sem fórmula...o nada abriga o nada.
o quadro do quarto reflete um livro do edgar allan poe
(em que o personagem do livro insiste por diversas vezes que é ele quem escreve, e não o senhor poe)
para perceber: o espelho quebrado em três partes, o teto com rachaduras, as unhas roídas. no cinema se sente único, no café está sozinho mesmo que rodeado de pessoas, na vida se sente incapaz (e aí, aos 15min e 40seg, sua imagem refletida por várias vezes num espelho, como se visse ali a expectativa que cria de si. logo em seguida, a perspectiva de um lugar vazio.
as ruas são tão sozinhas quanto o homem que caminha solitário. o seu quarto é repleto de livros e a visão de sua janela é obstruída parcialmente por um telhado. é possível ver o todo? é possível ser ativo no viver? estar, ser, escolher, agir...superar-se?
você desce no sufoco da narração e sobe pra refletir sozinho. no seu quarto.
alguém me lê na minha solidão.
alguém toma café comigo.
Medo do Medo
4.1 34Quem se interessou por Medo do Medo, talvez goste de Uma Mulher Sob Influência, do Cassavetes. Dois filmes maravilhosos.
Mapas para as Estrelas
3.3 478 Assista AgoraO filme é sim uma exposição de todo o tipo de hipocrisia na sociedade, para além dos estúdios de Hollywood.
Julianne Moore maravilhosa como uma vagaba de quinta, atriz decadente, filha psicótica e pessoa desprezível. Amei
Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista AgoraMinha versão masculina na vida.
Nós que nos Amávamos Tanto
4.4 79Tô aqui aplaudindo de pé. É maravilhoso, não sei dizer mais nada além de: é meu favorito a partir de agora.
"(...) O futuro passou e nem nos demos conta".
Hiroshima, Meu Amor
4.2 312 Assista AgoraTerminei o filme pensando:
Você não viu nada de Hiroshima. Você não viu o meu amor.
Esplêndido. O nouvelle vague sobrevive lindamente. Não é possível esquecer.
Faces
4.1 62O filme é preenchido por rostos.
Todos os detalhes e reações - dos rostos.
Rostos de pessoas vazias.
John Cassavetes fez um zoom no vazio existencial.
A Rosa de Ferro
3.7 40Uma mistura surreal de atmosfera gótica com poesia mórbida. Não é um filme de terror, não há sustos; é um filme sobre sanidade mental (ou a falta dela), sobre a morte e as incertezas, e claro, sobre o medo. A estética do filme é belíssima. Há nevoeiros, fora do cemitério e no cemitério, quando ainda é dia. A noite invade e tudo se inverte: não há névoa; são os olhos que não veem saída. Eles se perdem dentro da loucura, cada um a demonstrando de uma maneira. Um filme de poesia lírica, principalmente as cenas
em que ela dança pelo cemitério e o final extremamente emblemático.
Depois que assisti, só consegui pensar numa frase: "O mundo é cego, e tu vens exatamente dele." Rollin genial nesse filme.
Na Cidade de Sylvia
3.6 41De uma sutileza absurda. Fotografia pura. Poesia visual.
Paris, Texas
4.3 696 Assista Agora"Eu costumava conversar a sós com você depois que você partiu. Eu costumava falar com você o tempo todo, mesmo estando sozinha. Conversei com você por meses a fio. Agora não sei o que dizer. Era mais fácil quando eu apenas o imaginava. Eu até imaginava que você me respondia. Tínhamos longas conversas. Só nós dois. Era como se você realmente estivesse comigo. Eu o via, sentia seu cheiro. Eu podia ouvir sua voz. Às vezes sua voz me acordava. Acordava-me no meio da noite, como se você estivesse no quarto comigo. Depois, isso foi lentamente acabando. Já não podia mais imaginar você. Tentei falar em voz alta com você como sempre fazia, mas não havia nada lá. Já não podia mais ouvi-lo. Então eu apenas desisti. Tudo acabou. Você simplesmente desapareceu."
A Grande Beleza
3.9 463 Assista AgoraQuem gosta de Fellini, basicamente, vai apreciar muito o filme. Fora que é um passeio maravilhoso por Roma, com a fotografia impecável.
Sarcástico, irônico, sensível, denuncia nos diálogos uma decadência ainda maior que o filme A Doce Vida já apresentava nos valores, objetivos e sentidos na vida dos cultos, ricos, formadores de opinião. Da sociedade, num todo.
Muito interessante analisar os acontecimentos mais importantes do filme que acabam envolvendo sempre escadas em cena.
"Para esta pergunta, quando eu era jovem, meus amigos davam sempre a mesma resposta: 'vagina'. Já eu respondia: 'o cheiro das casas dos velhos'. A pergunta era: 'Do que você realmente mais gosta nessa vida?
Eu estava destinado à sensibilidade. Estava destinado a ser escritor. (...)"
O Dia que Durou 21 Anos
4.3 227Jango era um árduo defensor das reformas de base. Queria a reforma agrária e já começava grande movimento em torno disso, e almejava a reforma politica, considerando todas muito importantes para a democracia no país. O povo o apoiava. Com a ajuda dos EUA, que só visavam os seus eternos "interesses econômicos" a la Maquiavel, implantavam o IPEA e compravam deputados e a mídia para ir contra as ideias de Jango, instalando um medo paranoico no mundo todo contra o comunismo (sabe-se muito bem que o capitalismo não é detentor de uma liberdade mais "limpa" ou "mais ética" que eles tanto pregavam e ainda pregam).
Jango foi um dos nossos maiores presidentes. E injustamente, desde que me entendo por gente, nas aulas de história, o classificavam como "covarde" por ter "vendido" ou "entregue" a nação aos militares, sempre o consideravam um "fujão", quando documentários como este mostram a sua lucidez em não reproduzir o mesmo erro que muitos outros chefes de Estado pelo mundo afora cometeram, enfrentando essas "revoluções" plantadas e financiadas pelos EUA, derramando sangue de civis, como pode-se ver aqui uma pequena lista de intervenções norte-americanas: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u29271.shtml
Os Estados Unidos queriam um regime que os favorecesse, e dane-se se era através de autoritarismo ou não. E aos brasileiros que participaram de toda essa arquitetura para favorecer os interesses de um país que se infiltra nos outros e manda e desmanda desde muito tempo, estamos esperando uma justiça (talvez divina) para que paguem contra essa traição aos interesses do nosso próprio Estado, que haja reconhecimento dos culpados e que isso não se repita. Estamos à beira dos 50 anos de ditadura e centenas de casos de tortura e desaparecimentos continuam sem esclarecimento. 50 anos se passaram e Newton Cruz continua falando atrocidades e defendendo um regime que censurou, matou, torturou, e como se não bastasse, favoreceu os EUA. Esse é Newton Cruz: https://www.youtube.com/watch?v=IWuggz3aWhw#t=11
E o Brasil, no meio disso tudo, mal sabe da sua própria história direito e o interesse em buscar por ela e lutar por igualdade social, justiça, segurança, combate à pobreza e aplicação da lei, às vezes, me parece um caminho eternamente tortuoso e impossível de se percorrer com brasileiros lutando juntos por um Brasil. Um Brasil realmente de todos.
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual
4.3 2,3K Assista AgoraUm filme transparente sobre os tempos em que vivemos. Tudo é lindo em Medianeras, menos a parte em que citam Paulo Coelho.