Um filme que brinca com referências e críticas ao Cinema Novo brasileiro. Utilizando-se de mesmas técnicas de câmera, enquadros e até da posição das personagens em cena, Trevisan mostra a busca de suas personagens pela cidade, cada um por seus motivos pessoais. E cada personagem é um arquétipo trabalhado pelo cinema nacional até 1970: o caipira, o playboy que larga a vida numa viagem, o indígena, as prostitutas, a travesti, os religiosos, os sobreviventes da violência cotidiana, o escravo, o intelectual, o cangaceiro... E todos são parte de referências à filmes do período: Ganga Zumba, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Como era Gostoso o meu Francês, filmes do Mazaroppi, filmes da pornochanchada. Enfim. Uma gama de personagens que rumam ao seu destino que, inicialmente, é conhecer o Brasil. E o fim da jornada não é o horizonte do mar, onde se encontra futuro e liberdade, mas sim, a alegoria da indústria cinematográfica brasileira. Onde para ser artista de cinema, deve-se ser sucateado.
Dispensa mais comentários sobre a qualidade técnica do filme, com fotografia espetacular, elenco grandioso em atuação e cenas trabalhadas em um naturalismo que nos impacta de todas as maneiras pretendidas. Um ponto forte do qual deve-se prestar a devida atenção na obra são as mulheres que participam. São pouquíssimas, é verdade. Mas todas tem nas personagens significativa presença. Zua/Preta é a mulher forte e emponderada da história. Ainda que goste de Tiradentes, sabe que a coisa mais importante de sua vida é deixar de ser escrava, mesmo que isso signifique medidas extremadas. As outras mulheres não possuem falas (com exceção da cantora, pois, obviamente, canta), porém, elas caracterizam diferentes formas de tratar a mulher durante o período colonial que fogem a simples forma de sexualidade como barganha, apenas. Demonstram suas personalidades e como recebem tal mundo com seus olhos. Sejam elas prostitutas cantoras, escravas, esposas de pequenos fazendeiros ou de fidalgos. Seus espaços são limitados, mas preenchidos por cada uma delas e seus anseios.
Não só uma das melhores obras cinematográficas sobre o histórico nacional, um dos poucos filmes referentes a períodos históricos durante o Cinema Novo. Joaquim Pedro de Andrade e o roteirista Eduardo Escorel trazem um filme poético, com cenas surreais, das quais, a partir dos próprios Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, poemas dos intelectuais envolvidos e do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, narra de forma não cronológica, os acontecimentos que antecederam à condenação de Tiradentes e dos outros envolvidos no plano falho de revolta contra a Coroa Portuguesa. Atuações que condizem à qualidade do filme, fotografia belíssima e bem pensada pelo diretor, cenários e figurinos que aguçam a simbologia que, de forma sutil, é construída meticulosamente para enriquecer a trama e o discurso empregado. É um filme sobre a Inconfidência Mineira, mas também um filme sobre a Ditadura Militar. Produzido durante o Governo Médici, é um dos ÚNICOS filmes com "mensagens subliminares de caráter subversivo" contra a política contemporânea à produção, que foi aprovado pela censura do órgão DCDP (Divisão de Censuras e Diversões Públicas). Causando, até hoje, inquietação perante os estudiosos de cinema e historiadores sobre suas indiretas de extrema crítica contra o governo dos militares, sua opressão e torturas.
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Orgia ou O Homem que Deu Cria
3.7 11Um filme que brinca com referências e críticas ao Cinema Novo brasileiro. Utilizando-se de mesmas técnicas de câmera, enquadros e até da posição das personagens em cena, Trevisan mostra a busca de suas personagens pela cidade, cada um por seus motivos pessoais. E cada personagem é um arquétipo trabalhado pelo cinema nacional até 1970: o caipira, o playboy que larga a vida numa viagem, o indígena, as prostitutas, a travesti, os religiosos, os sobreviventes da violência cotidiana, o escravo, o intelectual, o cangaceiro... E todos são parte de referências à filmes do período: Ganga Zumba, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Como era Gostoso o meu Francês, filmes do Mazaroppi, filmes da pornochanchada. Enfim. Uma gama de personagens que rumam ao seu destino que, inicialmente, é conhecer o Brasil. E o fim da jornada não é o horizonte do mar, onde se encontra futuro e liberdade, mas sim, a alegoria da indústria cinematográfica brasileira. Onde para ser artista de cinema, deve-se ser sucateado.
Joaquim
3.6 71 Assista AgoraDispensa mais comentários sobre a qualidade técnica do filme, com fotografia espetacular, elenco grandioso em atuação e cenas trabalhadas em um naturalismo que nos impacta de todas as maneiras pretendidas.
Um ponto forte do qual deve-se prestar a devida atenção na obra são as mulheres que participam. São pouquíssimas, é verdade. Mas todas tem nas personagens significativa presença. Zua/Preta é a mulher forte e emponderada da história. Ainda que goste de Tiradentes, sabe que a coisa mais importante de sua vida é deixar de ser escrava, mesmo que isso signifique medidas extremadas.
As outras mulheres não possuem falas (com exceção da cantora, pois, obviamente, canta), porém, elas caracterizam diferentes formas de tratar a mulher durante o período colonial que fogem a simples forma de sexualidade como barganha, apenas. Demonstram suas personalidades e como recebem tal mundo com seus olhos. Sejam elas prostitutas cantoras, escravas, esposas de pequenos fazendeiros ou de fidalgos. Seus espaços são limitados, mas preenchidos por cada uma delas e seus anseios.
Os Inconfidentes
3.7 27Não só uma das melhores obras cinematográficas sobre o histórico nacional, um dos poucos filmes referentes a períodos históricos durante o Cinema Novo. Joaquim Pedro de Andrade e o roteirista Eduardo Escorel trazem um filme poético, com cenas surreais, das quais, a partir dos próprios Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, poemas dos intelectuais envolvidos e do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, narra de forma não cronológica, os acontecimentos que antecederam à condenação de Tiradentes e dos outros envolvidos no plano falho de revolta contra a Coroa Portuguesa.
Atuações que condizem à qualidade do filme, fotografia belíssima e bem pensada pelo diretor, cenários e figurinos que aguçam a simbologia que, de forma sutil, é construída meticulosamente para enriquecer a trama e o discurso empregado.
É um filme sobre a Inconfidência Mineira, mas também um filme sobre a Ditadura Militar. Produzido durante o Governo Médici, é um dos ÚNICOS filmes com "mensagens subliminares de caráter subversivo" contra a política contemporânea à produção, que foi aprovado pela censura do órgão DCDP (Divisão de Censuras e Diversões Públicas). Causando, até hoje, inquietação perante os estudiosos de cinema e historiadores sobre suas indiretas de extrema crítica contra o governo dos militares, sua opressão e torturas.