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Kazuo Ohno

Nomes Alternativos: 大野 一雄

12Número de Fãs

Nascimento: 27 de Outubro de 1906 (103 years)

Falecimento: 1 de Junho de 2010

- Japão

Nascido a 27 de outubro de 1906 em Hokkaido, a ilha do Japão mais a norte do arquipélago, Ohno é filho mais velho de um pescador e de uma mãe a quem era particularmente apegado. Embora dotada de grande sensibilidade artística, a sua mãe teve pouco tempo para desenvolver os seus talentos, dedicando a sua vida a cuidar de 10 crianças. Embora tenha sido, profissionalmente, professor de educação física de profissão, Ohno iniciou as suas aulas de dança ao deslocar-se para Tokyo, no início dos anos 30.

Baptizado em 1931, tornou-se um membro activo da igreja Anabaptista e foi um cristão devoto desde então. Depois de ser mobilizado, em 1938, passou os sete anos seguintes em diferentes frentes de guerra, onde, como capitão no comando de mantimentos, entrou em contacto com a inumanidade e carnificina dos homens quase diariamente. No rescaldo da capitulação japonesa no fim da Guerra do Pacífico, foi internado pelas forças australianas na Nova Guiné. Sobre o seu repatriamento em 1946 resumiu o seu posto como professor de ginástica na Escola Feminina Anabaptista Soshin, em Yokohama, lá permanecendo lá até à sua reforma em 1980.

Paralelamente à sua carreira de professor, Ohno criou uma série de performances que produziram um efeito sísmico no mundo da dança japonês. Durante os anos 60 foi um participante activo no próspero movimento do butoh, colaborando regularmente com Tatsumi Hijikata, outra figura de particular peso na vanguarda japonesa. Foi por esta altura que começou também a dar “workshops abertos” no estúdio de ensaio que construiu com as suas próprias mãos no subúrbio Yokohama de Kamihoshikawa. Em alguns aspectos, Ohno era mais um filósofo do que um professor de dança, e os seus workshops convocavam pessoas com distintos modos de vida. Não era incomum que os alunos se colocassem mais perguntas ao abandonarem a aula do que antes de terem colocado um pé no estúdio.

Curiosamente para um bailarino, a carreira de palco de Ohno apenas levantou voo no fim dos anos 40, altura em que estava já nos seus jovens quarentas – idade em que, nos círculos da dança ocidental, os bailarinos contemplam a reforma. No Japão não é invulgar um artista de dança tradicional continuar a actuar até aos 80. O seu primeiro recital a solo público em Tokyo, em 1949, lançou uma carreira que continuou sem cessar até aos tardios anos 60.

O que se seguiu foi um hiato de 10 anos, vagueando pelo deserto das sortes, período durante o qual passou por uma profunda transformação tanto na sua abordagem à dança como na vida. O seu regresso deu-se em 1977 com a performance Admirando La Argentina, que aliava história privada e episódios fantasmagóricos, numa estrutura inesquecível de grande dor, argúcia e júbilo. Até então Ohno não tinha sido alvo de reconhecimento universal mas, em 1980, quando a apresenta a uma enorme e receptiva audiência no Festival Internacional de Nancy, o mundo é alertado para o estouvado génio de Kazuo Ohno. Foi a primeira de uma série de criações dedicadas àqueles por quem que se sentia em dívida. Como o título sugere, esta peça é uma homenagem a Antonia Mercê y Luque (1890-1936), mais conhecida como La Argentina, provavelmente a bailarina espanhola mais celebrada do século XX, e que Ohno viu actuar em Tokyo, em 1929. Ao mesmo tempo que, e em certa medida, Admirando La Argentina pode ser considerado como um poderoso retrato da sua musa pessoal, é também altamente confessional, e assinala a sua regeneração espiritual depois de quase uma década de deserto.

Detentor de um estilo de movimento raro, gracioso e também enganadoramente simples, Kazuo Ohno perseguia implacavelmente a verdade e expiação nas suas improvisações de palco e nas conversas com os seus alunos dos workshops. As suas performances são famosas pela espontaneidade, humor e qualidades sombrias e, por vezes, até pela frieza da sua intensidade. Ele não exige um espaço vasto, nem propõe a criação de um universo, ele fá-lo simplesmente por permanecer imóvel, nunca parecendo pertencer a um espaço ou tempo particulares. O tempo e espaço ganham vida pela pura força da sua presença. Alguns bailarinos, tal como Ohno, tornam-se tenazes com o medo e a escravidão, a fragilidade, o amor e a falha. Em todas as suas performances, Ohno procura provocar um volte-face emocional no modo como o seu público responde à vida, à morte e aos que os rodeiam. Um princípio central do seu trabalho é a ideia que a dança deve conduzir, de igual modo, o bailarino e o espectador a questionarem-se acerca do modo como conduzem as suas vidas, individual ou coletivamente.

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