Quatro estrelas para cada momento em que Jerry Seinfeld esteve em cena — um amontoado impecável. A estrela restante, não atribuída, é consequência de todos os minutos (intragáveis) em que Orny Adams protagonizou o documentário.
Ricardo Tiezzi, no vídeo aula intitulado “O processo de criação do roteiro”, nomeia algumas daquelas que seriam as etapas de produção de um roteiro cinematográfico. O professor estabelece questões que, segundo ele, seriam imprescindíveis a uma narrativa audiovisual. Duas delas são, sem sombra de dúvidas, a curva da personagem e a curva da história. Para ele, não haveria sentido em pensar de modo audiovisual uma personagem que fosse estática como em uma fotografia. É necessário, portanto, que a personagem esteja em movimento. Deve haver um ponto a partir do qual a personagem desponta e outro ponto ao qual ela intenta chegar. Uma personagem de uma narrativa audiovisual deve, necessariamente, transformar-se, pôr-se em movimento. De início, num roteiro, tem-se acesso às informações primárias: a personagem tem determinado trejeito, feição e relações. No desenvolvimento da narrativa, torna-se primordial que esses pontos sejam revelados de modo mais profundo - que ganhem uma justificativa para o modo como são, que sejam problematizados naquilo que de fato são ou que, então, sejam questionados nos motivos para serem o que são. Sendo assim, é interessante que a personagem vá sendo descoberta pela narrativa. Em “Culpa”, longa-metragem dinamarquês de 2018, relata-se a história de um policial que, provisoriamente, trabalha no atendimento de ligações emergenciais. No decorrer de um dia que aparenta ser corriqueiro, Asger recebe uma ligação que o transtorna. A voz do outro lado da linha é de uma mulher que tenta comunicar seu sequestro de modo indireto, a fim de que o sequestrador não descubra a denúncia feita por ela. Dessa forma, a narrativa acompanha Asger enquanto ele ajuda a vítima Iben a dar fim à situação angustiosa pela qual ela passa. No entanto, as surpresas de um roteiro bem estruturado faz com que seja possível que o crime a princípio apresentado ao espectador se torne a cada minuto mais imprevisto. O interessante a respeito desse thriller, quando alinhado aos ensinamentos do professor Tiezzi, é como a história se compromete com a transformação de suas personagens. Evidentemente que, em razão do gênero cinematográfico, há um “plot twist”, uma reviravolta na trama. No entanto, aqui se fazem presentes as ideias de Tiezzi de modo bastante conveniente: a curva da personagem, nas palavras de Tiezzi, a sua transformação, é justamente a sua jornada. Neste longa, em especial, acompanhamos a duas jornadas: a do policial Asger e, concomitantemente, a da sequestrada Iben. A curva que acompanha a personagem Iben é descoberta a partir do desenvolvimento do enredo – ela existe, mas a desconhecemos. Não é, precisamente, uma mudança – é um descobrimento. Isso faz com que não a personagem se altere, mas sim a perspectiva com que nós, espectadores, passamos a confrontá-la. Uma outra mudança, dessa vez uma que incide à personagem em si, é a do policial Asger. No início do enredo, percebemos que Asger tem ele próprio problemas a solucionar – um conflito ético no trabalho – e que assume uma determina atitude em relação ao fato. Quando o longa chega ao fim, o policial continua tendo de solucionar o mesmo conflito, dessa vez sob a influência de um ponto de vista completamente distinto. É, por conseguinte, durante o enredo que Asger se transforma. Não é, como no caso de Iben, uma transformação pelo descobrimento de uma parte velada do enredo, mas sim uma transformação a que se chega a partir do enredo, isto é, dos acontecimentos aos quais a personagem é submetida. Em relação à essa mudança, interessa ainda pensar no que Tiezzi afirma a respeito do que seria a pressão da personagem. De acordo com ele, é essa a ideia que vale a pena ao roteirista capturar. Quando se coloca determinada pressão na personagem – isto é, quando sucedem eventos que a desestruturam, que abalam as noções que ela traz da própria vida, que a submetem ao estresse – em seguida, acontece uma mudança na personagem, proporcional mesmo ao nível de pressão a que ela foi colocado. Sendo assim, se a personagem vive uma situação que envolve um grau extremo de pressão, é esperado que, nas cenas seguintes, sobressaia nela uma percepção de mundo diferente da que ela mantinha anteriormente. Isso, segundo Tiezzi, corresponde não a simplesmente contar uma história, mas sim a contar uma personagem. Aparenta ser, justamente, o que faz o filme “Culpa” no momento em que o enredo faz com que as vidas de Asger e Iben se entrelacem. A curva da personagem Iben é a que torna o filme classificável como um thriller, uma vez que a resolução do conflito na trama surpreende em demasiado o espectador. No entanto, o roteiro se preocupa também em tornar vívida a trajetória de mudança da personagem protagonista, Asger. A pressão a que a personagem é submetida – passar a conhecer e ajudar a salvar a existência de uma mulher que errou, mas que não é um ser humano a quem não se deve direcionar uma espécie de clemência em consequência disso – é o que faz com que a personagem consiga ela mesma entender que merece semelhante tratamento. Asger também errou e, no instante em que salva Iben daquilo que seria a sua
, Asger pôde ele próprio transformar a perspectiva em relação a qual enxergava seus próprios problemas e sua própria vida. Mais que uma história, o enredo a que se faz referência agora é absolutamente impecável no comprometimento com que retrata uma personagem – e com que nos apresenta a sua história de redenção.
Este filme é definitivamente uma obra de arte. Ao menos eu o senti assim – em toda a sua potência, minuto após minuto. Fazia já algum tempo desde que um filme me comovia de maneira tão desestabilizadora. Sobretudo, o cenário que finda a história, comum a todos nós - uma eventualidade com a qual não seria possível de não nos identificarmos ainda que parcialmente.
Os minutos em que o personagem se aconchega diante do fogo, encara-o, por vezes deixa escorregar uma lágrima e noutras parece quase capaz de esboçar um sorriso, é para mim o ápice do filme. O crepitar do fogo, as chamas a simbolizarem a sugestão do finito que é intrínseco a absolutamente tudo aquilo que vivemos e até a nós mesmos, e o modo como o olhar de Elio se compromete a analisá-lo, a ponderar diante dele, enquanto provavelmente suas lembranças mais delineadas lhe abraçam o espírito... em seguida, o plano de fundo, a mãe e sua ajudante de casa no preparo da mesa de jantar – ouve-se o som dos talheres que se chocam aos pratos, vê-se o movimento das mulheres a perambular pela sala: um cenário a representar de maneira plena a ideia de que a vida, ainda que não saibamos como, ou ainda que não compreendamos o porquê, modifica-se, mas continua em todas as vezes. Por fim, quando a mãe o chama, quando seu nome é pronunciado em voz alta – pela vida, pela urgência que tem-se de seguir adiante – o personagem se vira, curva o semblante em direção à mãe, parece assentir: está, enfim, de acordo com a necessidade de continuidade da vida que o convoca.
Já faz muito tempo desde que eu escrevi algum comentário sobre qualquer filme que seja aqui no filmow. E é ainda em meio a pensamentos nebulosos, nada evidentes, que eu dou início a essa redação. “Stalker”, no entanto, me despe as vergonhas, todos os possíveis constrangimentos. Ele pede para ser referenciado. Exige de mim uma tentativa de organização, uma reação que seja.
A ideia de ver absolutamente todos os nossos desejos se tornarem concretos é bastante tentadora. Afinal, a vida se desenrola a partir desse propósito primário: o de tornar plausível a felicidade. Ainda que seja, é interessante observar o que procedeu àqueles que adentraram ao quarto. Que tipo de vida tiveram eles, após o evento? Ou melhor, haveria vida após o evento? Há vida possível na ausência do desejo? Existe perspectiva externa à ideia de que a nossa existência mesma se configura em um movimento desejante?
Para mim, poético que se tem convicção de ser o cinema de Tarkovski, o poema final diz muito. Diz mesmo tudo, quiçá. O mais poderoso dos encantos, o fulgor de maior significado, é o desejo. É ele quem mantém ardente a flama da vida. O quarto não foi, não é e nunca será a resolução adequada àquilo que somos.
Tola se resultaria minha tentativa de avaliar a excepcionalidade do desfecho... formidável! Ambas as personagens nos proporcionaram o flagrar de peculiaridades fascinantes próprias ao amor.
Muriel, ao tomar noção de que seu afeto era de fato por aquilo que constituía Claude como sujeito, direciona respeito completo ao que era o amado, sequer considerando, portanto, a possibilidade de transformar o aspecto de algum de seus modos - garantiu, assim, a manutenção de seu sentimento, ainda que concomitantemente de seu pesar. Claude, por sua vez, ao padecer, sem jamais cessar de procurar ao entorno por Muriel, embora de maneira inteiramente desesperançosa...
belo, enfim! Deixou-me com as emoções à flor da pele.
Li alguns comentários que se referiam ao Travis e personagens similares como a manifestação de um "lado obscuro do ser humano". A sensação que o filme me trouxe foi absolutamente adversa, levando em consideração a ideia peculiar que o enredo me pareceu abranger e a concepção de psicopatia com a qual me adequei melhor em vida. Penso que, na verdade, suas atitudes explosivas, interpretadas por ele próprio como vindas de alguém que não mais estava disposto a simplesmente suportar o que percebia inadequado, evidenciam da parte dele grande humanidade. Agrada-me bastante quando a arte abarca aquilo que é aparentemente incompreensível, distante da normalidade na qual tivemos moldados nossos pensamentos, tais como os assim rotulados assassinos, e nos coloca frente a um ponto de vista a respeito que até então não fora remexido. Percebe como a aparente loucura de Travis é, na verdade, bastante lúcida? Não o tenho como uma personagem desumana. Aqui, parece-me seu caráter quiçá visto como insano, entre os demais captados através do filme, o mais civilizado.
Quiçá seja a recepção comum do filme a que remete a um sentimento de perturbação, incômodo, surpresa e até mesmo raiva. Passível de compreensão. No entanto, enquanto os créditos corriam pela tela, me percebi triste. Vesti a pele da personagem e a desolação que me alcançou foi incalculável.
Em minha concepção, a recusa da medicação carrega a genialidade do desfecho. Embora doente, Angélique acreditava ser simplesmente apaixonada. A patologia em seu interior afastou a percepção de sua própria condição, o que fez por retratar ainda melhor o quadro da erotomania. Acredito que o enredo não se faria tão plausível caso a paciente, de maneira pacífica, respondesse sim à medicação.
De qualquer forma, deixo aqui minha tentativa de consolo à Angélique. Deixo junto toda minha compaixão. Particularmente, ela conquistou um espaço maior que o destinado aos personagens de filmes que abandonamos no minuto exato em que terminam. Angélique despertou, de modo sincero, uma humanidade qualquer que eu tenha em mim, de modo que por ela compadeço.
Percebi, ao concluir o filme, como tive meus sentimentos manipulados pelo diretor. Num momento, lá estou eu me sentindo indignada pelos atos da personagem; noutro, sou toda compaixão por ela. Por fim, meio a esta amálgama de sensações, dei-me conta da sensibilidade adorável do enredo. Encantador!
Vi tanto de mim em Jenny! Suponho que por conta disso tenha me alegrado o desfecho feliz dado ao enredo. O sorriso apagado, que tempos depois ela foi capaz de recuperar, é o que eu ainda procuro fazer renascer em mim. Adorável película!
Eu era ainda menina e fui apresentada ao horror através deste. Talvez, por conta da idade, eu estivesse num estado mais impressionável que aquele em que hoje me encontro; ainda assim, excêntrica e fascinante introdução ao gênero! A Casa de Cera foi eternizado em minha memória.
Existe, em minha concepção, uma beleza sem tamanho no que é instintivo, impulsivo. No caso, as masturbações, as discussões, os diálogos casuais, as lágrimas e principalmente o
quando, após apagada a luz, o casal acende outra vez o abajur e procura na estante por títulos de livros que expressem o que desejam dizer um ao outro.
Bastidores da Comédia
3.6 14Quatro estrelas para cada momento em que Jerry Seinfeld esteve em cena — um amontoado impecável. A estrela restante, não atribuída, é consequência de todos os minutos (intragáveis) em que Orny Adams protagonizou o documentário.
Quarto 666
3.9 33 Assista Agora"No, I prefer to speak Italian. It's easier for me." <3
Um Senhor Estagiário
3.9 1,2K Assista AgoraMuito improvável que eu não gostasse de um filme cujo elenco incluísse Robert De Niro e Anne Hathaway.
Culpa
3.9 355 Assista AgoraRicardo Tiezzi, no vídeo aula intitulado “O processo de criação do roteiro”, nomeia algumas daquelas que seriam as etapas de produção de um roteiro cinematográfico. O professor estabelece questões que, segundo ele, seriam imprescindíveis a uma narrativa audiovisual. Duas delas são, sem sombra de dúvidas, a curva da personagem e a curva da história. Para ele, não haveria sentido em pensar de modo audiovisual uma personagem que fosse estática como em uma fotografia. É necessário, portanto, que a personagem esteja em movimento. Deve haver um ponto a partir do qual a personagem desponta e outro ponto ao qual ela intenta chegar. Uma personagem de uma narrativa audiovisual deve, necessariamente, transformar-se, pôr-se em movimento. De início, num roteiro, tem-se acesso às informações primárias: a personagem tem determinado trejeito, feição e relações. No desenvolvimento da narrativa, torna-se primordial que esses pontos sejam revelados de modo mais profundo - que ganhem uma justificativa para o modo como são, que sejam problematizados naquilo que de fato são ou que, então, sejam questionados nos motivos para serem o que são. Sendo assim, é interessante que a personagem vá sendo descoberta pela narrativa.
Em “Culpa”, longa-metragem dinamarquês de 2018, relata-se a história de um policial que, provisoriamente, trabalha no atendimento de ligações emergenciais. No decorrer de um dia que aparenta ser corriqueiro, Asger recebe uma ligação que o transtorna. A voz do outro lado da linha é de uma mulher que tenta comunicar seu sequestro de modo indireto, a fim de que o sequestrador não descubra a denúncia feita por ela. Dessa forma, a narrativa acompanha Asger enquanto ele ajuda a vítima Iben a dar fim à situação angustiosa pela qual ela passa. No entanto, as surpresas de um roteiro bem estruturado faz com que seja possível que o crime a princípio apresentado ao espectador se torne a cada minuto mais imprevisto.
O interessante a respeito desse thriller, quando alinhado aos ensinamentos do professor Tiezzi, é como a história se compromete com a transformação de suas personagens. Evidentemente que, em razão do gênero cinematográfico, há um “plot twist”, uma reviravolta na trama. No entanto, aqui se fazem presentes as ideias de Tiezzi de modo bastante conveniente: a curva da personagem, nas palavras de Tiezzi, a sua transformação, é justamente a sua jornada. Neste longa, em especial, acompanhamos a duas jornadas: a do policial Asger e, concomitantemente, a da sequestrada Iben. A curva que acompanha a personagem Iben é descoberta a partir do desenvolvimento do enredo – ela existe, mas a desconhecemos. Não é, precisamente, uma mudança – é um descobrimento. Isso faz com que não a personagem se altere, mas sim a perspectiva com que nós, espectadores, passamos a confrontá-la. Uma outra mudança, dessa vez uma que incide à personagem em si, é a do policial Asger. No início do enredo, percebemos que Asger tem ele próprio problemas a solucionar – um conflito ético no trabalho – e que assume uma determina atitude em relação ao fato. Quando o longa chega ao fim, o policial continua tendo de solucionar o mesmo conflito, dessa vez sob a influência de um ponto de vista completamente distinto. É, por conseguinte, durante o enredo que Asger se transforma. Não é, como no caso de Iben, uma transformação pelo descobrimento de uma parte velada do enredo, mas sim uma transformação a que se chega a partir do enredo, isto é, dos acontecimentos aos quais a personagem é submetida.
Em relação à essa mudança, interessa ainda pensar no que Tiezzi afirma a respeito do que seria a pressão da personagem. De acordo com ele, é essa a ideia que vale a pena ao roteirista capturar. Quando se coloca determinada pressão na personagem – isto é, quando sucedem eventos que a desestruturam, que abalam as noções que ela traz da própria vida, que a submetem ao estresse – em seguida, acontece uma mudança na personagem, proporcional mesmo ao nível de pressão a que ela foi colocado. Sendo assim, se a personagem vive uma situação que envolve um grau extremo de pressão, é esperado que, nas cenas seguintes, sobressaia nela uma percepção de mundo diferente da que ela mantinha anteriormente. Isso, segundo Tiezzi, corresponde não a simplesmente contar uma história, mas sim a contar uma personagem.
Aparenta ser, justamente, o que faz o filme “Culpa” no momento em que o enredo faz com que as vidas de Asger e Iben se entrelacem. A curva da personagem Iben é a que torna o filme classificável como um thriller, uma vez que a resolução do conflito na trama surpreende em demasiado o espectador. No entanto, o roteiro se preocupa também em tornar vívida a trajetória de mudança da personagem protagonista, Asger. A pressão a que a personagem é submetida – passar a conhecer e ajudar a salvar a existência de uma mulher que errou, mas que não é um ser humano a quem não se deve direcionar uma espécie de clemência em consequência disso – é o que faz com que a personagem consiga ela mesma entender que merece semelhante tratamento. Asger também errou e, no instante em que salva Iben daquilo que seria a sua
tentativa de suicídio
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraEste filme é definitivamente uma obra de arte. Ao menos eu o senti assim – em toda a sua potência, minuto após minuto. Fazia já algum tempo desde que um filme me comovia de maneira tão desestabilizadora. Sobretudo, o cenário que finda a história, comum a todos nós - uma eventualidade com a qual não seria possível de não nos identificarmos ainda que parcialmente.
Os minutos em que o personagem se aconchega diante do fogo, encara-o, por vezes deixa escorregar uma lágrima e noutras parece quase capaz de esboçar um sorriso, é para mim o ápice do filme. O crepitar do fogo, as chamas a simbolizarem a sugestão do finito que é intrínseco a absolutamente tudo aquilo que vivemos e até a nós mesmos, e o modo como o olhar de Elio se compromete a analisá-lo, a ponderar diante dele, enquanto provavelmente suas lembranças mais delineadas lhe abraçam o espírito... em seguida, o plano de fundo, a mãe e sua ajudante de casa no preparo da mesa de jantar – ouve-se o som dos talheres que se chocam aos pratos, vê-se o movimento das mulheres a perambular pela sala: um cenário a representar de maneira plena a ideia de que a vida, ainda que não saibamos como, ou ainda que não compreendamos o porquê, modifica-se, mas continua em todas as vezes. Por fim, quando a mãe o chama, quando seu nome é pronunciado em voz alta – pela vida, pela urgência que tem-se de seguir adiante – o personagem se vira, curva o semblante em direção à mãe, parece assentir: está, enfim, de acordo com a necessidade de continuidade da vida que o convoca.
Stalker
4.3 503 Assista AgoraJá faz muito tempo desde que eu escrevi algum comentário sobre qualquer filme que seja aqui no filmow. E é ainda em meio a pensamentos nebulosos, nada evidentes, que eu dou início a essa redação. “Stalker”, no entanto, me despe as vergonhas, todos os possíveis constrangimentos. Ele pede para ser referenciado. Exige de mim uma tentativa de organização, uma reação que seja.
A ideia de ver absolutamente todos os nossos desejos se tornarem concretos é bastante tentadora. Afinal, a vida se desenrola a partir desse propósito primário: o de tornar plausível a felicidade. Ainda que seja, é interessante observar o que procedeu àqueles que adentraram ao quarto. Que tipo de vida tiveram eles, após o evento? Ou melhor, haveria vida após o evento? Há vida possível na ausência do desejo? Existe perspectiva externa à ideia de que a nossa existência mesma se configura em um movimento desejante?
Para mim, poético que se tem convicção de ser o cinema de Tarkovski, o poema final diz muito. Diz mesmo tudo, quiçá. O mais poderoso dos encantos, o fulgor de maior significado, é o desejo. É ele quem mantém ardente a flama da vida. O quarto não foi, não é e nunca será a resolução adequada àquilo que somos.
Duas Inglesas e o Amor
4.0 33 Assista AgoraTola se resultaria minha tentativa de avaliar a excepcionalidade do desfecho... formidável! Ambas as personagens nos proporcionaram o flagrar de peculiaridades fascinantes próprias ao amor.
Muriel, ao tomar noção de que seu afeto era de fato por aquilo que constituía Claude como sujeito, direciona respeito completo ao que era o amado, sequer considerando, portanto, a possibilidade de transformar o aspecto de algum de seus modos - garantiu, assim, a manutenção de seu sentimento, ainda que concomitantemente de seu pesar. Claude, por sua vez, ao padecer, sem jamais cessar de procurar ao entorno por Muriel, embora de maneira inteiramente desesperançosa...
Taxi Driver
4.2 2,6K Assista AgoraLi alguns comentários que se referiam ao Travis e personagens similares como a manifestação de um "lado obscuro do ser humano". A sensação que o filme me trouxe foi absolutamente adversa, levando em consideração a ideia peculiar que o enredo me pareceu abranger e a concepção de psicopatia com a qual me adequei melhor em vida. Penso que, na verdade, suas atitudes explosivas, interpretadas por ele próprio como vindas de alguém que não mais estava disposto a simplesmente suportar o que percebia inadequado, evidenciam da parte dele grande humanidade.
Agrada-me bastante quando a arte abarca aquilo que é aparentemente incompreensível, distante da normalidade na qual tivemos moldados nossos pensamentos, tais como os assim rotulados assassinos, e nos coloca frente a um ponto de vista a respeito que até então não fora remexido. Percebe como a aparente loucura de Travis é, na verdade, bastante lúcida? Não o tenho como uma personagem desumana. Aqui, parece-me seu caráter quiçá visto como insano, entre os demais captados através do filme, o mais civilizado.
Bem Me Quer, Mal Me Quer
4.0 522Quiçá seja a recepção comum do filme a que remete a um sentimento de perturbação, incômodo, surpresa e até mesmo raiva. Passível de compreensão. No entanto, enquanto os créditos corriam pela tela, me percebi triste. Vesti a pele da personagem e a desolação que me alcançou foi incalculável.
Em minha concepção, a recusa da medicação carrega a genialidade do desfecho. Embora doente, Angélique acreditava ser simplesmente apaixonada. A patologia em seu interior afastou a percepção de sua própria condição, o que fez por retratar ainda melhor o quadro da erotomania. Acredito que o enredo não se faria tão plausível caso a paciente, de maneira pacífica, respondesse sim à medicação.
De qualquer forma, deixo aqui minha tentativa de consolo à Angélique. Deixo junto toda minha compaixão. Particularmente, ela conquistou um espaço maior que o destinado aos personagens de filmes que abandonamos no minuto exato em que terminam. Angélique despertou, de modo sincero, uma humanidade qualquer que eu tenha em mim, de modo que por ela compadeço.
A Criada
3.8 104 Assista AgoraPercebi, ao concluir o filme, como tive meus sentimentos manipulados pelo diretor. Num momento, lá estou eu me sentindo indignada pelos atos da personagem; noutro, sou toda compaixão por ela. Por fim, meio a esta amálgama de sensações, dei-me conta da sensibilidade adorável do enredo. Encantador!
Educação
3.8 1,2K Assista AgoraVi tanto de mim em Jenny! Suponho que por conta disso tenha me alegrado o desfecho feliz dado ao enredo. O sorriso apagado, que tempos depois ela foi capaz de recuperar, é o que eu ainda procuro fazer renascer em mim. Adorável película!
A Delicadeza do Amor
3.9 920 Assista AgoraO monólogo final do personagem já vale por toda a película. Poesia pura!
A Casa de Cera
3.1 2,1K Assista AgoraEu era ainda menina e fui apresentada ao horror através deste. Talvez, por conta da idade, eu estivesse num estado mais impressionável que aquele em que hoje me encontro; ainda assim, excêntrica e fascinante introdução ao gênero! A Casa de Cera foi eternizado em minha memória.
E Sua Mãe Também
4.0 519Existe, em minha concepção, uma beleza sem tamanho no que é instintivo, impulsivo. No caso, as masturbações, as discussões, os diálogos casuais, as lágrimas e principalmente o
sexo final entre os personagens.
Chevolution - A História da Fotografia Mais Reproduzida do Mundo
3.9 16Alguém tem link para download?
Uma Mulher é Uma Mulher
4.1 267Me agradou bastante a peculiaridade de algumas cenas. Por exemplo,
quando, após apagada a luz, o casal acende outra vez o abajur e procura na estante por títulos de livros que expressem o que desejam dizer um ao outro.
Beautiful Kate
3.5 22Linda a cena do
incesto.
"Apenas finja que sou outra pessoa, Ned."
Fiquei bastante emocionada.
Closer: Perto Demais
3.9 3,3K Assista AgoraOs diálogos, os sentimentos, os aspectos doentios dos personagens; senti esse filme todo de uma forma profundamente intensa...
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraTive meus pensamentos e sentimentos traduzidos...