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Milão, Itália

Flaminio Bollini Cerri (Milão Itália 1924 - Roma Itália 1978). Diretor. Jovem encenador chamado da Itália para dirigir no Teatro Brasileiro de Comédia. No breve período em que está no Brasil dirige um número pequeno de montagens, a maioria com intensa representatividade. Responsável por A Alma Boa de Set-Suan, primeira encenação profissional de Bertolt Brecht, no Brasil, pelo Teatro Maria Della Costa.

Recém-formado pela Regia Accademia di Arti Drammatica di Roma, dirigida por Silvio D'Amico, Bollini faz assistência de direção para Luchino Visconti e Giorgio Strehler, estreando em 1950 como diretor com A Guerra de Tróia Não Acontecerá, de Giraudoux.

Aos 23 anos, já se encontra em São Paulo, para assumir o posto de um dos diretores do TBC, encenando Ralé, a peça máxima de Gorki, com um material humano de primeira linha: a tradução é de Brutus Pedreira e Eugênio Kusnet, cenografia e figurinos de Tulio Costa, e no elenco destacam-se Carlos Vergueiro, Maria Della Costa, Elizabeth Henreid, Paulo Autran, Luiz Linhares, Sergio Cardoso, Cleyde Yáconis, Ziembinski, entre outros. O diretor utiliza-se de técnicas interpretativas possivelmente originadas no Actor's Studio, releitura norte-americana de Lee Strasberg para o método de Stanislavski, causando estranheza e alvoroço junto ao elenco, acostumado ao estilo cerebral de Adolfo Celi. Com Bollini, os artistas experimentam agora as possibilidades da composição física e do improviso criativo baseado nas associações livres para a criação das personagens. A excelente montagem chama a atenção na temporada de 1951, impressionando crítica e público, e servindo como cartão de visitas do trabalho do diretor, como destaca o crítico Décio de Almeida Prado: "(...) A direção de Flaminio Bollini aproveitou-se, aliás, de forma exemplar dessa riqueza de segundos e terceiros planos, fazendo a ação serpentear com grande engenhosidade por todos os meandros daquele quase labirinto, eclipsando-se aqui para ressurgir logo adiante, num ritmo que marca com absoluta segurança os momentos de expansão e de retração do enredo. (...) E assim, a partir da movimentação dos atores, vai sendo criada plasticamente a atmosfera lírica ou brutal, cômica ou dramática, que convém a cada cena. Bastaria essa qualidade - a mecânica difícil e exatíssima da representação - para revelar, no mais recente e mais jovem diretor do Teatro Brasileiro de Comédia, o pulso de um verdadeiro homem de teatro, se não percebêssemos, em Ralé, ainda muitas coisas. De um modo geral, parece-nos que a direção de Bollini prima especialmente pela autoridade demonstrada nas cenas de conjunto - o espetáculo mantém-se sempre extremamente uno e coeso -, e pela maneira com que soube manobrar um número muito grande de atores, sem permitir a nenhum deles uma decaída que se possa taxar de grave".

Apesar do sucesso de estréia de Bollini no TBC, em 1952 o encenador é encarregado de apenas duas produções menores da companhia; Diálogo de Surdos, de Clô Prado, para o Teatro das Segundas-Feiras; e a inexpressiva Vá Com Deus, de Murrey e Boretz, primeiro trabalho de assistência de direção de Antunes Filho na companhia.

Bollini é um dos diretores que se envolvem com a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, projeto de Franco Zampari para a sétima arte, que já nesse período anda mal das pernas, filmando Na Senda do Crime, um roteiro policial seu com atuação de Miro Cerni, Cleyde Yáconis e Silvia Fernanda, finalizado graças aos recursos do Banco do Estado de São Paulo, credor da empresa.

Retorna ao teatro em 1954, criando Mortos Sem Sepultura, texto de Sartre sobre a Resistência Francesa e a repressão nazista no período da II Guerra, que soa pesado para público e crítica, resultando num fracasso para o TBC.

Em 1955 está no Rio de Janeiro, dirigindo para Os Artistas Unidos, Diálogo das Carmelitas, de Georges Bernamos, homenagem ao Congresso Eucarístico Internacional, destacando Henriette Morineau à frente de numeroso elenco. No mesmo ano vai ao Recife para encenar Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, para o Teatro de Amadores de Pernambuco, TAP.

Regressa a São Paulo em 1956 a convite de Sandro Polloni para assumir a direção do Teatro Maria Della Costa, TMDC, com o qual realiza três encenações de grande relevo, projetando Maria Della Costa, cabeça da companhia e atriz cuja única aparição no TBC se dera sob sua direção em Ralé. Para ela e Polloni dirige A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca; A Rosa Tatuada, de Tennessee Williams; e Moral em Concordata, de Abílio Pereira de Almeida, com Odete Lara, Jardel Filho e Armando Bógus no elenco.

Retorna em 1957 para a Itália. No ano seguinte, todavia, volta ao TMDC para efetivar sua mais expressiva e surpreendente direção no Brasil: A Alma Boa de Set-Suan, de Bertolt Brecht, primeira encenação profissional do autor alemão entre nós, montagem grandiosa e reveladora das teorias de encenação do teatro épico. O encenador realiza um espetáculo frio, originalmente distanciado, levando os prêmios Saci e Governador do Estado de melhor diretor do ano. É este seu último trabalho no Brasil, já que volta definitivamente para a Itália, onde se dedica pouco ao teatro e cinema, mas fundamentalmente ao rádio e à televisão.

A importância histórica do encenador é fixada pelo crítico Yan Michalski: "De todos os diretores importados por Zampari, Bollini foi provavelmente o que realizou o menor número de espetáculos entre nós. Mas o radicalismo com que implantou novos processos de ensaios no TBC, e o mérito de ter trazido Brecht aos palcos brasileiros, valeram-lhe a reputação de ser, sob alguns aspectos, o mais moderno dos encenadores italianos que na mesma época vieram trabalhar em São Paulo".

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