Nomes Alternativos: Marina Evseevna Goldovskaya
Nascimento: 15 de Julho de 1941 (82 years)
Moscou, Rússia
Quando curiosos e pesquisadores do futuro olharem para trás para um balanço do que foi a experiência soviética e sobretudo de como ela se encerrou, será incontornável –e fascinante - assistirem aos documentários da cineasta russa Marina Goldovskaya. Quando curiosos e pesquisadores do futuro olharem para trás para um balanço do que foi a transição do cinema químico para o digital, será incontornável –e igualmente fascinante- assistirem aos documentários da cineasta russa Marina Goldovskaya.
Apenas uma artista formada pela URSS poderia radiografar, com iguais doses de intimidade e de compreensão social, a decadência e a superação do modelo soviético. Ninguém melhor do que uma intelectual russa para registrar e traduzir para o resto do mundo as mudanças tanto cotidianas quanto institucionais da nova Rússia de Ieltsin e Putin.
Formada pela mítica VGIK, Marina Goldovskaya foi umas das pioneiras mulheres a assumir o trabalho de câmera e a direção de fotografia na produção documental soviética para TV e cinema. Desde sua estreia como operadora de câmera em 1964, com o teledocumentário "Quando O Sol Não se Põe", Marina expandiu progressivamente seu domínio sobre o registro não-ficcional.
Gente sempre esteve ao centro de seu cinema. Pessoas comuns ou personagens famosos. Marina é desses raros cineastas com talento inato para filmá-los e ouvi-los, a um só tempo mergulhando em suas particularidades e extraindo a universalidade de cada experiência humana. Inicialmente concentrada em retratos para a televisão soviética, Marina aos poucos abriu o campo de seu cinema, como que desafiada pelos ventos liberadores da glasnost e da perestroika de Mikhail Gorbatchev. Sua consagração internacional não demorou a acontecer, com obras como "O camponês de Archangelsky" (1986), sobre a cruel coletivização de terras sob Stalin, e "O Regime Solovki" (1987), um dos pioneiros retratos fílmicos da tragédia dos gulags.
A virada dos anos 1980 para os 1990 marca uma dupla transição essencial para o desenvolvimento de sua obra: saem de cena a URSS e o negativo cinematográfico, é a vez de uma nova Rússia e do cinema de suporte eletrônico. Encolhem seu país e sua câmera, mas se alargam os horizontes estéticos de sua obra.
Frente ao fim do mundo que a forjou (a URSS e o cinema de grandes aparatos), um novo senso de liberdade se estabelece em seus filmes. Os documentários de Marina assumem cada vez mais sua subjetividade, tornando-se extensões ou reelaborações de seus diários filmados. "Um gosto de liberdade" (1991), "O espelho estilhaçado" (1992) e "A sorte de nascer na Rússia" (1994) registram o frenesi a um só tempo público e privado da vida em seu país refundado. Assim como a Rússia, Marina é e não é mais a mesma. Dessa instabilidade têm germinado Arte e História com maiúsculas.
Desde que, nos anos 1990, encontrou um novo amor no produtor americano George Herzfeld e uma nova casa como coordenadora do curso de documentário na UCLA, Marina Goldovskaya divide seu tempo entre Los Angeles e Moscou. Nada melhor para celebrar seu 70o aniversário do que a estreia de uma de suas obras mais tocantes, "O sabor amargo da liberdade", um ensaio de múltiplas camadas, do pranto íntimo ao berro cívico, sobre sua amizade com a jornalista investigativa Anna Politkovskaya, assassinada em Moscou em 2006.