Esta adaptação de uma peça de teatro do britânico James Saunders, que no original se intitula “E o que acontece depois disso?”, mostra o cotidiano de um jovem casal composto por um escritor e uma mulher cuja profissão não é explicitada. Ambos vivem em um apartamento moderno, com vestígios de uma vida cotidiana culturalmente “antenada”: há jornais velhos e livros nas estantes e, na parede, um pôster de Masculin, féminin, o filme de Jean Luc Godard. Esta primeira obra de Michael Haneke já aponta uma característica importante de sua marca: ao arranjar “pedaços”, ele sempre visualiza uma totalidade de fragmentos. Na trilha sonora, alguns gestos de “desautoridade” cultural. Ironicamente, por exemplo, Satisfaction surge acompanhada de imagens de um show dos Beatles, como se a performance do superhit dos Rolling Stones não implicasse nenhuma autenticidade digna de maiores reverências. Assim, à maneira de videoclipes, os fragmentos deste relato citam letras de músicas (em sua maioria, dos Beatles) ou frases de escritores e pensadores famosos: Ludwig Wittgenstein, Marshall MacLuhan, Henry Miller. A primeira citação é de Jean-Luc Godard, que parece ter inspirado o diretor estreante: “o filósofo e o cineasta compartilham certa vida – a visão de mundo, que é específica de certa geração”.