Maria Bethânia e Zeca Pagodinho - De Santo Amaro A Xerém

2018

Maria Bethânia e Zeca Pagodinho - De Santo Amaro A Xerém

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salvando

Kitembo, ou Tempo, como é mais conhecido no Brasil, é a divindade congo-angolana do tempo em todas as suas dimensões. O tempo que corre alheio aos homens, o tempo cíclico das estações, o da maturação das sementes e da colheita, o do crescimento das crianças. Kitembo é representado pelo baobá, irôko, gameleira branca: árvores que evocam a permanência, a aglutinação do grupo e a continuidade da vida pela lembrança dos ancestrais. No encontro entre Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, Kitembo é o Samba, elo que liga Santo Amaro, recôncavo baiano de Maria, a Xerém, quintal sonoro de Zeca.

O início desse encontro foi à gravação do CD/DVD “Quintal do Pagodinho”, em 2016. Na ocasião, os dois cantaram “Sonho Meu”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho. A partir de então, a ideia de um trabalho conjunto foi ganhando força e se consumou em 2018, com o espetáculo que lotou casas de shows em algumas capitais no início do ano, foi registrado em CD/DVD nos dias 18 e 19 de maio no Citibank Hall/SP, que estão sendo lançados agora pela gravadora Biscoito Fino, e, pra marcar este lançamento, o show seguirá em uma nova turnê por diversas cidades do país.

O entrosamento entre Bethânia e Zeca passa, em boa medida, pelo amor e respeito com que os dois grandes intérpretes percorrem as veredas musicais que ligam a Bahia ao Rio de Janeiro. As sonoridades baianas que se espraiam pelo recôncavo – entre aboios, sambas de roda, bata de milho e feijão, folias de reis, chulas – abraçam o samba carioca, neto dos tambores do Congo, curtido nos terreiros, gestado nas esquinas do Estácio de Sá, Oswaldo Cruz e Mangueira, e maturado nos quintais suburbanos.

Maria Bethânia passeia soberana pela vastíssima tradição do cancioneiro do Brasil; de Geraldo Pereira a Noel Rosa, de Chico Buarque a Adelino Moreira, de Torquato Neto a Manezinho de Isaías, das serestas ao samba-enredo, da força ancestral de Ivone Lara ao canto contemporâneo de Adriana Calcanhoto e Leandro Fregonesi. Zeca Pagodinho, craque no samba sincopado, formado nos quintais de Irajá e do Cacique de Ramos e bamba nos desafios do partido alto, é também um excepcional cantor dos sambas de roda baianos de Roque Ferreira e Nelson Rufino.

Dividindo algumas faixas, como a inédita “Amaro Xerém”, composta por Caetano Veloso especialmente para o encontro, e “Chão de estrelas”, a seresta seminal de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, ou fazendo seus solos, o que salta da conexão entre Bethânia e Zeca é a incondicional devoção à música brasileira, maior aventura civilizatória das gentes miúdas do Brasil. Ver os dois no palco reforça a impressão de que o fundamento do espetáculo é o de um grande ritual de encantamento da aldeia. O encantado, afinal, é aquele que conseguiu driblar a morte, chamado pelo tambor.

Os baobás, as gameleiras, os jequitibás e as tamarineiras, assentamentos do Samba, guardam e protegem a brasilidade de Bethânia e Zeca, espraiando raízes, galhos e folhas entre Santo Amaro e Xerém. Reverenciada pelo encontro e pelo canto, a música brasileira – totem, cocar de caboclo, cerâmica marajoara, muzenza, ponteio de viola, Surdo Um de Mangueira e Águia da Portela – celebra os ancestrais, firma ponto no presente e aponta as tarefas do amanhã.

Maria Bethânia e Zeca Pagodinho cantam o recado de Tempo, deus das Áfricas e do Brasil.

Estreia Brasil:
2018
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