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Ao término do filme, tive um insight sobre um tema abordado em segundo plano: o indivíduo "erudito" que não se conecta com a cultura de sua época. Não desejo me ater ao tópico central do filme: os processos pessoais de perceber que o tempo material não corresponde ao tempo psicológico.
Contém spoiler, mas não compromete a experiência.
Pacarrete que tanto aspirava a "presentear" sua cidade com uma "performance de alto nível", menospreza a própria cidade no seu dia a dia. "Sou obrigada a ouvir isso?", questiona aos transeuntes que caminham em direção à celebração local. E a História responde: sim, Pacarrete. Não seria aquilo o próprio resultado de seu tempo e localidade? Logo após, a protagonista se olha no espelho e reconhece a própria frustração por perceber que suas aspirações culturais não correspondem sequer à realidade substancial em que está inserida.
Questiono quantos brasileiros são semelhantes a Pacarrete: alienados da cultura local, subestimam o que é seu, exigem do estado caprichos descontextualizados das necessidades do seu próprio progresso histórico, mas desejam um "Brasil melhor". É interessante observar como a rua de Pacarrete é bela, como as pessoas notam sua singularidade e não a excluem; em certo momento, é possível ouvir uma música de Belchior enquanto ela percorre a rua e vai à mercearia. No entanto, Pacarrete parece incapaz de apreciar a beleza dessas coisas: na sua televisão, uma dança, uma canção e uma projeção de um lugar, um tempo e um repertório que não lhe pertencem. A singularidade dela é fingir viver em outro país, falar outra língua enquanto menospreza o que está à sua frente.
Pacarrete foi professora e contribuiu para sua sociedade por um tempo, mas parece ter parado no tempo ou deixou de aprender com ele. Esqueceu que "o novo sempre vem" e não se atualizou para assumir os novos palcos da vida. Assim, alienada de seu tempo e povo, resta-lhe apenas a imaginação. É mais fácil fantasiar estar em outro país do que admitir que perdeu a capacidade de aprender.
Pacarrete é o símbolo de alguns brasileiros que, munidos de algum conhecimento sobre outras realidades, tentam impor um "projeto de civilização" sem ao menos estabelecer uma conexão genuína com a própria realidade.
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Revi um filme querido da adolescência.
Os críticos e elites culturais podem olhar pra isso com desdém. Mas pra mim é uma obra prima. As reflexões que o filme traz são pertinentes, segue elas:
A importância da atenção no aqui e agora, viver o processo e não o resultado, a crítica à ansiedade, a importância de uma vida orientada a valores, a sensibilidade que perdemos no dia a dia, a felicidade como disposição de viver e perceber o aqui e agora e não como consumo.
Todos esses temas podem ser abordados de modos mais sofisticados em clássicos do cinema, na literatura, na poesia e na música. Mas acho que nenhum deles será tão imercivo e explícito para o povão quanto este filme que não promete nada e entregou tudo."Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira".
Leon Tolstói
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"Com banda ou sem banda, eu sou o show"